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Heineken em Timor-Leste em risco de fechar após anos de perdas

Dois anos consecutivos de perdas, apesar de ajustes na produção e custos, deixaram em risco a unidade da Heineken em Timor-Leste, que poderá encerrar se as condições económicas do país não melhorarem, disse o responsável.

Heineken em Timor-Leste em risco de fechar após anos de perdas
Notícias ao Minuto

06:19 - 25/02/21 por Lusa

Economia Heineken

"Não, não temos tido retorno. Temos estado a perder dinheiro de forma consistente desde a abertura. Tivemos perdas grandes em 2019, e mais reduzidas em 2020, devido ao ajustamento que fizemos", disse em entrevista à Lusa, Prasantha Manjuka, diretor da Heineken, empresa holandesa e segunda maior produtora de cerveja do mundo, sem precisar números.

"Sim, há um risco de fecho. Se as coisas não melhorarem, há a possibilidade de que a unidade feche", considerou.

No intuito de responder à pressão económica do mercado, a empresa levou a cabo uma ampla reestruturação, procurando criar um modelo "mais sustentável de negócio, a trabalhar com menor volume".

Transferir conhecimento de trabalhadores internacionais para locais, alterar processos, reduzir volume e deixar, por exemplo, de importar garrafas -- que não são produzidas localmente -- para se concentrar apenas em latas.

Em 2020, apesar de a fábrica estar fechada quase três meses, a empresa conseguiu manter e pagar aos trabalhadores, mas este ano foi reduziu funcionários.

Depois de nos anos anterior ter dispensado metade da força internacional, Manjuka explica que foi feito um acordo mútuo com 14 trabalhadores timorenses, a quem foi paga "uma compensação acima da definida na lei" para o despedimento. Mais seis estão a trabalhar com horários reduzidos.

"E se a situação continuar, teremos que tomar mais decisões difíceis", admitiu.

De cerca de 125 funcionários permanentes, a Heineken tem hoje "menos de 100", medidas consistentes com a situação local, mas também com a situação global do grupo.

Com mais de 250 marcas à venda em 170 países e com mais 165 cervejarias a funcionar em 70 países o grupo diz ser a "cervejeira mais internacional do mundo". Mas a covid-19 teve um impacto significativo e o grupo registou no ano passado o primeiro ano de perdas desde o seu nascimento, em meados do século passado.

"A Heineken está em grandes mudanças a nível global e está a ajustar-se e isso coloca mais pressão sobre unidades como esta que estão a perder dinheiro. A economia mundial não vai mudar já. A empresa não continuará a manter um projeto que perde", disse.

A Heineken é apenas mais uma das empresas afetada pela crise económica que em Timor-Leste se arrasta desde 2017 e que a pandemia da covid-19 só veio agravar, com centenas de empresas a pararem atividade ou a fecharem portas.

Prasantha Manjuka explicou que a empresa viveu a contração no mercado, que "deixou de ter a dimensão necessária" em termos de volume: se em 2016 a unidade produzia cerca de sete milhões de litros, a produção caiu agora para menos de quatro milhões.

"A fábrica foi criada para um certo volume, mas a economia, desde 2017 até agora, tem estado em queda. O consumo depende de as pessoas terem dinheiro. Sabemos que os timorenses consomem, mas o mercado de 2016 desceu 45%", disse, estimando que o volume caiu de 8,5 milhões de litros de cerveja por ano, em 2015, para cerca de quatro milhões em 2020.

Além das marcas já estabelecidas -- Bintang, Tiger e ABC -- a Heineken tentou lançar dois produtos locais, o sumo Amigo e a cerveja Liurai, feita com cassava e que, no início chegou a implicar a compra a produtores locais de 600 mil quilos de pó de cassava. Agora é quase residual.

"No caso do Amigo, o produto era bom, mas não conseguimos competir com produtos equivalentes importados, muito baratos, da Indonésia, onde a produção é em escala e mais rentável. Tornou-se inviável e tivemos de parar", explicou.

"A Liurai foi bem acolhida, mas tivemos que reduzir", disse, salientando que, neste caso, a queda de procura deveu-se tanto à economia em geral, como à importação nos últimos anos de produtos vendidos como cerveja, mas com elevado grau alcoólico, que chega aos 20%, mas que continua a ser taxada da mesma forma que cerveja com teor mais reduzido.

"A Heineken manteve a Liurai nos 7,8% de teor alcoólico, mas depois estava a competir com produtos importados vendidos como cerveja, mas com um teor alcoólico quatro vezes maior", disse.

"Consegue-se vender 'cerveja' com 20% de álcool em Timor-Leste, por 2.25 dólares porque a taxa é um nível fixo e não muda para as cervejas, independentemente do seu conteúdo alcoólico", explicou.

"As pessoas olham para o valor e conseguem comprar algo com quatro vezes mais álcool por apenas 25 cêntimos mais", sublinhou.

O Governo está a levar a cabo ajustes nesta questão tributária, aplicando diferentes níveis de impostos de acordo com o teor alcoólico dos produtos e isso tem que ser reforçado.

"Tem que haver diferentes níveis de impostos para as cervejas, de acordo com o teor que tem. Algo com 20% não pode ser considerada cerveja, especialmente porque em alguns dos casos nem está clara quem é a empresa que produz este tipo de bebidas", afirmou.

Em 2015, quando o projeto -- um investimento de quase 40 milhões de dólares (32,8 milhões de euros) -- estava a arrancar, os responsáveis da Heineken mostravam-se otimistas sobre Timor-Leste.

A unidade fabril, inaugurada em janeiro de 2018, foi o primeiro grande investimento internacional timorense e o primeiro e até agora único projeto de grande dimensão no setor industrial no país.

"Na altura havia a previsão de novos projetos, falava-se do Greater Sunrise, da expetativa de crescimento do turismo. Era um ambiente promissor e as previsões da altura tornavam este investimento atrativo", considerou.

"Olhamos não só para a população do país, mas para as perspetivas de crescimento em áreas como o turismo. Não foi errado, nesse contexto, investir nesta unidade", disse, explicando que o objetivo foi sempre o mercado nacional".

Hoje, a realidade é outra, e o futuro da primeira grande unidade fabril de Timor-Leste é incerto.

"O Governo tem dado alguns apoios à empresa, em termos de soluções temporárias. Mas não são suficientes para suster um negócio a longo prazo. É preciso fazer mais a nível macroeconómico, para que o dinheiro flua na economia", disse.

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