A análise do 'rating' de Portugal, prevista para esta sexta-feira, pela agência Fitch, está a dividir os analistas, com dúvidas sobre se a classificação irá subir ou manter-se, apesar das perspetivas positivas.
"A probabilidade de a Fitch rever em alta o rating de Portugal já esta sexta-feira é elevada. A agência mantém atualmente a notação em A- com perspetiva positiva, o que significa que reconhece fundamentos sólidos e já deixou aberta a porta a uma subida", destacou Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, em resposta à Lusa.
No entanto, referiu, "não é impossível que a Fitch opte por aguardar mais alguns meses, confirmando primeiro a execução orçamental de 2025 e a aprovação do orçamento para 2026".
Por sua vez, Vítor Madeira, da XTB, acredita que "o mais provável será a Fitch manter o rating soberano de Portugal em A-, com 'outlook' [perspetiva] positivo", apontando que "apesar da evolução favorável de alguns indicadores, ainda não existem evidências suficientemente robustas e consistentes para justificar uma subida para A".
Para o analista, "o crescimento económico previsto para os próximos trimestres é moderado, o saldo orçamental, embora positivo, precisa de ser confirmado no médio prazo, e a trajetória da dívida em percentagem do PIB, embora descendente, deverá perder ritmo entre 2025 e 2028" além de "ainda se encontrar acima dos 90% do PIB", fatores que "tornam prematuro esperar uma melhoria imediata".
Paulo Monteiro Rosa realçou ainda que "os sucessivos excedentes orçamentais, a trajetória de descida da dívida pública, que deverá recuar para menos de 90% do PIB em 2026, e o facto de a S&P se ter adiantado com uma revisão para A+ no final de agosto criam pressão adicional para que a Fitch reduza essa distância".
Para o economista sénior do Banco Carregosa, "o mercado, entretanto, já refletiu parte desta expectativa", indicando que os 'spreads' da dívida portuguesa face à alemã "estão em mínimos de 2008, perto dos 40 pontos base, evidenciando a confiança dos investidores".
Vítor Madeira acredita que a Fitch vai olhar para questões como o mercado de trabalho, que "continua a mostrar sinais positivos", o crescimento do PIB, que "abrandou no primeiro trimestre em relação ao 4.º trimestre de 2024, mas recuperou no 2.º trimestre" e a dívida pública em relação ao PIB que "deverá continuar a diminuir, ainda que a um ritmo mais lento, apoiada por uma carga fiscal excessiva".
Paulo Monteiro Rosa aponta também "solidez orçamental, trajetória da dívida e confiança de mercado" como pressupostos para a revisão da Fitch, indicando ainda "variáveis externas, como o enquadramento europeu, a evolução da política monetária do BCE e o contexto geopolítico", mas ressalvando que "os indicadores internos apontam claramente para um reforço da confiança na sustentabilidade das finanças públicas portuguesas".
Os analistas dão ainda conta dos potenciais riscos para o 'rating' nacional, com Vítor Madeira a apontar o "crescimento moderado da economia europeia", bem como "o abrandamento esperado no ritmo de redução da dívida pública, nos próximos anos". Segundo o analista da XTB, "as turbulências governamentais que sucedem à queda do governo podem voltar a gerar instabilidade política", existindo ainda "riscos ligados a pressões orçamentais" e um contexto geopolítico que "continua preocupante, o que pode inflacionar o preço dos combustíveis e provocar mais choques nos preços".
Paulo Monteiro Rosa realçou, por sua vez, "o enquadramento externo" que pode levar a "uma deterioração das condições de financiamento, seja por tensões geopolíticas ou por decisões de política monetária do BCE", apontando que "o risco mais relevante neste momento vem de França".
A DBRS avalia a dívida soberana em A (elevado) e a Moody's em A3, enquanto a Fitch tem atualmente a classificação de A-. Já a S&P foi a última agência a avaliar o 'rating', em 29 de agosto, e melhorou a classificação de 'A' para 'A+'.
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