"Tenho de confirmar as especulações. Em 2015, já não serei ciclista profissional", afirmou o corredor da Trek, visivelmente emocionado, durante uma conferência de imprensa, realizada no Luxemburgo.
Andy Schleck, que estava sem equipa para o próximo ano e que nas últimas épocas pouco tem corrido, alegou problemas na cartilagem do joelho para justificar o fim da carreira aos 29 anos: "É duro tomar esta decisão, mas já não posso mais. Paro por aqui", disse.
"Gostava de continuar a lutar, mas o meu joelho não deixa. Desde a minha queda no Reino Unido [na terceira etapa da Volta a França], houve poucos progressos. Os ligamentos sararam, mas os danos na cartilagem são outra história", acrescentou o mais novo dos irmãos Schleck, vítima de várias quedas violentas nos últimos três anos.
O luxemburguês explicou que, apesar do esforço de reabilitação, "conseguia rolar três ou quatro horas, mas depois o joelho começava a doer". A queda no Tour, a 07 de julho, coincidiu assim com a última vez em que montou numa bicicleta em competição.
"O ciclismo tem sido a minha vida durante muitos anos e vou precisar de tempo para perceber o que gostaria de fazer", disse Schleck, que além do triunfo conta mais três presenças no pódio do Tour, no qual a vitória de uma etapa em 2011 no "gigante" Galibier é um dos momentos mais altos da sua conturbada carreira.
Andy Schleck tornou-se a grande promessa do ciclismo mundial quando, em 2007, com apenas 21 anos, se estreou nas grandes voltas com o segundo lugar final no Giro e o título de melhor jovem. O 11.º lugar no Tour do ano seguinte augurava uma carreira brilhante, um prognóstico que confirmou com a vitória na Liège-Bastogne-Liège do ano seguinte, poucos dias depois de ter sido segundo na Flèche Wallone.
A melhor temporada do seu curto palmarés foi mesmo a de 2009, ano em que foi segundo no Tour atrás do espanhol Alberto Contador. Na "Grande Boucle" do ano seguinte, os dois protagonizaram um grande duelo, com "El Pistolero" a superiorizar-se com um "golpe baixo" -- atacou o seu grande amigo quando a corrente da bicicleta deste saltou, aproveitando o infortúnio do luxemburguês para conquistar uma vantagem que este não conseguiu anular.
O episódio perturbou-o -- haveria de ganhar aquela amarela na secretaria na sequência do positivo por clembuterol daquele que foi sempre o seu maior rival -, mas não o impediu de subir pela terceira vez consecutiva ao segundo lugar do pódio em Paris, em 2011, desta feita atrás do nada favorito Cadel Evans, um feito que lhe valeu a alcunha de "eterno segundo".
Tinha então 26 anos e, pensava-se, uma carreira brilhante pela frente, além de um contrato milionário com a Leopard Trek (depois RadioShack e agora Trek). No entanto, esse seria o último momento de brilho de uma estrela (de)cadente.
Seguiram-se 1.174 dias sem ganhar e sem um único "top 10" desde aquele 24 de julho de 2011. Entre rumores de depressão, dependência de álcool ou persistentes alegações de envolvimento em esquemas de dopagem, os factos indicam que o seu calvário desportivo começou a 09 de junho de 2012, quando uma queda no Critério do Dauphiné, causadora de uma fratura no osso sacro, o afastou do Tour e lhe condicionou uma época resumida em 33 dias de competição.
"Foi uma temporada terrível", reconheceu em setembro, para semanas depois prometer que 2013 seria o ano do seu regresso. Não foi: somou 75 dias em cima da bicicleta, mas sem resultados, uma época negra que teria como grande destaque o modesto 20.º lugar na Volta a França e a proeza de ter concluído uma prova (o Grande Prémio Cittá Camaiore, a 28 de fevereiro) pela primeira vez desde a Liège-Bastogne-Liège, 312 dias antes.
Os maus resultados valeram-lhe críticas desde dentro da sempre paciente RadioShack, com o "patrão" Flavio Becca a exigir-lhe que começasse a ser um atleta sério.
Para a história ficam as inúmeras entrevistas que deu, com títulos apelativos como "Saí do túnel" ou "Nunca estive morto, talvez só adormecido". 2014 foi uma repetição do caos do ano anterior: abandonou o Tour antes da quarta etapa, um dia depois da queda, e terminou a carreira três meses depois, com o 29.º lugar na Volta à Suíça como melhor resultado.