"Queremos encher completamente o nosso país de aerogeradores e painéis [solares] para depois exportar eletricidade para a Europa central, sendo que o impacto para nós, Portugal, é que vamos ter preços superiores ao que teríamos sem essa exportação?", questionou-se o antigo responsável da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), Jorge Vasconcelos.
Esta posição foi transmitida durante a conferência "A Energia no novo mapa geopolítico", promovida pela agência Lusa, em Lisboa, onde participaram também o presidente executivo (CEO) da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, e o CEO da GreenVolt, João Manso Neto.
Para Jorge Vasconcelos, é importante parar para pensar sobre o papel que Portugal quer ter no mercado energético da União Europeia (UE), que, disse, é disfuncional e atravessa uma crise, agravada pela dependência da Rússia, que está em guerra com a Ucrânia.
O também presidente da Newes -- New Energy Solutions apontou que, atualmente, cerca de 15% da eletricidade gerada em Portugal é exportada para Espanha, que, por seu turno, exporta uma parte para França.
"Isto provoca emissões no nosso país. É isto que nós queremos? O que nos interessa é saber se nestas exportações há valor acrescentado", defendeu.
Por sua vez, relativamente à crise energética que a Europa enfrenta, o CEO da Endesa, considerou que se descurou a importância de ter um aprovisionamento de energia "mais diversificado".
"Descurámos e somos muito idealistas quando, sobre qualquer medida, por exemplo de prospeção e pesquisa de petróleo e gás, a priori dizemos 'vai de retro, Satanás'. Somos completamente reativos a qualquer iniciativa de termos consciência dos recursos que temos", defendeu Nuno Ribeiro da Silva.
Para o responsável da Endesa, estas questões devem ser geridas de "uma perspetiva estratégica e de segurança de abastecimento" e não apenas sob o ponto de vista dos preços ou do ambiente.
"Temos [Portugal] uma situação privilegiada dentro do novo paradigma que se está a construir, mas esse novo paradigma não acontece de um dia para o outro", realçou, referindo-se à utilização de recursos renováveis.
Já João Manso Neto, CEO da GreenVolt, salientou que "o gás é fundamental na transição energética" e que os preços já estavam altos antes da invasão russa da Ucrânia.
"Ao não se assumir que o gás é um elemento fundamental na transição energética, não se faz, no 'upstream', investimentos em gás. Se pensarmos o futuro, há que considerar que o gás vai ser preciso durante mais 10 ou 15 anos. Agora, dizer isto não serve para nada se não se tomar medidas", afirmou o responsável da empresa de energias renováveis.
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