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"Ricardo Horta no Benfica? Uma pessoa acorda e dizem A, depois já é B"

Numa altura em que se encontrava a dar os primeiros como treinador, Mauro Jerónimo presenciou bem de perto a evolução de Ricardo Horta no Vitória FC. Em conversa com o Desporto ao Minuto, o técnico de 35 anos abordou as falhas da transferência do jogador do Sporting de Braga para o Benfica, tendo ainda falado do estado do futebol português.

"Ricardo Horta no Benfica? Uma pessoa acorda e dizem A, depois já é B"
Notícias ao Minuto

07:53 - 14/10/22 por Miguel Simões

Desporto Exclusivo

Apesar de ser um treinador jovem, Mauro Jerónimo já leva uma dúzia de anos a comandar equipas, grande parte dos quais no estrangeiro.

O atual técnico do Pho Hien, do Vietname, chegou a treinar vários jogadores de referência em Portugal, entre os quais Rúben Vezo, mas acabou por destacar o nome de Ricardo Horta, na altura nos juniores do Vitória FC, tendo aproveitado para deixar rasgados elogios ao internacional português, em conversa com o Desporto ao Minuto.

"O Ricardo Horta tinha sido dispensado das camadas jovens do Benfica, sendo que o irmão [André Horta], no escalão abaixo, foi igualmente dispensado", começou por contextualizar, antes de reconhecer que a presença do internacional português nos sadinos também foi importante para o seu percurso.

"Tive a sorte de começar logo a aprender num bom nível como treinador adjunto, com este tipo de atletas de referência. O Vitória FC não tem muita qualidade a nível de infraestruturas, mas tem sempre bons recursos humanos, com pessoas que percebem de futebol, pelo que muitos jogadores saem de lá com sucesso", assinalou.

À atenção de Fernando Santos

Ricardo Horta saiu de Setúbal com destino a Málaga em 2014, precisamente o ano em que mereceu uma oportunidade de Paulo Bento ao estrear-se pela seleção nacional, num amigável perdido para a Albânia (0-1). Após dois anos em Espanha, o avançado português regressou a Portugal em 2016, pela porta do Sporting de Braga, clube onde ganhou mais notoriedade a nível interno e europeu, tendo despertado (finalmente) a atenção de Fernando Santos no passado verão.

Sobre esse assunto, Mauro Jerónimo realçou o mérito do extremo de 28 anos pelo percurso realizado até passar a integrar o lote de convocados do selecionador nacional com maior regularidade, tendo disputado quatro jogos na Liga das Nações.

"Já merecia por todo o trabalho que tem vindo a desenvolver e tem de se dar valor a isso. Pela qualidade que ele tem demonstrado, mesmo em competições internacionais, tem de estar naquele leque de jogadores. É um dos melhores talentos portugueses que temos neste momento. É um jogador com mais maturidade do que antes", destacou.

Notícias ao Minuto Depois de oito anos sem vestir a camisola de Portugal, Ricardo Horta estreou-se a marcar logo no primeiro jogo em que foi utilizado por Fernando Santos ao salvar um empate em Espanha (1-1), no passado mês de junho, a contar para a Liga das Nações.© Getty Images  

O técnico de 35 anos relembrou que "o campeonato português não é fácil de jogar", muito força do tempo útil de jogo ser "muito baixo comparativamente a outros países", algo que, de algum modo, pode condicionar o processo de afirmação de um jogador nos compromissos internacionais das seleções, mas confessou que já imaginava que Ricardo Horta poderia consegui-lo, assim como ter o destaque que tem na I Liga. 

"O facto de ser humilde e estar disposto para aprender levava-me a acreditar que ele ia ser jogador de I Liga, sem pensar eu que pudesse ser no Sporting de Braga ou no Benfica", atirou antes de acrescentar a "inteligência de jogo" do atleta: "Há sempre a parte física do jogador que é questionada, quando se é baixinho por exemplo, mesmo quando o próprio se trata bem. Já se notava que o Ricardo Horta tinha inteligência de jogo acima da média, aliada a uma genética de jogar os 90 minutos", realçou.

A quase saída para o Benfica... e os problemas em Portugal

A última janela de mercado de transferências em Portugal ficou inevitavelmente marcada pelo constante 'vaivém' das negociações entre Benfica e Sporting de Braga por Ricardo Horta, com o Málaga à mistura por reclamar dois terços do passe do atleta, algo que também mereceu uma análise detalhada em torno da complexa situação do passado verão.

"Isto é futebol. Uma pessoa acorda e dizem que é A, mais tarde já é B e as coisas estão constantemente a mudar. Existe um grande grupo de pessoas envolvidas no futebol. O jogador tem um intermediário, depois tem uma empresa e a seguir um clube. Há uma quantidade de tarefas a delegar, de pessoa para pessoa. Tudo isso acaba por complicar a situação", começou por dizer sobre o assunto.

"Antigamente, o número de recursos humanos era muito mais reduzido. Agora criam-se muitos departamentos, provoca maior confusão e perde-se a organização. O caso do Ricardo Horta não me surpreende. A complexidade no futebol está a aumentar e a qualidade a diminuir, sobretudo a nível de ações dos dirigentes do futebol, acrescentou.

Mauro Jerónimo aproveitou o caso de Ricardo Horta para detalhar algumas diferenças entre o exemplo da Premier League e uma competição como o campeonato português, referindo mesmo a questão da "profissionalização dos clubes"

"Assim também percebemos quais são os campeonatos em evolução, como o caso da Premier League, mas também aqueles que estão em regressão, que é claramente o caso do campeonato português. Isso é notório. Não estou dentro dessa realidade no dia a dia e acompanho à distância pelo que vou lendo e sabendo por pessoas em Portugal", referiu antes de abordar o papel das pessoas na organização dos clubes: "Em vez de estarmos a evoluir, estamos a regredir. Não no que toca à Federação Portuguesa de Futebol, mas sim na profissionalização dos clubes, das pessoas que lá trabalham e até na educação", antes de dar um exemplo que empobreceu a imagem do futebol português.

Notícias ao Minuto Mauro Jerónimo saiu de Portugal em 2015 e nunca mais regressou ao futebol luso.© DR  

"Houve um dia aqui no Vietname que fui para o meu escritório e a primeira coisa que me perguntam é se ouvi falar da pancadaria que houve num jogo [Clássico entre FC Porto e Sporting da última época] em Portugal. Nem eu sabia disso. Isso chegou ao Vietname, mesmo do outro lado do planeta, o que não deixa nada uma boa imagem. É uma pena. Temos tantas pessoas que gostam de futebol, que estudam e se dedicam como voluntários, mas ainda falta a evolução do dirigismo", relembrou.

Apesar de tudo, sobre a possibilidade de Ricardo Horta ficar com o futuro de alguma forma 'beliscado' por toda a situação oscilante nas negociações, Mauro Jerónimo confessou ter "pena" de um jogador cada vez mais maduro ter ficado impossibilitado de dar um novo passo na carreira em direção a um dos três 'grandes' de Portugal.

"Tenho pena por ele. Podia estar a ter uma grande oportunidade agora, numa fase mais madura da carreira, de jogar a um nível ainda mais elevado. Começou a sua formação no Benfica e até podia ser uma demonstração de que existem diversos caminhos para se chegar ao mesmo destino", realçou.

"Nem todos os jogadores têm de partir de baixo no mesmo clube. Podem passar por outros sítios, demonstrar o seu valor e depois voltar ao clube onde tudo começou. Seria bonito para ele e, apesar de não ter falado com ele sobre isso, acredito que teria ficado feliz se tivesse dado esse passo", rematou sobre o assunto.

Recorde-se que Ricardo Horta encontra-se a jogar em Braga desde 2016/17 e, esta temporada, apesar de não ter tido o melhor arranque, já leva o registo de cinco golos e três assistências pela equipa orientada por Artur Jorge.

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