O percurso da seleção portuguesa no Campeonato do Mundo chegou, este sábado, ao fim, fruto da derrota com a congénere marroquina, por 1-0. Um encontro 'quente', polémico e tudo mais, mas do qual a equipa das quinas só se pode queixar de si própria por não ter alcançado outro desfecho.
A forma exímia como o Leão do Atlas consegue preencher o terreno de jogo era já sobejamente conhecida, particularmente, da última eliminatória, quando 'manietou' por completo os planos de Luis Enrique e 'atirou' com Espanha para fora do Qatar. No entanto, os homens de Fernando Santos poucas vezes a conseguiram contornar.
Portugal até parecia ter levado a lição bem estudada, e entrou bem no Al Thumama Stadium, de tal forma que, ao fim de apenas cinco minutos, já contava com uma oportunidade de golo clara, quando João Félix cabeceou para uma grande defesa de Yassine Bono.
Uma sensação que, no entanto, rapidamente se desvaneceu. Seguiram-se largos minutos a trocar a bola de forma passiva, no próprio meio-campo, até que, eventualmente, Bruno Fernandes (um dos mais inconformados) tentava 'sacar um coelho da cartola' com um passe longo.
Pelo meio, Youssef En Nesyri ia dando 'sinais de vida'. Aos sete e aos 26 minutos, cabeceou a rasar os ferros. Mas à terceira foi mesmo de vez, e, quando o cronómetro contabilizava 42 minutos, aproveitou uma saída em falso de Diogo Costa para desviar para o fundo das redes.
À beira do intervalo, Bruno Fernandes voltou a 'aparecer'. Primeiro, na tentativa de cruzar, fez a bola embater em cheio na trave. Depois, entrou pela grande área dentro e caiu após lance com Achraf Hakimi. Protestos não faltaram, mas o árbitro mandou jogar.
No segundo tempo, a equipa das quinas passou do conservadorismo à ousadia 'descarada', mas, ora Yassine Bono, ora a falta de eficácia, não deixaram Bruno Fernandes (uma vez mais), Gonçalo Ramos e João Félix fazerem a festa.
Pelo meio, ainda houve tempo para Cristiano Ronaldo entrar, mas o cenário não melhorou. Já nos descontos, Walid Cheddira viu dois cartões amarelos e o respetivo vermelho no espaço de dois minutos, mas nem isso ajudou.
Marrocos tornou-se na primeira seleção africana da história a alcançar as meias-finais de um Mundial. Segue-se, agora, França (que deixou para trás Inglaterra), num encontro que terá lugar no Al Bayt Stadium, a partir das 19h00 (hora de Portugal Continental) de quarta-feira.
Figura
Numa equipa mais preocupada em não sofrer do que marcar, Youssef En-Nesyri fez aquilo pelo qual, por norma, se elogia os grandes guarda-redes, e correspondeu à altura nas poucas vezes em que foi chamado a intervir. Antes do golo, à beira do intervalo, já tinha deixado dois avisos, e, até sair, foi uma constante 'dor de cabeça' para Pepe e Rúben Dias.
Surpresa
Nos oitavos-de-final, já o selecionador espanhol, Luis Enrique, se tinha mostrado maravilhado com Azzedine Ounahi, atirando "Meu Deus, de onde é que saiu esse rapaz?". A verdade é que o número 8 voltou a ser irrepreensível, quer na altura de controlar as investidas portuguesas, quer a deixar a bola 'limpinha' nos pés dos companheiros de equipa.
Desilusão
A entrada de Rúben Neves para o lugar de William Carvalho foi a única alteração promovida por Fernando Santos face à goleada aplicada à Suíça, por 6-1, mas este revelou-se um 'tiro ao lado'. O jogador do Wolverhampton foi inofensivo a defender, e não conseguiu fazer uso das duas principais 'armas': os passes longos e os remates de meia distância.
Treinadores
Walid Regragui: Digam o que disserem da seleção marroquina, a verdade é que cumpre na perfeição o plano traçado pelo líder. Os magrebinos fecharam todas as linhas de passe a Portugal, mesmo sem o central titular, Nayef Aguerd, e, mais tarde, sem o lesionado Romain Saiss. Atacar não é a sua 'praia', mas permanecem acutilantes como poucos.
Fernando Santos: Portugal quis fazer tudo, e acabou por fazer (quase) nada. Na primeira parte, foi excessivamente cauteloso. Na segunda, e já em desvantagem, partiu para o 'desespero'... e ambas as estratégias foram anuladas. As dificuldades em jogar contra blocos baixos são crónicas, há anos, e não há sinais de que estejam a ser resolvidas.
Arbitragem
Num jogo que se adivinhava extremamente físico, dada a estratégia normalmente adotada pelos marroquinos, Facundo Tello procurou deixar jogar, adotando um critério disciplinar, por vezes, demasiado largo. Na ótica fica, no entanto, o lance onde recusou marcar grande penalidade por falta de Achraf Hakimi sobre Bruno Fernandes, que parece ser evidente.
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