Em conferência de imprensa hoje à tarde, um grupo de associados da mutualista Montepio (que nas últimas eleições concorreram em listas de oposição à atual direção) consideraram que "é grave a situação do Montepio, mas não é irreversível".
Contudo, acrescentaram, "não está ao alcance da atual administração inverter [a situação]" e colocar a associação e o banco num "rumo sustentável", pelo que é consideram ser urgente "um plano para salvar o Montepio em colaboração com o Governo da República".
Estas declarações foram feito por Pedro Corte Real na conferência de imprensa 'online' de apresentação do manifesto de um grupo de associados, que inclui João Costa Pinto (ex-administrador do Banco de Portugal e atual membro do Conselho Geral da mutualista), Eugénio Rosa (ex-membro do Conselho Geral da mutualista), Viriato Silva (membro do Conselho Geral da mutualista), Mário Valadas (professor universitário), Fernando Ribeiro Mendes (ex-administrador da mutualista e candidato a presidente nas últimas eleições) e João Proença (ex-líder da UGT).
Já sobre de que modo poderia ser feita uma intervenção no grupo Montepio, João Costa Pinto disse o coletivo não tem uma solução mas considerou que, em sua opinião, tendo em conta que os desequilíbrios na mutualista vêm das perdas registadas no banco Montepio, uma solução seria o reequilíbrio do banco com a passagem para um veículo (um 'banco mau') dos ativos problemáticos (crédito malparado e imóveis).
Assim, considerou, o banco ficaria liberto desse peso e também libertaria capital para poder voltar a ter um papel ativo no sistema bancário comercial.
Contudo, afirmou, essa operação pode ser articulada com outro tipo de operações, por exemplo, de aumento de capital.
O importante -- frisou -- é que "no final seja garantido o controlo do banco pela Associação Mutualista".
Sobre uma eventual operação pública no Montepio, disse que essa teria um "custo controlado": "Não se pede uma operação irrazoável nem da natureza da do Novo Banco, com as consequências que conhecemos", afirmou.
Já sobre se pretendem que haja garantias para as poupanças dos associados entregues à mutualista (uma vez que não estão cobertas pelo fundo de garantia de depósitos), Mário Valadas afirmou que "essa componente [de assegurar as poupanças dos associados] pode vir a constituir parte da solução".
"O Governo está informado da situação do Montepio, não é por falta de informação nem por falta de consciência da situação que o Governo não atuará", disse.
Eugénio Rosa foi mais duro com o Governo considerando que este também será responsável se algo acontecer até porque o Ministério do Trabalho tem a supervisão da associação mutualista e Mário Centeno, enquanto ministro das Finanças, disse que o Governo não deixaria o grupo cair.
O economista estimou o desequilíbrio financeiro na mutualista na ordem dos 500 milhões de euros, se forem retirados o que designou de "ativos fictícios", como os ativos por impostos diferidos.
Eugénio Rosa afirmou ainda que por várias vezes se reuniu com o ex-ministro do Trabalho, Vieira da Silva, chamando a atenção para irregularidades na mutualista, como o facto de a usar as poupanças dos associados além do limite estabelecido na lei, mas sem sucesso.
A Associação Mutualista Montepio Geral - com mais de 600 mil associados - é o topo do grupo Montepio e tem como principal empresa o banco Montepio.
Virgílio Lima é o seu presidente desde dezembro de 2019, quando sucedeu a Tomás Correia (que foi presidente durante 11 anos). Desde então, vários associados têm pedido eleições antecipadas.
Em 2019, a mutualista teve lucros consolidados de seis milhões de euros. Já em termos individuais, registou prejuízos de 408,8 milhões de euros, devido ao reforço de imparidades sobretudo para o banco Montepio (por imposição da auditora PWC).
Ainda assim, a auditora colocou uma reserva por considerar que a mutualista não tem condições de recuperar os 800 milhões de euros em ativos por impostos diferidos registados nas contas (operação feita em 2017 e que foi bastante polémica).
Ainda na mutualista, continuam por estar em vigor os novos estatutos, que implicarão a criação de uma Assembleia de Representantes (uma espécie de parlamento).
Quanto ao banco Montepio, está atualmente em processo de reestruturação, o qual prevê a saída de entre 600 a 900 trabalhadores nos próximos anos.