25 Abril: Poder económico amparou gradual força futebolística nortenha

A irrupção futebolística dos clubes da região norte depois do 25 de Abril de 1974 associou-se ao crescente enriquecimento local, em contraste com a decadência industrial na margem sul do rio Tejo, onde emblemas históricos definharam.

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Lusa
20/04/2024 08:17 ‧ 20/04/2024 por Lusa

Desporto

25 de Abril

"O empobrecimento da zona de Setúbal levou certas empresas a falirem, a fecharem e a perderem capacidade. É uma zona muito menos povoada hoje, porque é menos rica. No norte, viu-se justamente o contrário", disse à agência Lusa o historiador Ricardo Serrado.

O Sporting conquistou a primeira 'dobradinha' da democracia em 1973/74, temporada na qual alinharam na I Liga oito emblemas da Área Metropolitana de Lisboa, três do Grande Porto, dois do Algarve e representantes solitários das regiões do Ave, de Aveiro e de Coimbra.

Essa correlação de forças foi redimensionada nas cinco décadas seguintes, com a elite a incluir atualmente 11 clubes alojados acima do rio Vouga - quatro da Área Metropolitana portuense, quatro do Ave, dois do Cávado e um do Alto Tâmega - entre 18 participantes.

Sporting, Benfica, FC Porto, Vitória de Guimarães, Farense e Boavista coincidem face a 1973/74, enquanto Belenenses e Leixões seguem no profissionalismo através da II Liga.

"O distrito de Braga tem hoje seis clubes na I Liga. Essa presença está muito relacionada com o facto de as cidades - sobretudo Guimarães e Braga - terem crescido muito a nível económico. Sendo exportadoras dentro e fora do país, criaram riqueza. Essa riqueza traz pessoas, que, por sua vez, trazem valências e massa adepta", analisou Ricardo Serrado.

Dos 72 clubes envolvidos em 90 edições da I Liga, 30 estrearam-se depois da queda do Estado Novo, sendo que 12 se situam acima do rio Douro - com particular incidência em zonas de crescente indústria têxtil - contra quatro na Grande Lisboa, onde a supremacia pré-revolução entre os 'vizinhos' Benfica e Sporting passou a ser esbatida pelo FC Porto.

"Os clubes andam muito a reboque das suas próprias cidades. Muitas vezes, têm de se vincular às populações para que exista uma identificação com o adepto. Agora, um clube grande faz-se de massa adepta, que reside nas grandes cidades. Como país de cidades pequenas, Portugal estará sempre condenado a ter poucos clubes grandes", enquadrou.

Ricardo Serrado lembra os 68 troféus acumulados pelo FC Porto desde a primeira de 15 eleições do atual presidente Pinto da Costa, em 1982 - entre os quais 23 campeonatos, num total de 30, mais sete êxitos internacionais -, bem longe dos 16 somados até então.

"É o dirigente mais titulado da história do futebol e isso teve um impacto tremendo no FC Porto. Agora, não há qualquer fundamento em referir que o facto de o clube vencer mais títulos a partir de 1974 teve a ver com o novo regime. O FC Porto começa a ganhar mais porque teve melhor organização interna. Não é por mais nada. Teve um presidente que organizou, projetou e dinamizou o clube, tornando-o um dos maiores da Europa", vincou.

Detentor de 40 títulos antes do 25 de Abril, o Benfica juntou mais 45 depois dessa data e subiu de 20 para 38 o recorde de conquistas na I Liga, enquanto o Sporting foi campeão nacional por seis vezes, num total de 19, e somou 28 dos seus 54 êxitos em democracia.

"Depois, parece-me claro que os poderes político e desportivo estavam excessivamente centralizados em Lisboa. A criação da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) a norte [no Porto, em 1978] contribuiu para que houvesse maior distribuição dos poderes e transparência, algo que permitiu equilibrar melhor as coisas", explanou Ricardo Serrado.

Além do FC Porto, essa irrupção nortenha ajudou a projetar o Boavista, que se uniu aos três 'grandes' e ao Belenenses no quinteto de campeões nacionais em 2000/01 e figura atualmente como o quarto clube luso mais laureado, com nove troféus no pós-revolução.

Segue-se o Sporting de Braga, detentor dos mesmos sete êxitos dos 'azuis' do Restelo e principal adversário de Benfica, FC Porto e Sporting nas últimas duas décadas, enquanto Vitória de Guimarães, Estrela da Amadora, Beira-Mar, Vitória de Setúbal, Académica, Moreirense ou Desportivo das Aves também arrebataram troféus a seguir ao 25 de Abril.

Esse período trouxe ainda a projeção do arquipélago da Madeira, que se lançou na I Liga em 1977/78 através do Marítimo e atuou sucessivamente na elite de 1985/86 a 2022/23 - os Açores apenas fizeram a estreia em 1999/00 com o Santa Clara -, ajudando a tornar o futebol português num veículo frequente para a expressão de sentimentos regionalistas.

"É quase um futebol do norte contra outro do sul. O FC Porto simbolizou durante muitos anos e ainda hoje simboliza a bandeira do norte contra o sul", finalizou Ricardo Serrado.

 

 

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