O impacto económico dos incêndios dos últimos dias é "profundo" e podem ascender já a 2,3 mil milhões de euros, adiantou, esta terça-feira, o presidente da Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas, Carlos Brito, ao Notícias ao Minuto.
"Os incêndios florestais de 2025 estão a revelar-se dos mais graves das últimas décadas em Portugal. Até ao momento (11h30 de 19/08/2025) já arderam mais de 200 mil hectares, uma área que é quase 50% superior à registada em todo o ano de 2024. O impacto económico é profundo, podendo ser estimado em cerca de 2,3 mil milhões de euros até ao momento", explicou Carlos Brito.
A (pesada) fatura dos incêndios
O economista adianta que "há desde logo os custos diretos de combate - mobilização de meios aéreos, terrestres e humanos - que se contam em muitas dezenas de milhões de euros, podendo aproximar-se dos valores de 2017, o ano dos grandes incêndios que foram responsáveis por 127 mortes". Porém, "somam-se as perdas de habitações, recursos naturais, explorações florestais e infraestruturas locais, cujos prejuízos ainda não estão totalmente quantificados".
Depois, há também os efeitos indiretos, que "podem ser ainda mais significativos e prolongados": "O turismo rural e de natureza sofre cancelamentos e quebras de procura, representando perdas que podem atingir dezenas de milhões de euros".
Além disso, "o mesmo acontece com a agricultura e a economia local, atingidas pela destruição de terras e respetiva desvalorização, um impacto que se fará sentir ao longo dos próximos anos". Também acrescem os "custos sociais e de saúde, desde internamentos respiratórios até ao impacto psicológico nas comunidades evacuadas".
O economista destaca ainda que existem ainda "perdas que não têm preço: em vidas humanas e na dor das populações ao verem arder toda uma vida de esforços e sacrifícios. Isto sem falar no custo associado à perda de confiança nas autoridades, a começar pelas governamentais".
Este ano, os fogos já provocaram pelo menos dois mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
"É crucial manter o foco no essencial"
Carlos Brito constata que "nos últimos dias têm-se multiplicado críticas à falta de coordenação no combate, com relatos de meios mal distribuídos e respostas tardias" e o "Governo tem gerido de forma muito atabalhoada a sua estratégia de comunicação, alternando entre silêncio e mensagens confusas que só aumentam a perceção de desorganização".
"Apesar de tudo, neste momento é crucial manter o foco no essencial: combater os incêndios com todos os recursos disponíveis e minimizar os seus impactos nas populações, no território e na economia", conclui.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração da situação de alerta desde 2 de agosto.
Segundo dados oficiais provisórios, até 19 de agosto arderam mais de 201 mil hectares no país, mais do que a área ardida em todo o ano de 2024.
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