Os trabalhadores dos Centros de Distribuição Postal (CDP) dos CTT do Porto - 4.100 e 4.200 - cumpriram hoje o primeiro de dois dias de greve. Em causa está a "deterioração do serviço universal de correios que se encontra altamente comprometido" e "das condições de trabalho nos CTT", nomeadamente devido à falta de pessoal e necessidade da realização sistemática de trabalho suplementar sem que ocorra o seu pagamento".
Em resposta à Lusa, os CTT garantiram que vão reforçar "no período de férias os recursos humanos nos CDP que tenham essa necessidade" o que, referem, já foi comunicado à Comissão de Trabalhadores.
De acordo com o SNTCT - Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, no CDP 4.100, de um total de 41 trabalhadores, 36 aderiram à greve, representando uma adesão acima dos 87%. Já no CDP 4.200, dos 44 trabalhadores, 33 aderiram à paralisação, corresponde a uma adesão de 75%.
Em declarações à Lusa, o dirigente nacional do SNTCT Paulo Silva denunciou que os trabalhadores dos dois centros de distribuição do Porto "estão há meses a fio" em esforço para tentar compensar a falta de pessoal, "situação essa que agrava sempre no período de férias".
Este ano, referiu ainda, "a empresa insiste em não querer contratar trabalhadores para as férias o que agrava aquilo que já é precário".
"Estamos a falar, no conjunto, de 85 postos de trabalho que, em média, 30 ou mais estão por ocupar, o que leva ao cansaço de quem cá está que tem de trabalhar muito mais horas e depois é evidente que isso tem consequências na qualidade do serviço. Atrasos na entrega do correio. Não podemos esperar fazer o mesmo com 50 trabalhadores do que com 85", denunciou.
Sérgio Gaspar, um dos cerca de 30 trabalhadores que esta manhã se concentraram junto à Loja dos CTT na Rotunda da Boavista, confirma as dificuldades sentidas no terreno. No CDP 4.100, onde trabalha, os trabalhadores "andam sempre numa roda-viva", e mesmo assim há serviço que não é feito.
"Em sete horas, é impossível fazer trabalho de duas pessoas ou de uma pessoa e meia, no caso, e isso tem consequências como é o incumprimento da entrega do correio registado, do prioritária (em alguns casos com atrasos de cinco dias), da própria carta que tem um custo muito elevado, neste momento, e cujo padrão de qualidade não é cumprido. Consultas, cartas de tribunais não se consegue, é impossível", contou à Lusa.
Uma realidade em tudo idêntica à do CDP 4.200, onde, segundo Sérgio Pereira, o problema é ainda mais grave dada a média elevada de idades.
"As idades são bastante avançadas. Eu, por exemplo, já tenho 60 anos e já tenho certas limitações, é extremamente difícil", denunciou o trabalhador que estima que seriam necessários pelo menos mais 10 trabalhadores para cumprir os prazos de entrega.
"Existem situações de giros que não são feitos há mais de uma semana, é o caso dos registos que são prioritários. Existem ainda outras situações em que os giros saem para a rua dois, três quatro, dias após a expedição", revelou.
Tal como acontece quase diariamente, também hoje os trabalhadores concentrados junto à Loja dos CTT na Rotunda da Boavista, foram abordados por clientes que questionam a ausência do serviço de entrega postal durante dias seguidos.
Em conversa, com alguns trabalhadores, uma moradora no centro do Porto, garantia que há mais de uma semana que não recebia qualquer correspondência, assim como, dois dos seus vizinhos, que aguardavam a pensão de velhice.
Contactados pela Lusa, os CTT não confirmam os números avançados pelo sindicato, referindo apenas que "respeitam, como sempre respeitaram, o direito à greve dos trabalhadores e lamentam eventuais transtornos causados aos clientes".
A greve, convocada pelo SNTCT teve início às 00:00 do segunda-feira, prolongando-se até às 24:00 de 01 de julho.
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