"Face à [atual] pressão na nossa rentabilidade, a nossa expectativa é que o valor que venhamos a pagar seja marginal face à totalidade de impostos que pagamos ao Estado português hoje em dia", afirmou o responsável financeiro durante a apresentação das contas de 2022 da Sonae, que decorreu hoje na Maia, distrito do Porto.
"Ainda não temos esse cálculo realizado, porque só submetemos a declaração daqui a alguns meses e, portanto, ainda estamos a computar esse valor, mas na nossa perspetiva, à data de hoje, será um valor relativamente marginal face ao total de impostos que pagamos", acrescentou.
Assumindo-se contra o pagamento deste imposto, João Dolores explicou: "Não reconhecemos o conceito de lucros excedentários. Se lucros excedentários são lucros superiores numa empresa que investe no país, que cria emprego e que abre novas lojas, como é o nosso caso, sinceramente não nos parece correto estar a considerar estes lucros excedentários", sustentou.
"Nos últimos quatro anos abrimos no retalho alimentar mais de 200 lojas em Portugal, investimos mais de 800 milhões de euros em Portugal e criámos mais de 5.000 empregos. Portanto, é natural que, investindo, os lucros também subam do ponto de vista absoluto e estar a penalizar quem investe no país parece-nos a todos um mau princípio", acrescentou.
Na mesma linha, a presidente executiva (CEO), Cláudia Azevedo, afirmou que em causa está "um imposto novo sobre o crescimento".
"Aliás, este imposto acho que, no setor da distribuição alimentar, só existe em Portugal e na Hungria e eu não gostava de estar em muitas categorias com a Hungria", ironizou a líder da Sonae.
O diploma que regulamenta as contribuições de solidariedade temporárias sobre os setores da energia e da distribuição alimentar foi promulgado no final de 2022 pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Este 'windfall tax' sobre os setores do petróleo, gás natural, carvão e refinação terá uma aplicação temporária, durante dois anos, incidindo também sobre as empresas de distribuição alimentar.
Apesar do "enquadramento de negócio difícil", o administrador financeiro afirmou que a Sonae mantém a "ambição" de crescer e entrar em novos negócios, estando atenta a "novas oportunidades de investimento que tragam o grupo para um patamar de crescimento diferente e, até, mais acelerado do que no passado".
"A Sonae tem uma filosofia de gestão de portefólio bastante ativa e continua a olhar para várias oportunidades potenciais de investimento interessantes para os próximos meses e anos", disse.
No retalho alimentar, João Dolores disse ser notória -- e até com "um efeito mais forte no arranque deste ano" -- uma queda nos volumes de vendas nos supermercados da Sonae, assim como uma "mudança de 'mix'" nos produtos vendidos, "porque os clientes estão a restringir os seus padrões de consumo".
Ainda assim, o responsável financeiro garantiu que a Sonae mantém "a ambição de crescimento nos vários conceitos de retalho" que opera: "Em termos de planos de abertura de lojas, para 2023 mantemos a nossa ambição de crescimento nos vários conceitos de retalho que temos, em particular na MC, e no retalho alimentar vamos continuar a abrir lojas", disse.
Segundo precisou, o objetivo -- já assumido no ano passado -- "é abrir, pelo menos, cerca de 20 lojas de retalho alimentar por ano e com foco, sobretudo, no formato de proximidade 'Bom Dia'", de forma a expandir a rede do grupo "de forma mais capilar no mercado português".
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