"O principal objetivo é a consciencialização, junto das autarquias, da necessidade de que a transição energética inclua principalmente a bicicleta como uma prioridade nas políticas de mobilidade urbana", disse à Lusa o protagonista do Projeto 278.
Durante "aproximadamente 26 ou 27 dias", Tiago Cação vai fazer "algo como 6 mil quilómetros", o que para si "será uma prova de resistência" que também consiste em visitar "todas as Câmaras Municipais" de Portugal continental.
A 'Volta a Portugal' de Tiago Cação começa no Porto, na segunda-feira, às 09:00, em frente à Câmara Municipal, e termina em Lisboa no final do mês.
"Eu vou entregar uma carta de recomendação, com um conjunto de 10 medidas, a todas as câmaras municipais, porque em ano de eleições autárquicas é importante que este tema não fique de fora da campanha", considerou.
Para Tiago Cação, "os municípios desempenham um papel fundamental na construção de cidades mais sustentáveis e resilientes, e esse trabalho não pode ser feito nem daqui a 10 nem 20 anos, tem de começar já".
"Temos modelos de cidades completamente obsoletos, e mais uma vez estamos atrasados em relação àquilo que se está a fazer no resto da Europa", advogou, dando como exemplos "a transformação que Londres sofreu, a transformação que Paris está a sofrer, inclusive Manchester".
Vindo de Manchester "completamente chocado" pela positiva, Tiago Cação conta que "não havia trânsito, há uma comunhão completa entre os transportes públicos e outras formas de mobilidade urbana, e a cidade foi devolvida às pessoas", tal como em Barcelona, observou.
Entre as medidas que propõe aos autarcas nas cartas que vai entregar, Tiago Cação destacou a "mais importante", que lhe "causa confusão" não ser implementada: "não conseguir ver crianças ir para a escola de bicicleta".
"É uma coisa muito simples, é limitar o tráfego de atravessamento e reduzir as velocidades permitidas nas ruas ao redor da escola".
Para "convencer os céticos" acerca das vantagens de novos modos de mobilidade que não o automóvel, Tiago Cação questiona "desde quando e porquê é que a bicicleta deixou de ser importante na nossa mobilidade", pois "não há muitos anos" "a bicicleta era o principal meio de transporte do país, era um motor de desenvolvimento, principalmente nos meios rurais e até nas cidades".
Segundo o protagonista do Projeto278, "o que é preciso é perceber o que é que levou a que isso deixasse de acontecer".
"Sabemos: Políticas erradas, o grande lóbi da indústria automóvel, claro. Infelizmente temos uma grande indústria de produção de bicicletas e de montagem de bicicletas, mas como o seu principal negócio é a exportação, também não tem grande interesse em fazer lóbi", lamentou.
Tiago Cação acredita que "os céticos vão acabar por perceber, mais cedo ou mais tarde, que é mais benéfico", até porque pelas suas contas, "sem ter 100% de certeza", entre os autarcas "não há nenhum presidente de câmara que tenha perdido eleições ao transformar as cidades" com apostas deste tipo.
Questionado acerca do atraso do país na implementação de políticas menos centradas do automóvel, Tiago Cação recordou que Portugal está "claramente a falhar os compromissos e as metas climáticas".
"A Lei de Bases do Clima já determina que os municípios têm o dever de promover a mobilidade ativa e de implementar instrumentos como os planos de ação climática e mobilidade urbana sustentável", refere.
Tiago Cação refere ainda que o país dedica "demasiado tempo a discutir o poder central do que propriamente a discutir as questões dentro das autarquias", sendo estas que "têm a capacidade de decidir muitas coisas que definem o nosso modo de vida".