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"Aprendi muito com Vítor Oliveira. Com ele, sabíamos o caminho a seguir"

No primeiro ano como treinador principal, Tozé Marreco fez o que poucos esperariam: promoveu o Oliveira do Hospital à nova Liga 3, que estreará esta temporada.

"Aprendi muito com Vítor Oliveira. Com ele, sabíamos o caminho a seguir"
Notícias ao Minuto

08:00 - 26/07/21 por Ruben Valente

Desporto Exclusivo

Se era possível fazer melhor? Dificilmente. Tozé Marreco deu início à carreira de treinador em 2019/20, época em que começou como adjunto dos juniores da Académica. Rapidamente, pela mão de Carlos Gomes, fixou-se como treinador principal dos jovens da Briosa e, na época seguinte, ou seja, na passada temporada, aceitou o convite para orientar o plantel sénior do Oliveira do Hospital no Campeonato de Portugal.

O objetivo era assegurar a manutenção, mas a época acabou por ser dourada. Depois de um início que parecia um verdadeiro pesadelo, Tozé Marreco reuniu as tropas e, triunfo atrás de triunfo, conseguiu colocar o Oliveira do Hospital na Liga 3, a nova competição da FPF para esta temporada.

Em exclusivo ao Desporto ao Minuto, o jovem treinador de 33 anos recordou a fantástica época que viveu em 2020/21 e perspetivou a campanha da equipa na Liga 3. A época, em Oliveira do Hospital, está já a ser preparada, e, para Tozé Marrec,o não há dúvidas: Quem não tiver ambição, dificilmente terá espaço entre as suas escolhas.

Os jogadores podem olhar para mim e pensar ‘olha, este gajo já me está a lixar’, mas, mais tarde, percebem que dizer-lhes sempre a verdade é o melhor caminhoPrimeiro de tudo, como foi o primeiro ano a orientar uma equipa sénior?

Foi uma experiência extremamente enriquecedora em vários aspetos. Não conhecia nenhum jogador do Campeonato de Portugal e, desde o dia em que assinei contrato com o Oliveira do Hospital, foi ver dezenas e dezenas de jogos e de jogadores, a tomar pulso ao campeonato, e, depois, ser muito criterioso na escolha de jogadores, tendo em conta o orçamento que tínhamos. Fiz de treinador e também fiz a gestão desportiva. Tinha de conversar com os jogadores, com os agentes… Foi um ano que equivaleu a muitos de experiência e que acabou de forma perfeita.

Sentiste alguma vez ou em algum momento que a tua idade [33 anos] deu origem a alguma dificuldade?

Não. Acho que o respeito e a liderança não se conquistam com a idade. Essas ideias estão muito associadas ao que eu quero numa equipa. A liderança não se pede, não se grita, é natural. Não tenho muitas regras, mas as que imponho têm de ser cumpridas. Quando assim é, não há grande margem para dúvidas. Sigo muito o conceito de dizer sempre a verdade. Por mais que custe ouvir, seja quem for, é o que faço. Os jogadores podem olhar para mim e pensar ‘olha, este gajo já me está a lixar’, mas é a pura da verdade e, mais tarde, percebem que esse é o melhor caminho. Não há nada a esconder.

Pensavas ser treinador enquanto eras futebolista ou foi algo que surgiu sem estares à espera?

Já pensava desde os primeiros passos como jogador. Sempre tive ideia de acabar cedo a carreira de jogador e começar a carreira de treinador cedo. No entanto, a verdade é que não fiz nada para que a minha carreira de treinador começasse. Acabou por acontecer… Deixei de jogar, tinha feito os dois cursos, e surgiu um convite para ir com o Vítor Gouveia como adjunto para a a formação da Académica. Entretanto, o Vítor saiu para a seleção de Angola e o Carlos Gomes convidou-me a ficar. As coisas correram muito bem e, já quando estava a preparar a época seguinte, surgiu o convite do Oliveira do Hospital, que não estava à espera, e decidi arriscar.

Em jogador já davas especial atenção aos métodos e dinâmicas dos teus treinadores?

Claramente. Queria, muitas vezes, perceber o porquê de cada exercício. Mas, além disso, sempre me interessou muito a parte da liderança e de gestão dos jogadores. Tentava perceber a razão para se ter dito aquilo naquela altura, o porquê de falar com aquele jogador… Sempre tive muita curiosidade e sempre fui vendo, principalmente, as coisas que eu não queria fazer, nem repetir. Também tirava coisas boas, porque tive a sorte de ter muito bons treinadores.

Com quem é que aprendeste mais e que treinador mais te marcou ao longo da tua carreira?

O Vítor Oliveira e a sua liderança. Esta parte da gestão dos atletas, como já disse, ele era incrível. Era uma liderança que não deixava margem para dúvidas. Sabíamos qual era o caminho e quem saísse do caminho sabia que ia ter problemas. Foi, claramente, o treinador que nesta parte me marcou mais e do qual tirei mais ensinamentos.

Terminaram em segundo lugar na vossa série e carimbaram o acesso à Liga 3. Qual foi a sensação no final da época?

Foi uma época de sonho. Começámos com três derrotas e depois a forma como conseguimos reagir… Não é só conversa quando se diz que só os bons grupos têm sucesso. Um grupo unido e a remar para o mesmo lado faz a diferença. Conseguimos juntar a parte da organização que tínhamos, adaptámos o nosso jogo ao campeonato, ao campo, e, além de tudo isto, havia a crença, a vontade e a ambição, que sempre foi muita. Não era expectável que uma das equipas com o menor orçamento do Campeonato de Portugal, com uma equipa totalmente nova, conseguisse chegar até aqui. Ainda por cima depois de começar com três derrotas. Nos últimos sete meses só registámos uma derrota. Houve uma vontade muito grande, o nosso objetivo era apenas a manutenção.

Notícias ao Minuto Equipa do Oliveira do Hospital reunida antes de um jogo do Campeonato de Portugal© Liga 3

Sentiste que esse espírito foi fundamental, suplantando, talvez, alguma carência técnica por parte da equipa?

O querer, a ambição e a vontade de ganhar esconde outros problemas, mas não faz tudo. Se só tivéssemos vontade, se só corrêssemos, também não chegava. Agora, a organização aliada a tudo isto é uma arma muito forte. Tem que haver um equilíbrio e nós conseguimo-lo de forma perfeita. A escolha que faço dos jogadores também tem muito a ver com isto. Já falei com alguns jogadores esta pré-época e, por exemplo, em dois perdi o interesse porque não vi ambição por parte deles. Para eles, jogar a Liga 3 ou o Campeonato de Portugal era a mesma coisa. Portanto, se não vejo ambição, não me interessa. Quero jogadores com vontade de vencer, como eu tenho.

E agora, quais as expectativas para uma nova competição?

Já preparámos o mercado desta época no final da passada temporada. Já tinha definido os jogadores que iria atacar, caso subíssemos. Estamos a conseguir os jogadores que queremos, faltam-nos apenas três ou quatro para fechar o plantel e estou contente. Quanto à Liga 3 acho que vai ser uma competição muito forte e com uma qualidade de II Liga. A projeção dada pelo Canal 11 é importante e acho que o nível das equipa inseridas é muito bom. Os orçamentos de algumas equipas é igual ou superior aos da II Liga e a qualidade dos jogadores que estão a reforçar a equipa, o que faz com que a competição tenha tudo para ser muito boa. Vai dar a conhecer grandes jogadores e grandes treinadores, obviamente. Será uma competição que vai marcar este ano e que veio para ficar.

Queria disputar esta Liga 3 e não queria dar passos mais largos. Tive convites para sair no final da época passada e achei que não era o ideal. Se me perguntares se quero chegar à I Liga? Quero, claroAchas que esta Liga 3 vem trazer uma lufada de ar fresco ao futebol português?

É uma competição que faz todo o sentido e que vai separar aqueles clubes que têm mais condições no Campeonato de Portugal. A verdade é que vão acontecer algumas surpresas todos os anos, tal como este ano a surpresa pode ser o Oliveira do Hospital estar a disputar este campeonato. É esta a beleza do futebol também. Nada é garantido e os orçamentos só por si não ganham jogos. Mas esta competição cria uma diferença que tinha de ser criada, até para as equipas da II Liga não caíram diretamente no Campeonato de Portugal. Esta organização faz todo o sentido e acho que já era necessária. É preciso é também que a Federação ajude os clubes.

E planos para o futuro? Fazes alguma projeção para daqui a quatro ou cinco anos, por exemplo?

Aquilo que quero fazer, e é o que estou a fazer, é uma carreira sustentada e merecida. Não quero que me dêem nada. O Tozé jogador já passou e agora há um treinador que está a mostrar o que pode fazer. Queria disputar esta Liga 3 e não queria dar passos mais largos. Tive convites para sair no final da época passada e achei que não era o ideal. Se me perguntares se quero chegar à I Liga? Quero, claro. Contudo, quero chegar lá com mérito e a mostrar trabalho. O risco é meu este ano, e, se as coisas correrem menos bem, ninguém se vai lembrar que a subida do ano anterior não era expectável, mas acredito muito que as coisas vão correr bem.

Enquanto jogador ficaste também célebre pela frase: “Se me chamasse Marrekovic, sei que estaria noutra liga”. Agora que és treinador, achas que esta frase pode também ser aplicada?

Não (risos). Na altura, essa frase foi em defesa da qualidade dos jogadores portugueses e hoje olha-se cada vez mais para dentro devido à falta de dinheiro. Sempre defendi o jogador português, como o faço agora.

Notícias ao Minuto Foi no Tondela que Tozé Marreco atingiu a sua época mais goleadora: 25 golos em 51 jogos© Global Imagens / Tony Dias  

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