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"O problema não é ter condições para novos negócios. É mantê-los cá"

O Economia ao Minuto falou com o presidente da APDC para tentar perceber como está o setor da comunicação em Portugal. Em entrevista exclusiva, Rogério Carapuça fala do sucesso dos empreendedores portugueses e explica as falhas do mercado nacional.

"O problema não é ter condições para novos negócios. É mantê-los cá"
Notícias ao Minuto

08:35 - 16/10/16 por Bruno Mourão

Economia Rogério Carapuça

Rogério Carapuça é um dos nomes mais conhecidos da tecnologia e comunicação em Portugal. Enquanto fundador e chairman, ajudou a construir um dos grandes nomes do setor, a Novabase, mas hoje em dia desempenha as funções de presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC). 

Foi como representante da APDC que Rogério Carapuça falou em exclusivo ao Economia ao Minuto, numa entrevista onde mencionou os empreendedores portugueses, as dificuldades em criar uma empresa e em mantê-la no nosso país e os Business Excellence Forum & Awards (BEFA), onde irá discursar sobre as 'dores de crescimento' das PME. 

Numa situação ainda complicada para a economia portuguesa, existem condições para nascerem novos negócios de sucesso em Portugal?  

Sim. A realidade demonstra-o todos os dias. São inúmeras as startups que nascem em Portugal. O nosso problema não é ter um conjunto de condições necessárias para lançar novos negócios. O nosso problema é mantê-los cá quando crescem. Faltam-nos muitas das componentes de um verdadeiro ecossistema de inovação e muitas empresas que nascem em Portugal e têm sucesso ao fim de algum tempo mudam a suas sedes para fora de Portugal e muitas das suas atividades seguem o mesmo caminho. O que é difícil é que as empresas nascidas em Portugal continuem a gerar emprego e a gerar crescimento na nossa economia. 

Como caracteriza a nova geração de empreendedores nacionais, que já criaram várias empresas de destaque?  

Hoje o país tem uma nova geração de empreendedores, extremamente enérgica, bem preparada como nunca tivemos, muito internacional no seu pensamento e ação. O nosso sistema de ensino superior é bom (nalgumas áreas estamos mesmo em linha com grandes escolas internacionais). Hoje cerca de um terço dos jovens completa uma licenciatura pelo menos. Temos um bom conjunto destes jovens que opta por criar as suas empresas. 

As oportunidades existentes no mercado são maiores ou menores do que há 20/30 anos?  

Não se trata apenas de olhar para as oportunidades mas também para a preparação que temos para agarrar as oportunidades que surgem! Não só as recentes evoluções tecnológicas criam muito mais oportunidades do que nunca, como a preparação dos nossos jovens é maior do que nunca. Não é assim para toda a população activa, cuja média de qualificações ainda é mais baixa do que o desejável, mas para os mais jovens é claramente assim. 

Há condições para fazer de Portugal um dos principais mercados de inovação em todo o mundo? 

Não estão reunidas todas as condições para isso. Já vimos que do ponto de vista das qualificações e da capacidade dos nossos empreendedores estamos a convergir para um cenário bom e também existem algumas estruturas de apoio ao processo de incubação de novas empresas. Contudo o nosso ecossistema de inovação perde em concorrência com outros rivais em temas como custos de contexto, falta de investidores de capital de risco com ligações aos grandes interesses de negócio que existem pelo mundo, faltam incentivos de apoio ao crescimento das start-ups em Portugal. Temos uma fiscalidade muito elevada e sempre em alteração, etc. Assim, mal as novas start-ups provam que o seu modelo de negócio é viável e procuram investidores internacionais, torna-se praticamente inevitável que elas desloquem a sua sede e também muitas das suas operações para fora de Portugal. Basta ver que a generalidade das start-ups portuguesas que já conseguiram levantar fundos substanciais para o seu desenvolvimento optou por levar as suas sedes para fora de Portugal.  

Como é que a crise financeira do país tem afetado a atividade das empresas de comunicação? Tem notado uma melhoria do mercado nos últimos quatro anos? 

No meu ponto de observação, como presidente da APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações) para fazermos uma análise do que se está a passar no setor teremos de o analisar nos seus quatro subsetores relevantes, pois os temas são diferentes em cada um deles. Assim, no caso dos operadores de telecomunicações, observamos uma consistente queda de receitas nos últimos sete, oito anos. As empresas portuguesas a operar neste espaço são muito competitivas quando comparadas com as suas congéneres de outros países mas a situação de quebra de receitas é muito semelhante em toda a Europa em contraste com o que acontece noutras regiões do mundo.  Por exemplo, nos EUA a capitalização bolsista (valor das empresas) do conjunto dos operadores de telecomunicações mais do que duplicou em dez anos, ao passo que na Europa permaneceu idêntica. No caso das empresas de media, a quebra de receitas de publicidade caiu cerca de 40% nos últimos sete anos o que criou enormes dificuldades a este subsetor. No caso do subsetor postal tivemos uma boa noticia, a privatização em bolsa com sucesso do operador histórico (CTT). Esse subsetor encerra também grandes desafios e oportunidades uma vez que o mercado está em transformação profunda. No caso das empresas de tecnologias de informação, muito dependentes da disponibilidade de recursos humanos qualificados, um tema muito crítico é conseguir encontrar e reter esses recursos em Portugal versus outros países com mais mercado, onde as condições salariais e fiscais são muito mais interessantes para esses profissionais que são muito disputados.   

Acredita que os BEFA são uma boa oportunidade para os empresários portugueses aprenderem com figuras de sucesso em Portugal e no estrangeiro? 

Celebrar sucessos e comportamentos não é um ponto forte da cultura empresarial portuguesa. É, no entanto, muito importante para sublinhar os caminhos mais correctos em todas os setores da atividade económica. Para mostrar exemplos. Para celebrar o sucesso de outros. O sucesso deve ser acarinhado e divulgado. Um evento como este é também uma excelente oportunidade para conhecer novas pessoas, aprender com elas, e reforçar o nosso networking que é tão importante para os negócios.

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