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"Cheirei cocaína da minha medalha olímpica. Foi como urinar numa campa"

Sir Bradley Wiggins, campeão olímpico e da Volta a França, revela, na mais recente autobiografia, como acabou por cair em desgraça, após uma infância marcada por um historial de abusos sexuais.

"Cheirei cocaína da minha medalha olímpica. Foi como urinar numa campa"

© Getty Images

Carlos Pereira Fernandes
11/10/2025 17:06 ‧ há 3 horas por Carlos Pereira Fernandes

Sir Bradley Wiggins é um nome incontornável da história do desporto inglês, graças a uma carreira onde se destacam um total de oito medalhas olímpicas (cinco de ouro, uma de prata e duas de bronze) e uma vitória na Volta a França (em 2012). No entanto, aos 45 anos, assume que a vida que teve foi tudo menos simples.

 

O antigo ciclista vai lançar, no próximo dia 23 de outubro, uma autobiografia, intitulada 'The Chain', na qual enumera as dificuldades por que passou, especialmente, entre os 13 e os 16 anos de idade, quando foi sexualmente abusado pelo treinador, Stan Knight. Num trecho publicado, este sábado, pelo jornal britânico The Times, o próprio revela como estes episódios o afetaram, numa fase mais adiantada da vida, em 2018.

"Não há um processo até ao vício das drogas. Não fiquei lá, especado, durante dez minutos, a pensar se deveria ou não fazê-lo. Não imaginei as profundezas às quais a cocaína poderia levar-me, nem pensei se, após ter desempenhado papel de protagonista de numa grande produção de Danny Boyle, a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, iria acabar como figurante noutra, 'Trainspotting'", pode ler-se.

"Limitei-me a ficar ali, eufórico. Foi como descobrir algo de totalmente novo, uma sensação até então removida do meu 'normal', de tal maneira que era quase fora deste mundo. Um único pensamento dominou a minha mente: 'Consigo ultrapassar paredes com isto!'. Isso não é festejar a cocaína, é apenas para explicar como algo tão estranho à vida que levava até àquele ponto poderia dominar-me tão incrivelmente depressa", prosseguiu.

"Assim que deixei o mundo do desporto e vi o quão aceite a cocaína era na sociedade, especialmente, entre as figuras criativas e artísticas que respeitava, o seu uso tornou-se 100% legítimo e validado. Não era como se estivesse com um monte de marginais a rastejar na sarjeta. Fui levado à narrativa de que as drogas são algo de porreiro", completou.

"A pessoa que eu tinha sido em Paris e Londres também estava morta para mim"

Sir Bradley Wiggins confessou, de seguida, que, "quanto mais cocaína consumia, mais preso ficava num ciclo de confusão", de tal maneira que, pese embora tenha conseguido passar "três semanas" sem as consumir, não conseguiu livrar-se do vício: "Eu culpava o sucesso de 2012 por tudo aquilo que tinha acontecido, convencido de que, ao conquistar a Volta a França e os Jogos Olímpicos, tinha feito com que tudo desabasse sobre mim próprio".

"Enlouqueci de fúria quando destruí o meu troféu de Personalidade Desportiva do Ano de 2012 e a minha cavalaria. 'Isto não é sucesso'. Fiz isso em frente aos meus filhos. Não é de admirar que houvesse alturas em que eles falaram de tentar colocar-me na reabilitação. A profanação da minha medalha olímpica pode ter acontecido longe dos olhares deles, mas é igualmente triste de recordar", lamentou.

"Centenas de milhares de pessoas a gritarem por mim, outros milhões a ver em casa. Um dos grandes momentos de Londres'2012, e lá estava eu, de roupão, a cheirar cocaína [da minha medalha de ouro], a troçar do meu feito, a odiá-lo por aquilo que eu acreditava que me tinha causado. Foi o equivalente a urinar na campa de alguém, e, naquele momento, estava a urinar sobre mim mesmo. A medalha de ouro, a Volta a França... Tudo isso estava morto, para mim. A pessoa que eu tinha sido em Paris e Londres também estava morta para mim", acrescentou.

"Na verdade, fiz uma videochamada com um companheiro viciado durante aquela depravação: 'Olhão quão engraçado eu sou, a cheirar cocaína da minha medalha olímpica de Londres!'. Não é de admirar que, no meio desta loucura, o meu casamento estivesse a colapsar. A Cath é uma vítima tão grande dos últimos 12 anos como outra qualquer. Ela pagou o derradeiro preço por ser minha mulher", rematou.

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