No contexto da arquitetura norte-americana, marcada por zonas urbanas e ruas perpendiculares, em que há "pequenas ruas de acesso às garagens localizadas em anexo às habitações", estas ruelas podem ter um "maior aproveitamento para a construção de apartamentos", disse hoje à agência Lusa a vice-presidente da Câmara Municipal de Toronto, Ana Bailão.
"Há quilómetros destas vias que não são, na minha opinião e de muitos dos meus colegas, utilizados no seu potencial", sublinhou, referindo-se aos cerca de 300 quilómetros de vias existentes em Toronto, disponíveis para a construção de apartamentos junto às várias residências.
A vereadora eleita pelo bairro 9 de Davenport falava à Lusa durante um encontro público, numa pastelaria localizada no norte de Toronto, com a presença de várias dezenas de residentes do seu distrito eleitoral, o maior com portugueses no Canadá.
A lei municipal que autoriza a construir este tipo de habitação entrou em vigor em dezembro de 2018, existindo atualmente 52 licenças aprovadas estando outras 50 em análise pelos serviços municipais.
"Estamos a identificar que estas pessoas, ao construírem este tipo de apartamentos, pretendem ter uma fonte de rendimento extra, com um apartamento para a arrendar, ou têm uma oportunidade para terem um apartamento para colocarem os seus pais. Ou então, para os jovens terem a sua primeira casa, ganhando com isso alguma liberdade", realçou Ana Bailão.
A luso-canadiana, que também é a presidente da Comissão Municipal de Habitação e de Planeamento Influente, frisou ainda que este modelo de habitação "vai dar asas a que haja um pouco mais de intensificação urbana na cidade de Toronto".
"A cidade de Toronto tem crescido imenso. Nos próximos dez anos, a população vai aumentar um milhão de habitantes. Somos a cidade que mais está a crescer no Norte da América, temos 120 gruas no ar, as outras cidades nas posições atrás de nós têm 49 cada uma, são Los Angeles e Seattle [Estados Unidos]", destacou.
Tanto o governo provincial como a autarquia de Toronto têm incentivado os proprietários de habitações a criarem apartamentos secundários, nas caves, no segundo andar das propriedades, ou nas 'laneways', que lhes permita "uma nova fonte de rendimento", criando-lhes propriedades de arrendamento e mais fogos habitacionais.
"A habitação está em crise porque a população está a crescer, há uma falta de fogos habitacionais e obviamente isso tem um impacto nos preços. Estamos com uma necessidade enorme de produzir mais fogos habitacionais e de controlar aspetos como o alojamento local. Já criámos regulamento, como propriedades que são consideradas de investimento e não estão habitadas, estamos a estudar a criação de um imposto ", alertou.
Quanto à resolução da crise no setor imobiliário em Toronto, "não há uma solução", mas terão de se implementar "medidas em conjunto com os vários governos, municipal, provincial e federal", envolvendo ainda o setor privado.
"A criação de habitação a preços acessíveis é uma questão fundamental para a saúde económica e social da cidade, do que é hoje o engenho económico deste pais e a quarta maior cidade da América do Norte", concluiu Ana Bailão.
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