Dispensa para amamentar: Queixas, multas e os dados que realmente existem

A Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego recebeu uma queixa, aos sindicatos chegam "relatos" e a Autoridade para as Condições do Trabalho identificou 10 irregularidades que levaram a autuar empresas por incumprimento do direito das trabalhadoras a amamentar. Não se sabem, contudo, quantas mulheres estão com horário reduzido por causa deste direito.

Dispensa para amamentar: Queixas, multas e os dados que realmente existem

© Shutterstock

Beatriz Vasconcelos
08/08/2025 07:55 ‧ há 9 horas por Beatriz Vasconcelos

Economia

Amamentação

A dispensa para amamentação tem dado muito que falar nos últimos dias, depois das declarações polémicas da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho. A governante disse ter conhecimento de alegados abusos por parte de trabalhadoras, mas a verdade é que não há dados sobre as mães que usufruem deste direito

 

Afinal, que dados existem?

CITE registou uma queixa, sindicatos recebem "relatos"

A Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) recebeu este ano uma queixa "feita por uma mulher referente à violação do direito de dispensa para a amamentação", mas não recebeu qualquer denúncia por parte da entidade empregadora de trabalhadoras que estariam a abusar desse mesmo direito, contou à Lusa a presidente da CITE, Carla Tavares.

No entanto, aos sindicatos "continuam a chegar relatos" que acontecem um pouco por todo país, em especial nos trabalhos com maior presença de mulheres, como o setor da saúde, restauração, comércio ou da indústria.

"Tivemos vários exemplos de limitações e até situações extremas" de trabalhadoras impedidas de usar a licença de amamentação, disse à Lusa Fátima Messias, coordenadora para a Comissão de Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN, recordando uma "situação extrema" em que "as entidades patronais pretendiam obrigar as mulheres a espremer as mamas para provar que ainda tinham leite para as suas crianças".

ACT contabiliza uma dezena de infrações autuadas

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) identificou 10 irregularidades que levaram a autuar empresas por incumprimento do direito das trabalhadoras a amamentar e fez 13 advertências a empregadores nos últimos cinco anos, segundo dados cedidos ao Notícias ao Minuto e à agência Lusa

Apenas no ano de 2023 não houve qualquer empresa autuada, mas houve sempre advertências por "infrações aos normativos legais", sendo que os números de 2024 e deste ano ainda são provisórios.

Ao Notícias ao Minuto, a ACT sublinhou ainda que "do resultado da atividade inspetiva, em consonância com a sua missão supra referida, outras consequências, nomeadamente penais (como eventual fraude) não se enquadram na competência da ACT".

Notícias ao Minuto Procedimentos inspetivos realizados pela ACT© ACT

Governo não sabe quantas mães têm horário reduzido. Dados? "É muito difícil tê-los"

A declaração sobre a dispensa para a amamentação, que é entregue pelas mães, acaba por ficar na empresa e não é comunicada a mais nenhuma entidade. Significa isto, também, que estes números não chegam ao Executivo e, por isso, o Governo não sabe quantas trabalhadoras estão com horário reduzido.  

Abusos na amamentação? Governo não sabe quantas mães têm horário reduzido

Abusos na amamentação? Governo não sabe quantas mães têm horário reduzido

A declaração sobre a dispensa para a amamentação, que é entregue pelas mães, acaba por ficar na empresa e não é comunicada a mais nenhuma entidade. Significa isto, também, que estes números não chegam ao Executivo e, por isso, o Governo não sabe quantas trabalhadoras estão com horário reduzido.  

Beatriz Vasconcelos | 11:02 - 06/08/2025

"Sobre os pedidos de dados, importa esclarecer que a dispensa é concedida e suportada diretamente pelas entidades empregadoras", disse fonte oficial do Ministério do Trabalho ao Notícias ao Minuto, quando questionado sobre quantas mães estão com o horário reduzido em Portugal. 

Ou seja, as trabalhadoras que estão a amamentar entregam uma declaração médica à entidade patronal, que serve para justificar a ausência de duas horas ao trabalho da funcionária caso haja uma inspeção por parte da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), sabe o Notícias ao Minuto. 

É só isto: a declaração acaba por ficar na empresa e não é comunicada a mais nenhuma entidade. Tal significa também que estes números não chegam ao Executivo

Aliás, o antigo ministro do Trabalho José António Vieira da Silva referiu isto mesmo: "A declaração da senhora ministra é, talvez, ainda mais incompreensível do que o texto da proposta de lei, porque a justificação é infeliz e precipitada. Eu diria até leviana, porque não tendo os dados - e é muito difícil tê-los, porque é uma relação entre a empresa e a trabalhadora - é uma espécie de manto negro sobre quem beneficia desta medida", disse Vieira da Silva, em entrevista à Antena 1.

O Governo aprovou no final do mês passado em Conselho de Ministros várias alterações à Lei do Trabalho, nomeadamente no que toca à licença para a amamentação.

Atualmente, não existe um limite temporal para amamentar, mas o executivo quer limitar até aos dois anos e idade e exigir a apresentação, de seis em seis meses, de um atestado médico.

Há ou não perda de direitos? Três pontos que mudam com a revisão laboral

Há ou não perda de direitos? Três pontos que mudam com a revisão laboral

Advogadas consultadas pelo Notícias ao Minuto consideram que "há perdas de direitos para os trabalhadores, em particular, para as mulheres com o Anteprojeto XXI" do Executivo de Luís Montenegro. Confira três pontos.

Beatriz Vasconcelos | 07:50 - 07/08/2025

Em entrevista à TSF e ao Jornal de Notícias, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social disse haver abusos por parte de algumas trabalhadoras que usavam de forma abusiva a licença para amamentar para trabalhar menos horas.

As declarações foram fortemente contestadas por associações e sindicatos que defenderam que o problema não estava nas mulheres mas sim nos empregadores, garantindo que ainda hoje existem muitas trabalhadoras que não usam a redução de horário por temer represálias.

Leia Também: Ministra sobre amamentação? "Infeliz e precipitada, diria até leviana"

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas