Em declarações à Lusa, o presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil, Carlos Alberto Lopes, frisou que as novas tarifas "já impactam diretamente empresas portuguesas estabelecidas no Brasil ou empresários de origem portuguesa" ali estabelecidos.
Na mesma linha, a presidente da Câmara Portuguesa de Comércio em São Paulo, Karene Vilela, com cerca de 550 empresas associadas dos mais variados setores, acredita que as tarifas impostas e adicionais têm afetado empresários portugueses e luso-brasileiros estabelecidos.
"Especialmente no setor de cadeia de fornecimento, áreas como máquinas, equipamentos, bens de consumo, componentes de indústria", disse à Lusa, acrescentando que o facto de a indústria brasileira, no geral, ser "extremamente 'dolarizada'" encarece o custo de produção.
Renata Ramalhosa, empresária portuguesa radicada em São Paulo, o centro financeiro brasileiro e a maior cidade da América Latina, partilha da mesma opinião, até porque as "tarifas adicionais impostas pelos Estados Unidos têm potencial para impactar toda a economia brasileira, afetando o tecido empresarial local e, por consequência, as empresas portuguesas aqui estabelecidas".
"Esses impactos podem ser diretos, quando existe relação comercial com o mercado norte-americano --- seja através de exportações, importações ou cadeias de valor ligadas aos EUA ---, ou indiretos, devido a efeitos macroeconómicos como aumento da inflação, desvalorização do real e subida das taxas de juro", resumiu a conselheira da Diáspora Portuguesa.
Concluindo, Renata Ramalhosa detalhou que "tudo isto encarece os custos de operação, reduz o poder de compra e torna o crédito mais caro".
As sanções dos EUA ao Brasil afetaram 35% das exportações do país sul-americano, que há cinco décadas tem um défice na sua balança comercial com a primeira economia do mundo e, apesar de produtos como aviação ou o ferro terem ficado de fora das tarifas, produtos brasileiros como carne, café, frutas, entre outros, permanecem com a tarifa máxima.
Em 2024, os Estados Unidos receberam 12% das exportações do Brasil, que totalizaram 40,3 mil milhões de dólares, enquanto as importações da maior economia mundial foram de 40,5 mil milhões de dólares.
Os três responsáveis portugueses concordam que um dos caminhos a serem tomados tem de passar pela diversificação e aposta em novos mercados, como o reforço no continente asiático, mas também pela assinatura do acordo comercial entre os blocos da União Europeia e do Mercosul.
"Adiar esse passo é manter empresários e trabalhadores reféns de um cenário geopolítico instável e de barreiras comerciais cada vez mais severas. É hora de agir para assegurar o futuro das relações económicas entre Brasil, Portugal e a Europa", sublinhou Carlos Alberto Lopes referindo-se ao acordo entre a União Europeia e Mercosul, num mercado que abre as portas mais de 700 milhões de consumidores.
Para Renata Ramalhosa, a assinatura do acordo União Europeia--Mercosul, no atual contexto geopolítico, "teria um forte valor simbólico e estratégico, reforçando a cooperação entre os dois blocos".
"Trata-se de um caminho alternativo para reduzir a dependência de mercados sujeitos às tarifas adicionais impostas pelos Estados Unidos, ao mesmo tempo que incentiva a diversificação para outros destinos estratégicos, como a Ásia, África e mercados emergentes", justificou.
Também Karene Vilela acredita que a crescente instabilidade geopolítica global torna "mais urgente diversificar destinos, diversificar mercados, e dentro desse contexto o Acordo Mercosul-União Europeia seria extremamente estratégico para reduzir barreiras tarifárias, proporcionar mais previsibilidade, segurança jurídica entre os dois blocos".
Esta semana, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, ao anunciar um pacote de ajuda aos exportadores afetados pelas tarifas de 50% que Trump impôs ao Brasil, garantiu que lançará uma ofensiva comercial global com o objetivo de buscar novos mercados e substituir as exportações para os Estados Unidos.
"Já falei com a Índia, com a China, com a África do Sul, e vou falar com a França, com a Alemanha e com todo o mundo", garantiu.
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