Assinala-se este sábado, dia 27 de setembro, o Dia Mundial do Turismo, um setor que tem especial relevância para Portugal e que contribui com 34 mil milhões de euros, o equivalente a 11,9% do PIB, para a economia nacional. Lisboa e Porto destacam-se e o economista Carlos Brito considera que, apesar de ainda não estarmos no limite da capacidade, é necessária uma gestão ativa deste tema.
Em declarações ao Notícias ao Minuto, o presidente da Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas sublinhou os efeitos positivos do turismo quando este é bem gerido: "Cria emprego, potencia o investimento, gera mais riqueza".
Nas maiores cidades do país - Lisboa e Porto - há já "sinais de saturação" e, por isso, Carlos Brito defende uma "redistribuição espacial e temporal da procura turística".
Quanto representa atualmente o turismo no PIB nacional?
O apuramento do contributo do turismo para o PIB faz-se a partir da chamada Conta Satélite do Turismo, um sistema de informação que procura estimar o impacto económico, tanto direto como indireto, do turismo na economia. Neste contexto, com base nos dados mais recentes, o INE – Instituto Nacional de Estatística estima que, em 2024, o contributo total da atividade turística para a economia nacional tenha ascendido a 34 mil milhões de euros, o equivalente a 11,9% do PIB.
Quais os setores mais beneficiados com esta atividade?
O turismo tem efeitos diretos e indiretos numa variedade de setores, a começar, obviamente, pelo alojamento, restauração e transportes (aéreo, ferroviário, rodoviário, marítimo), mas incluindo também o comércio local, as atividades culturais e recreativas, os serviços prestados pelas agências/operadores turísticos e, last but not least, a construção e o imobiliário.
O crescimento que temos visto está a gerar desenvolvimento sustentável ou desequilíbrios?
O turismo tem, indubitavelmente, um efeito positivo no desenvolvimento quando e onde é bem gerido: cria emprego, potencia o investimento, gera mais riqueza. Claro que há riscos decorrentes de potenciais desequilíbrios: pressão sobre o custo da habitação, congestão comercial, descaracterização dos centros históricos, perda de identidade dos territórios. Há, pois, que assegurar um crescimento sustentável do turismo na sua tripla aceção: económica, social e ambiental. Doutra forma, a sociedade fica a perder, o ambiente degrada-se e, em última instância, 'mata-se a galinha dos ovos de ouro'.
Lisboa e Porto estão a atingir o limite? Como se pode gerir a pressão turística sem comprometer a qualidade de vida e a identidade urbana?
Em Lisboa e no Porto, há sinais de saturação visíveis que não se podem escamotear, em especial em épocas de pico de procura. No entanto, mesmo no âmbito territorial destes dois municípios – ou até das respetivas áreas metropolitanas – há espaço para crescer. Na minha opinião ainda não estamos no 'limite da capacidade', mas exige-se uma gestão ativa e uma redistribuição espacial e temporal da procura turística.
Carlos Brito é presidente da Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas.© Reprodução LinkedIn
O nomadismo digital e o turismo de eventos estão a redistribuir riqueza e a trazer valor real à economia?
O nomadismo digital não deve ser considerado no âmbito da atividade turística. O nómada digital procura combinar trabalho e viagens de longo prazo com o seu estilo de vida habitual, sem estar preso a um local geográfico específico. Em qualquer dos casos, nos locais onde se instala tende a gerar despesa média elevada e uma atmosfera mais cosmopolita. Contudo, não deixa de pressionar as rendas e o custo de vida em geral, o que exige políticas de habitação para esse tipo de estadias bem como uma integração local efetiva.
Quanto ao turismo de eventos (conhecido por MICE -meetings, incentives, conferences & exhibitions), sem dúvida que está associado a um maior gasto médio por visitante, para além de ser um excelente cartão de visita no sentido em que promove a imagem do destino. Há ainda o efeito positivo sobre cadeias de fornecimento locais e programação que pode ter um efeito multiplicador na economia local e regional.
Eventos como os incêndios ou a tragédia no Elevador da Glória podem comprometer o turismo?
A curto prazo, uma situação como a que ocorreu com o Elevador da Glória pode, de facto, afastar algum turismo. Mas a médio e longo prazo o efeito será negligenciável… a não ser que este tipo de tragédias se repita. O que esperemos que não aconteça.
Já quanto aos incêndios, a situação é diferente. Para além da tragédia em si, há toda uma perda de ativos (imobiliários, infraestruturais, paisagísticos e ecossistémicos) que podem levar anos a recuperar, com todo o impacto negativo que isso possa vir a ter na atividade turística.
Numa altura em que nos aproximamos das eleições autárquicas e tendo em conta a representatividade do setor no panorama nacional, o turismo deve ser uma prioridade nos programas eleitorais?
Não tenho dúvidas de que o turismo vai estar na agenda de muitos candidatos às autarquias. Por duas razões distintas e opostas. Nos locais onde a pressão turística é mais forte (Lisboa, Porto, vários municípios do Algarve e Madeira e ainda do litoral alentejano) espera-se que haja uma visão sobre como minimizar os impactos negativos sem, obviamente, colocar em causa o dinamismo da atividade turística. Já nas regiões com fatores de atratividade, mas ainda com baixa procura turística (por exemplo, no Interior Norte e Centro), faz todo o sentido que surjam propostas ligadas ao marketing turístico que procurem atrair mais e novos turistas pois isso pode ser uma alavanca económica que, em última instância, contribua para uma menor desertificação do interior.
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