Segundo a informação publicada no 'site' da Internet da Febase - Federação do setor Financeiro, a direção da estrutura sindical "decidiu iniciar formalmente" negociações com o BCP com vista a um corte de salários dos trabalhadores do banco enquanto durar a intervenção do Estado na instituição, até 2017.
Em troca, os sindicatos que representam os bancários exigem que o valor que passará a ser poupado pelo banco fique em crédito e que seja devolvido aos trabalhadores no futuro.
"A proposta da Febase configura uma posição inédita em Portugal, já que para evitar o despedimento coletivo de centenas de trabalhadores que o BCP se propõe fazer, caso não haja acordo com os sindicatos, pondera discutir um reajustamento salarial temporário, do qual os trabalhadores serão reembolsados nos dois anos subsequentes à verificação de lucros", lê-se na proposta a que a Lusa teve acesso e que seguirá para a direção do BCP, presidida por Nuno Amado.
A Febase propõe ainda que, durante o período em que vigorarem os cortes salariais, os trabalhadores com crédito à habitação ou outros créditos do banco vejam também as prestações diminuírem e que fiquem intactos os direitos à "manutenção integral da retribuição base, subsídio de almoço e diuturnidades".
O plano de reestruturação que o BCP acordou com Bruxelas, depois de Estado ter injetado 3.000 milhões de euros no banco para o recapitalizar, prevê a redução do número de trabalhadores em Portugal para 7.500 até final de 2017 e a redução de cerca de 135 milhões de euros nos custos com pessoal.
Para evitar o despedimento de cerca de 1.200 trabalhadores, tendo em conta os 8.703 que o BCP tinha no final de setembro, o banco propôs aos sindicatos reduções salariais.
Na informação agora divulgada, a Febase diz que o BCP está ainda disposto a ir ainda mais longe no corte de postos de trabalho, pelo que espera que a sua disponibilidade para negociar permita "salvar" muitos funcionários do desemprego.
"Caso não haja acordo, o BCP pretende reduzir os postos de trabalho para 7.100, com o recurso ao despedimento coletivo, pelo que a Federação decidiu encetar negociações visando o afastamento do despedimento coletivo", afirma na nota divulgada na Internet.
Mesmo com cortes salariais, espera-se que algumas centenas de trabalhadores saiam do BCP, mas nesse caso através de reformas antecipadas ou rescisões de contrato por mútuo acordo, casos em que a Febase espera que o banco ofereça "melhores condições" do que o exigido pela lei ou pelo acordo coletivo do setor.
Na apresentação dos resultados do terceiro trimestre, o presidente do banco, Nuno Amado, disse que as reduções salariais deverão andar entre 5% e 10%.
Sobre quantos trabalhadores serão poupados da saída do banco caso a redução salarial avance, o responsável não quis adiantar, mas disse que "a diferença entre um cenário e outro são 400 a 500 postos de trabalho". Isto é, se houver acordo para se cortarem salários, entre 400 a 500 trabalhadores serão poupados do desemprego.
O presidente do BCP afirmou ainda que espera que até final deste mês haja pelo menos "um princípio de acordo" e que, caso isso não aconteça, fará um "conjunto de rescisões unilaterais já que banco tem de cumprir com os compromissos subjacentes para bem do banco e da economia portuguesa".
O BCP tem vindo a emagrecer os seus recursos humanos, acompanhando as exigências dos reguladores mas também a queda do negócio bancário. Em 2012, o banco já tinha levado a cabo um amplo programa de corte de postos de trabalho, com mais de 1000 trabalhadores a saírem do banco, a maior parte através de rescisões amigáveis.