O texto é mais de defesa do que de opinião. Em causa a forma como o seu ensaio, ‘Eurocrise: Uma Outra Perspetiva’, publicado no Observador no início do mês, foi recebido pelos entendidos e pela opinião pública no geral.
Vítor Bento diz-se “surpreendido” pela forma como o texto foi recebido, mais precisamente pelo impacto que teve – o texto já tinha sido apresentado em janeiro – e pelas interpretações que dele foram feitas.
“Interpretações nas quais não me revejo. Eu sei que qualquer texto é suscetível de diversas interpretações (…) mas também sei que é razoável esperar que a hermenêutica de um texto procure no pensamento conhecido do autor a chave para a interpretação mais autêntica”, explica.
O Conselheiro de Estado esclarece então que o texto em causa é “sobre a zona euro como um todo e não sobre Portugal”.
“E o que escrevi sobre a zona euro, não é contraditório com o que tenho dito e escrito sobre Portugal. Portugal fez o que tinha a fazer. Tendo-se deparado coma ameaça da bancarrota (…) não tinha alternativa senão empreender um exigente programa de ajustamento da sua economia”, sublinha.
Nesta senda, Vítor Bento lembra que sempre avisou que o “ajustamento seria mais duro, demorado e incompleto” e que “seria necessário que os demais países da zona euro contribuíssem para o ajustamento geral e equilibrado”. No entanto, frisa, “foi esta parte que faltou e, por isso, o ajustamento foi mais duro para os países que chamei de deficitários e acabou por ser desnecessariamente recessivo para toda a zona euro”.
Tendo em conta o caminho que Portugal percorreu desde que assinou o memorando com a troika, em 2011, o economista conclui que “Portugal, porque fez o que tinha que fazer, tem agora uma legitimidade acrescida para pôr em cima da mesa a exigência de que os outros façam a parte deles”.