"Na prática quem trouxe o negócio a Ricardo Salgado fui eu", afirmou hoje Hélder Bataglia na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), acrescentando que havia um "interesse estratégico" de Angola na compra da ESCOM.
A venda da ESCOM, empresa do GES que geria os ativos não financeiros em Angola, foi noticiada por diversas vezes como estando em curso, sendo a Sonangol a entidade que iria fazer a aquisição, através da empresa Newbrook. O negócio acabou por não avançar, apesar de ter sido pago um sinal, que segundo Álvaro Sobrinho, na altura presidente do BES Angola e que estaria ligado à Newbrook, terá sido de 85 milhões de dólares. Esse sinal, disse hoje o presidente da ESCOM, foi recebido pela ES Resources.
Quanto questionado pela deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua sobre "quem ficou a arder com o dinheiro", o presidente da ESCOM respondeu: "Álvaro Sobrinho não podia ficar a arder, porque não era parte do negócio", mas um facilitador.
"Em determinado momento, o GES queria cumprir a operação até ao final do ano. Era um timing apertado. E o veículo encontrado foi aquele", disse. Anteriormente na audição, o presidente da ESCOM já tinha dito que Álvaro Sobrinho estava interessado em que o negócio se realizasse.
Recordando que havia alguma confusão com o negócio, com o GES a dizer que a ESCOM já tinha sido vendida e com as empresas angolanas a negarem, Hélder Bataglia admitiu que "houve mau entendimento", mas que Ricardo Salgado sempre disse que o negócio ia ser feito.
Hélder Bataglia, que fundou com o GES o grupo ESCOM, foi ouvido numa audição com apenas uma ronda de perguntas dos parlamentares, e que acabou pelas 19:15. Em cima da mesa estiveram principalmente o negócio dos submarinos (a ESCOM foi consultora do German Submarine Consorcium, ao qual o Estado português adjudicou o concurso para dois submarinos, com custos superiores a 800 milhões de euros, mas com contrapartidas previstas, pelo menos, de 100%) e a venda da ESCOM.
A comissão de inquérito arrancou a 17 de novembro passado e tem um prazo total de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado.
Os trabalhos dos parlamentares têm por intuito "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos, e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades".