"O BAD vai ter um papel relevantíssimo na recuperação de África, que está numa situação muito difícil, os países africanos foram durissimamente atingidos pela pandemia, sofreram com o agravamento das suas dívidas e sofreram com o enfraquecimento das suas economias, para além das debilidades que conhecemos e que são notórias, em particular no campo da saúde", disse Teresa Ribeiro.
Em entrevista à Lusa no final dos Encontros Anuais do BAD, onde representou Portugal, a secretária de Estado disse que "o banco vai ter de olhar para todos estes desafios e trazer uma resposta trabalhada com os governos dos países africanos e, ao mesmo tempo, manter a sustentabilidade financeira que lhe permita manter o rating AAA [o mais elevado], o que é um caminho muito exigente para uma instituição como o Banco Africano".
Questionada sobre o impacto da contestação de alguns membros não regionais, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, à liderança de Akinwumi Adesina, Teresa Ribeiro lembrou a votação unânime na sua reeleição e considerou que o nigeriano sai muito confortável da eleição.
"Adesina sai com uma posição reforçadíssima para os próximos cinco anos, porque esta vitória com uma dupla maioria e com este nível de adesão de 100% reforça e legitima completamente a sua reeleição, sem dúvida nenhuma", disse a governante, acrescentando que é preciso uma liderança forte para os desafios que África enfrenta.
"A expetativa de todos os que votaram é que uma liderança estratégica e forte é absolutamente indispensável para responder aos desafios que o BAD vai ter de enfrentar nos próximos anos, e desse ponto de vista é importante que o presidente tenha tido uma votação expressiva, que lhe dá legitimidade para atuar e que, por outro lado, não deixa nenhuma dúvida quanto à sua capacidade estratégica, e é essa a visão que os acionistas mostraram quando colocaram o seu voto numa votação de 100%, afirmou.
Questionada sobre o posicionamento de Portugal no processo de contestação ao presidente, Teresa Ribeiro disse que manteve uma posição de prudência que garantisse a presunção de inocência e, ao mesmo tempo, a necessidade de mais investigações.
"Portugal foi sempre muito prudente, querendo sempre, por um lado, que se respeitasse o princípio da presunção de inocência, mas que, por outro lado, não se deixasse de proceder a averiguações que eram necessárias para que não restassem dúvidas de que o banco se rege por critérios de transparência e ética corporativa que devem ser os de uma instituição como é o BAD", explicou.
Questionada especificamente sobre se Portugal alinhou com os países africanos, que sempre defenderam o Presidente e consideraram não haver mais nada a investigar depois de o comité de ética ter ilibado Adesina das acusações de um conjunto de funcionários anónimos, ou se defendeu a necessidade de essas conclusões serem validadas numa segunda instância, Teresa Ribeiro disse que Portugal defendeu o apuramento de responsabilidades.
"O que dissemos foi que o que houver a ser investigado deve ser investigado, e tudo o que contribuir para a transparência do processo é bem-vindo, porque precisamos de um BAD forte, com uma liderança forte, e por isso a posição de Portugal foi a de contribuir para que não restassem dúvidas quanto às condições que o presidente Adesina tem para exercer o seu cargo", afirmou, concluindo que "o relatório de Mary Robinson [que confirmou a 'absolvição'] acabou por sufragar a posição do conjunto dos países africanos, os acionistas regionais, que sempre defenderam o presidente".
Adesina foi alvo de acusações feitas por um conjunto anónimo de funcionários sobre favorecimento de familiares e atribuição de contactos. A decisão da comissão de ética do banco, que ilibou o presidente da instituição, foi criticada pelos Estados Unidos, a que se juntaram depois outros membros não regionais.
A comissão nomeou então um grupo de trabalho, do qual fazia parte a antiga Presidente da Irlanda Mary Robinson, para validar as conclusões da investigação, tendo o grupo concluído que Adesina devia ser absolvido de todas as acusações feitas pelo grupo anónimo de funcionários e que o comité de ética analisou de forma isenta o caso.
Os governadores do BAD defenderam o fortalecimento das práticas de governação desta entidade financeira, autorizando a criação de um grupo de trabalho para rever o enquadramento dado às denúncias anónimas.
"Apelamos ao Grupo [do BAD] para fortalecer a governação interna, cumprimento das regras, funções de controlo e responsabilização, para se alinhar com as melhores práticas das instituições comparáveis", lê-se no comunicado final de 16 pontos assinado pelos representantes dos 81 países e instituições que são acionistas do banco.
No texto, divulgado no final das reuniões de hoje e quarta-feira que marcaram os Encontros Anuais do banco, defende-se ainda a criação de um grupo com o específico objetivo de rever a regulamentação aplicada às denúncias anónimas.
Os próximos Encontros Anuais do BAD serão realizados em Acra, a capital do Gana.