O economista Paulo Trigo Pereira vê riscos de uma taxa de inflação superior e uma taxa de crescimento inferior no próximo ano, em relação às previsões do Governo inscritas na proposta do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023). Do ponto de vista das políticas sociais, o professor catedrático do ISEG diz que o Executivo de António Costa apresentou "medidas acertadas".
"Em particular, o Governo prevê para 2023 um crescimento real do PIB de 1,3%, com o consumo privado a desacelerar o seu crescimento para 0,7%, uma inflação de 4% e uma taxa de desemprego de 5,6%. O Conselho de Finanças Públicas endossa estas previsões. Pessoalmente, considero que os riscos vão no sentido de uma taxa de inflação maior e de uma taxa de crescimento menor do que aquelas que o Governo prevê, principalmente face àquilo que pode vir a ser uma quase estagnação do consumo privado", referiu Paulo Trigo Pereira, num comentário enviado ao Notícias ao Minuto.
Contudo, o economista considera que "tudo dependerá de quão agressiva for a política monetária restritiva do Banco Central Europeu".
O OE2023, que foi entregue no Parlamento no início da semana, foi "elaborado num período de grande incerteza", sobretudo devido à guerra na Ucrânia, "sendo que a sua duração e intensidade em 2023 terão certamente repercussões diretas e indiretas para Portugal", lembra Paulo Trigo Pereira.
"As diretas são as repercussões em termos da inflação importada, quer a nível de bens alimentares, como de energia mais cara, e o efeito negativo nas nossas exportações, com um menor crescimento ou mesmo recessão de alguns dos países com quem temos maiores relações comerciais. As repercussões indiretas resultam sobretudo da elevada inflação da zona euro, que já está a obrigar a uma política orçamental restritiva na zona euro com a subida das taxas de juro e que dificultará a vida aos devedores, sejam estes o Estado, as famílias (arrendatárias ou com empréstimos à habitação) ou as empresas", explica o economista.
Políticas sociais? "Este orçamento tem medidas acertadas"
Na opinião do professor do ISEG, as medidas políticas da proposta do Governo estão "calibradas no sentido de proteger os mais vulneráveis e os mais pobres, e não a classe média que irá, mais uma vez, perder poder de compra".
"Nessa linha de redistribuição para os mais necessitados, ou mais vulneráveis, estão a baixa do segundo escalão do IRS e o aumento do mínimo de existência, a atualização do indexante de apoios socias, as alterações no complemento solidário para idosos e os maiores aumentos, quer nas pensões, quer nos salários da função pública, daqueles que recebem respetivamente menores pensões e menores salários", revela Paulo Trigo Pereira.
Do lado das políticas sociais, onde se incluem também as medidas dirigidas às famílias com crianças e jovens, "este orçamento tem medidas acertadas".
"A minha maior crítica é que não vejo suficientes medidas dirigidas às empresas para que promovam o investimento e a criação de emprego, nem ao Estado para que consiga executar de forma muito mais rápida do que está a fazer os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência", acrescenta o professor catedrático do ISEG.
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