Depois de uma entrada a todo o gás na fase de liga única da Liga dos Campeões, o Sporting averbou, na noite de quarta-feira, a primeira derrota nesta edição da competição europeia, com um desaire na visita ao Napoli, por 2-1. Um resultado que, certamente, soube a pouco a alguns dos adeptos, dado o que foi a prestação dos leões no sul de Itália.
Talvez um pouco antevendo o que será a receção de domingo, no Estádio de Alvalade, ao Sporting de Braga, Rui Borges surpreendeu no onze escalado em Itália e operou algumas mexidas. Alterações que Beto Pimparel considera terem sido justificadas.
Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o antigo guarda-redes analisou as opções do treinador natural de Mirandela, frisando que, numa altura em que o calendário de jogos começa a apertar, é fulcral que vá mexendo numa ou noutra posição para manter fresca a equipa a cada partida.
"Começando pelas alterações... há muita coisa sempre em jogo. Tenho a certeza de que o Sporting, seja em questões da I Liga, da Champions ou da Taça de Portugal, tem no seu ADN entrar sempre para discutir resultados, para vencer jogos. Esse será sempre o princípio base do Sporting. No que diz respeito às alterações, creio que há aqui muita coisa que se poderia discutir. Só o Rui Borges e o seu plantel saberão o porquê dessa gestão. Há duas viagens e outro dado muito importante. Existem dois jogos que podem significar muita coisa para o Sporting. Primeiro que tudo, o seu próprio jogo, com o Sporting de Braga, e depois o Clássico, em que o Sporting vai ganhar pontos a alguém ou pode ganhar pontos aos dois", começou por dizer o antigo internacional por Portugal.
"Há aqui muita coisa que tem que ser gerida, nunca abdicando, na minha perspectiva, do princípio base que é o Sporting entrar em campo para ganhar todos os jogos. Ninguém sabia se havia jogadores com cansaço, ou se foi apenas uma gestão tática e técnica por parte do Rui Borges. Pelo desenrolar do jogo, acho que o Sporting respeitou demasiado o Napoli numa primeira fase do jogo. No entanto, rapidamente se percebeu que a equipa tinha argumentos para este Napoli", ressalvou Beto Pimparel.
O antigo guarda-redes recusou, ainda, a ideia de que Rui Silva tenha sido culpado pelo desaire do Sporting em Nápoles, a propósito do erro cometido no bis de Rasmus Hojlund.
"É verdade que os golos têm que nascer sempre de erros... a questão de que não foi feita uma falta, isso é maturidade competitiva. Já a saída do Rui Silva, faz parte do jogo e do crescimento do guarda-redes. Toda a gente vai errar. Nunca poderia apontar a derrota a um erro individual. Nunca o fiz e muito menos a um guarda-redes. O mais importante é a questão da maturidade competitiva, de saber em que momento do jogo é que a equipa está inserida, e perceber que tem que fazer uma falta para se reorganizar, para se proteger. Isto é crescimento do Sporting a nível europeu. Pessoalmente, fica muito de sabor a pouco, porque, com o desenrolar do jogo, eu percebi que o Sporting tinha argumentos para sair de Nápoles, neste caso, com outro resultado", asseverou Beto Pimparel.
A importância da experiência de Rui Silva e o jogo com o Sp. Braga
Rui Silva regressou à titularidade na Liga dos Campeões, depois de ter falhado a primeira jornada por lesão. Beto Pimparel acredita que aposta no internacional português no onze inicial justificava-se pela importância do duelo diante do Napoli.
"Eu já passei pelo mesmo de vir de lesão e ter um jogo importante de Liga dos Campeões. Na altura, o míster Unai Emery colocou-me a jogar, mesmo eu tendo estado parado duas ou três semanas. O jogo tinha uma carga emocional muito grande e era necessário ter jogadores no campo em posições específicas, com bagagem, para aguentar também muitas vezes os tempos de jogo e para também transmitir essa mesma experiência ao resto da equipa. Acredito que seja muito por aí que o Rui Borges tenha voltado a colocar o Rui Silva. Pela sua experiência, obviamente, sempre pela sua qualidade, acima de tudo, mas pela sua experiência. O Rui já tem alguma experiência a nível dos jogos europeus, há uma sinergia muito grande sempre entre o Rui e a linha defensiva. Não quero dizer com isto que o outro guarda-redes não o pudesse fazer tão bem, ou melhor, mas partimos sempre do princípio, que antes do jogo, o treinador vai querer colocar sempre aqueles que lhe darão mais garantias, não só de qualidade e de performance, mas também de gerir aquilo que é um jogo de Champions, e com um Napoli que é uma grande equipa", vincou o ex-jogador.
Tendo em conta a proximidade e a importância de domingo contra o Sporting de Braga, Beto referiu que Rui Borges fez a opção certa ao rodar a equipa neste duelo em Itália.
"Tem sido um contra-relógio a nível de jogos e a nível de recuperação é difícil para um treinador. Os treinadores querem sempre colocar os melhores, querem sempre colocar o melhor 11, mas nem sempre o seu melhor onze é aquele que está na melhor forma, ou está num melhor momento. O treinador acaba por ser um gestor de esforço, de carga emocional, um gestor psicológico, um gestor físico. É muito nessa base que o Rui Borges fez as alterações que fez contra o Napoli. Não nos esqueçamos que houve viagem pelo meio e que até houve um problema com a viagem para o Sporting. Estamos numa fase muito inicial, mas há jogadores que já levam bastantes jogos e com pouco tempo de descanso. E depois ainda se metem seleções. Há aqui muita coisa que o treinador tem que gerir. E como eu disse anteriormente, provavelmente a sua prioridade e a prioridade dos grandes, seja ele qual for, é o campeonato", afirmou Beto.
"Não se ganham campeonatos já, obviamente, e não se ganham campeonatos num jogo. Mas agora é uma oportunidade verdadeiramente factual que o Sporting tem nas mãos. Primeiro, tem de vencer o seu jogo e, depois, também tem esse 'plus' de poder ganhar pontos a um ou inclusive aos dois rivais. Tudo isto joga na cabeça dos treinadores, do plantel, e há que fazer gestão. Há que fazer gestão porquê? Porque a fatura de colocar em Nápoles o onzes mais habitual do Sporting poderia sair cara, não só ao Rui Borges, como a toda a equipa. Há que fazer acertos de vez em quando, a nível físico, de gestão de esforço ,e acho que foi aquilo que o Rui Borges fez. Não acho que tenha sido uma questão de desvalorizar o jogo, mas sim pensar um bocadinho neste pacote de dois, três jogos", finalizou.
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