"Estou feliz por ter conseguido vencer o ano passado, já me deixou mais tranquilo. Sinto que já não tenho pressão para ganhar, porque já ganhei uma vez", assegurou o ciclista russo.
Antes de iniciar a defesa do título, na quarta-feira, na Maia, Artem Nych deu uma entrevista à agência Lusa no 'quartel-general' da Anicolor-Tien21 em Vizela, na qual recordou a 'sofrida' vitória de 2024, alcançada depois de ter integrado duas fugas bem-sucedidas, nomeadamente na penúltima etapa rumo à Senhora da Graça, quando já parecia totalmente afastado da luta pelo pódio.
"Espero que seja mais fácil, mas nunca sabes. A Volta é muito complicada, podem acontecer sempre muitas coisas. Mas nós temos uma equipa muito forte e também eu não sou o único líder da equipa, temos outros. Acho que vamos correr bem", antecipou.
Embora o seu diretor desportivo, Rúben Pereira, tenha dito em entrevista à Lusa que o russo será o único chefe de fila, o ciclista de 30 anos tem uma ideia diferente.
"Acho que não sou o líder", reiterou, antes de 'nomear' o colega Alexis Guérin, o colombiano Jesús David Peña (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense) e o equatoriano Jonathan Caicedo (Petrolike) como principais candidatos ao triunfo final na 86.ª edição, sem esquecer os homens da Caja Rural.
Nych repartiu os triunfos nas principais corridas da época com Guérin, mas defende que nem sempre o que acontece durante o ano se reflete nos resultados da prova 'rainha' do calendário nacional.
"Por vezes, ganhamos muitas corridas e acabamos em quarto [como lhe aconteceu em 2023]. É melhor falarmos depois de ganhar", disse, rindo-se.
Nas duas anteriores edições, o campeão russo de fundo em 2021 'fraquejou' na alta montanha, mas admite sentir-se mais preparado para a 86.ª Volta a Portugal, que conta com cinco chegadas em alto, seis etapas de média/alta montanha e um permanente sobe e desce mesmo nas tiradas mais 'simples'.
Na confiança reforçada com que encara os próximos dias, pesa o facto de ter começado a ser orientado por um treinador: "Nos últimos três, quatro anos, treinei sozinho, agora treino com um treinador. É tudo mais certo, mais tranquilo. Não preciso pensar no que fazer ou não fazer, assim não tenho dúvidas. Sinto-me mais forte, porque, às vezes, treinava mais do que precisava".
Ainda assim, o homem que este ano venceu os Grande Prémios Douro Internacional e O Jogo e ainda terminou no pódio do GP Beiras e Serra da Estrela lembra que nem sempre as sensações têm correspondência com aquilo que acontece na estrada.
"Às vezes, achas que estás a 200% e, depois, ficas num corte a caminho da serra [da Estrela]. Mas este ano há um contrarrelógio a rolar, que para mim é perfeito. Posso ganhar algum tempo no 'crono' se perder na montanha", perspetivou, numa referência ao exercício de 16,7 quilómetros que 'encerra' esta edição, em 17 de agosto, em Lisboa.
O ciclista que foi 'resgatado' pela Anicolor-Tien21 ao desemprego a que foi condenado com o desaparecimento da Gazprom-RusVelo, devido à invasão da Ucrânia, identificou à Lusa as etapas que maior impacto podem ter na geral, começando já pela primeira, com a inédita chegada ao Sameiro, onde a meta coincide com uma contagem de montanha de segunda categoria.
"Vai chegar um grupo muito pequeno, de 10, 15 corredores. Também há etapas sem chegada ao alto que são também muito duras, e podes fazer muitas diferenças, como a da Guarda", enumerou.
A cidade mais alta de Portugal tem um significado especial para o russo, que aí vestiu a camisola amarela após a sexta etapa da edição de 2023, e nos últimos anos tem sido também decisiva para as contas da geral da prova.
"É uma etapa muito complicada, tem descidas muito perigosas e é seletiva. A Volta é sempre complicada. Nunca sabes onde vais fazer as diferenças. Tens etapas certas, como a etapa da Torre, mas há outras em que podes fazer a diferença se tiveres uma equipa forte", pontuou.
E se há formação forte neste pelotão é a Anicolor-Tien21, que não trabalhará mais devido à ausência de três das quatro ProTeam espanholas que costumam alinhar na corrida portuguesa.
"A nossa equipa trabalha sempre, estejam estas equipas ou não", declarou, lamentando a ausência da Euskaltel-Euskadi, Burgos Burpellet BH e Kern Pharma, "porque quando estão há um nível muito alto".
Na véspera de colocar o seu dorsal número um na camisola, Nych assume que "nada" mudou desde que foi campeão no ano passado, também porque gosta de "viver uma vida tranquila".
"Estou aqui há quase três anos e já estou habituado a Portugal. Conheço muitas pessoas, já falo melhor português e já entendo, por isso a vida é mais fácil para mim. Os primeiros dois anos foram complicados", reconheceu à Lusa.