A Menzies (antiga Groundforce) perdeu o concurso para a renovação das licenças de assistência nos três aeroportos do continente Lisboa, Porto e Faro e já anunciou que vai contestar os resultados. Afinal, o que está em causa?
Segundo avançaram vários meios de comunicação, o júri do concurso terá escolhido um consórcio espanhol que junta a Clece e a South.
Mais tarde, a agência Lusa noticiou que o júri do concurso para assistência em escala ('handling') nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro considerou que a proposta do consórcio Clece/South faz uma melhor afetação de meios humanos e materiais do que a da Menzies.
No relatório preliminar, a que a Lusa teve acesso, o júri liderado por Sofia Simões deu uma classificação de 95,2523 ao agrupamento Clece/South, do universo Iberia, tendo a Menzies (antiga Groundforce) terminado com uma classificação de 93,0526.
A Menzies Aviation disse que "foi ontem [quarta-feira] formalmente notificada dos resultados do relatório preliminar emitido pela Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) relativamente ao concurso para a renovação das licenças de atividade nos três aeroportos do continente português -- Lisboa (LIS), Porto (OPO) e Faro (FAO)", disse a empresa.
"A Menzies lamenta este resultado e não concorda com a classificação atribuída", assegurou, indicando que acredita que a sua proposta "apresenta excelência operacional comprovada, continuidade e uma força de trabalho plenamente qualificada, composta por mais de 3.500 colaboradores que, de forma consistente, têm prestado serviços de elevada segurança e qualidade aos clientes e à comunidade".
A empresa lembrou que, desde a aquisição da SPdH (antiga Groundforce) pela Menzies Aviation, em 2024, "a empresa tem mantido um forte desempenho operacional, elevados padrões de conformidade e relações laborais construtivas, sustentadas por um Acordo de Empresa que protege os direitos dos colaboradores e assegura a estabilidade dos serviços".
O grupo acredita que a sua proposta "representa o melhor valor global e o menor risco para a ANAC e para o público em geral".
"Com base na análise efetuada às outras propostas apresentadas, consideramos que existem múltiplos fundamentos objetivos e técnicos para contestar o relatório preliminar da ANAC, conforme os prazos estabelecidos pelo procedimento concursal", salientou.
Menzies está preocupada com a decisão
A Menzies disse ainda que está preocupada com a possibilidade de que esta decisão "possa causar perturbações operacionais significativas e incerteza para milhares de colaboradores, clientes e prejudique a estabilidade do setor".
Irá, por isso, "iniciar de imediato o processo formal de recurso e recorrer a todos os meios disponíveis para garantir que a integridade e a equidade do resultado sejam plenamente revistas, conforme estipulado nas regras do concurso".
Sindicato deixa alerta
Por sua vez, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (Sintac) alertou para as possíveis consequências para os trabalhadores da perda de licença da Menzies e lembrou que a TAP detém 49,9% da empresa de assistência nos aeroportos.
"O Sintac alerta para possíveis riscos para os trabalhadores na sequência da escolha da operadora de 'handling' Clece/South (detida pela Iberia, pertencente ao grupo IAG) pela ANAC [Autoridade Nacional da Aviação Civil]", avançou o sindicato, em comunicado, manifestando-se surpreendido com a decisão preliminar do regulador de atribuir as licenças de assistência nos três aeroportos do continente - Lisboa, Porto e Faro.
A estrutura sindical apontou que o grupo IAG é também um dos interessados no processo de privatização da TAP, que detém 49,9% do capital da Menzies (antiga Groundforce).
"Esta ligação suscita legítimas dúvidas sobre eventuais conflitos de interesse e sobre as intenções por detrás desta escolha", vincou o Sintac, referindo suspeitar que "a privatização poderá estar centrada apenas só no 'core business' do transporte aéreo, deixando de fora outras empresas do grupo, como a Menzies".
Também o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) manifestou-se incrédulo e indignado com a decisão preliminar do regulador de atribuir licença para assistência nos aeroportos à Clece/South excluindo a Menzies.
"Embora este relatório seja preliminar, portanto passível de contestação nas instâncias próprias, o facto de não serem cumpridos os pressupostos previstos no plano de recuperação quanto à atribuição das licenças deixa-nos, no mínimo, estupefactos", afirmou o sindicato, em comunicado, onde diz ter recebido a notícia "com um misto de incredulidade e indignação".
Contactada pela Lusa, a ANAC disse apenas que "no âmbito do procedimento do concurso os concorrentes foram notificados pelo júri do relatório preliminar" e que se trata de "tramitação normal e regular no âmbito do concurso".
O regulador destacou que "os concorrentes terão agora o período de apresentação da sua pronúncia", salientando que "não foi feito o relatório final, nem existe, nesta fase qualquer decisão ou seleção do prestador de serviços".
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