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"Regressar ao Sporting? Ia deixar-me a pensar. É o meu clube do coração"

Aos 23 anos, o defesa-esquerdo é um dos pilares da formação do Orlando City e até já inscreveu o seu nome entre a melhor equipa da MLS na última época. A carreira nos Estados Unidos segue de vento em popa, mas o regresso ao Sporting seria o concretizar de um sonho.

"Regressar ao Sporting? Ia deixar-me a pensar. É o meu clube do coração"
Notícias ao Minuto

07:17 - 20/07/21 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

O campeonato de futebol dos Estados Unidos, a tão famosa Major League Soccer, conta com cada vez mais portugueses nas suas fileiras, alguns dos quais a brilhar por terras do tio Sam.

E não, não falamos de Nani, que tem espalhado classe pelos relvados norte-americanos, mas sim do companheiro de equipa João Moutinho, que tem tido uma ascensão fulgurante do outro lado do Oceano Atlântico, e que faz dupla com o internacional luso no lado esquerdo do Orlando City.

O jovem defesa-esquerdo de 23 anos, e em nada relacionado com o João Moutinho do Wolverhampton e da seleção portuguesa, rumou aos Estados Unidos em 2017, depois de ter feito quase toda a sua formação ao serviço do Sporting, onde jogou lado a lado com jogadores como Maximiano, Jovane Cabral, Daniel Bragança ou Rafael Leão.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, João Moutinho, que chegou aos Estados Unidos para participar no futebol universitário, falou da sua experiência em solo norte-americano, onde também já foi colega de André Horta, e sobre as possibilidades do Orlando City, clube que agora representa, chegar ao título de campeão nacional no final da presente temporada.

Reeditar a dupla Moutinho/Nani no Sporting? Para mim era um prazer e para ele também

Está há cinco anos nos EUA, depois de um longo período de formação no Sporting. Chegou como desconhecido ao futebol universitário, mas tornou-se num jogador reconhecido na MLS, ao ponto de ter sido eleito para o melhor onze da época. Como é que tem visto a sua evolução?

Muito positiva. Tinha 19 anos quando vim para um país completamente estranho, não conhecia ninguém a não ser o meu treinador da universidade. Vinha com expectativas elevadas, fui para uma universidade que me acolheu muito bem e era das melhores em termos futebolísticos. As coisas correram bem, tínhamos uma equipa muito boa e que me acolheu muito bem desde o primeiro dia. Depois surgiu a oportunidade de vir para a MLS ao fim da primeira temporada que fiz na universidade. Agarrei-a e a partir daí foi sempre a subir.

Como surgiu essa possibilidade de emigrar? Foi à procura de estudar, ou tinha mesmo esse desejo de experimentar a MLS?

Sempre tive o sonho de ser jogador profissional de futebol, era o que eu mais queria. Naquela altura nos juniores do Sporting talvez essa possibilidade não estivesse ali à porta. Andei a informar-me de outras possibilidades que existissem, e encontrei a Next Level, a empresa que traz os miúdos para as universidades americanas para estudarem e jogarem. Tive uma reunião com eles, gostei do projeto que me apresentaram. O meu treinador da universidade chegou a ir a Lisboa para ver um jogo meu e gostou. A partir daí fez a proposta e eu aceitei porque já estava mentalizado que aquilo que queria era rumar aos Estados Unidos para jogar e estudar ao mesmo tempo. Foi uma oportunidade muito boa para mim.

E porque achava que tinha essa falta de oportunidade no Sporting? Existiam poucas perspetivas do clube apostar em jovens?

Sim, também. Nos anos de juniores tive algumas dificuldades com lesões. Sinceramente já não estava muito feliz ali e sabia que ia ter de mudar de ares para voltar a ser feliz a jogar futebol e ir atrás do meu sonho. Essa oportunidade que apareceu nos EUA parecia-me a mais adequada na altura e creio que o foi. Felizmente aceitei-a.

Notícias ao Minuto João Moutinho ingressou no Sporting com oito anos© Reprodução Instagram João Moutinho  

A sua ascensão no futebol norte-americano foi meteórica, um pouco à semelhança do que aconteceu com o Neemias Queta. Foi do campeonato universitário à MLS num abrir e fechar de olhos. Como foram esses primeiros tempos para um jovem de 19 anos sem os pais e os amigos?

Nesse aspeto até foi tranquilo. Fui para um ambiente universitário e de equipa, estava bem integrado. Falava inglês antes de vir e isso ajudou-me. Tínhamos todos os mesmos objetivos e passava os dias todos com os meus colegas de equipa.

Comparações com João Moutinho? Para mim não é nada demaisRecuemos ao tempo de formação no Sporting. Começou a carreira logo aos oito anos, e está durante largas épocas ligado ao clube antes de ser emprestado ao Sacavenense. O que recorda desses tempos?

Foram tempos muito bons. Sempre fui do Sporting desde que nasci e sempre sonhei jogar nessa casa. Guardo muito boas recordações. Conheci muita gente e alguns amigos que mantenho hoje em dia e que são para a vida. O Sporting vai ser sempre um clube muito especial para mim.

Quando chegou ao Sporting, em 2007, já havia um João Moutinho no clube, e curiosamente até era capitão da equipa principal. Sentiu-se de alguma forma pressionado com isso?

Pressão? Nada disso. Há sempre pessoas que fazem comentários e piadas, mas é tudo tranquilo.

Hoje em dia acha que as pessoas ainda o confundem com o João Moutinho do Wolverhampton?

É normal que pensem no Moutinho do Wolverhampton. É um jogador mais conhecido, que vai à seleção há muitos anos e que já teve uma carreira brilhante. Mas cada um na sua caminhada, e eu faço a minha.

E tem lidado bem com isso?

Nem penso nisso [risos]. As pessoas quando me conhecem fazem esse tipo de comentário, e até me perguntam se ele é meu familiar, mas eu digo que é apenas uma coincidência. Mas nada demais.

Ao longo da formação foi colega de alguns jogadores que foram campeões no ano passado pelo Sporting, como o Luís Maximiano, o Jovane Cabral ou Daniel Bragança. Surpreende-lhe as boas prestações deles?

Não me surpreende em nada. Cheguei a jogar com o Bragança, que até é um ano mais novo que eu, nos juniores e lembro-me de o ver nas camadas jovens. Quando via os jogos dele, num escalão inferior ao meu, dava para perceber que ele tinha muita qualidade e não me surpreende que tenha chegado onde chegou e que esteja a brilhar como está. O Maximiano e o Jovane lembro-me bem quando os dois chegaram. O Max deu para ver logo que era um guarda-redes muito acima da média. Já o Jovane é um dos melhores que já vi na formação, um jogador explosivo, com muita força, e tecnicamente muito evoluído. Tenho a certeza de que todos vão continuar a subir.

Depois do empréstimo ao Sacavenense, foi para os EUA através do programa da Next Level e tirou o curso de Business Management (o equivalente a gestão em português). Sempre teve a ideia de estudar nos EUA, ou a prioridade era jogar futebol?

O objetivo principal sempre foi chegar só futebol profissional. Tive sempre essa segunda opção de acabar o curso se o futebol não funcionasse, mas felizmente consegui cumprir o meu objetivo.

Impressionou ao serviço dos Akron Zips no futebol universitário, e no ano seguinte é escolhido no draft para a Major League Soccer, rumando ao Los Angeles FC. Como foi essa experiência?

Foi muito positiva. Éramos uma equipa nova. Fui para lá no ano de fundação da equipa, era o primeiro ano deles na MLS. Ninguém se conhecia, foi um plantel formado do zero. Guardo memórias muito boas. Tínhamos uma equipa muito boa e fizemos uma época espetacular para um ano de estreia. Foi lá que cumpri o sonho de ser jogador profissional, e portanto vai ser sempre especial para mim.

Como foram esses tempos em Los Angeles? A passagem do frio do Ohio para o calor da Califórnia não deve ter sido fácil…

Foi uma mudança drástica, mas foi boa. A pior mudança foi ir de Lisboa para o frio e para a neve do Ohio [risos]. Nevava dias e dias seguidos. Quando fui para a Califórnia já tinha sol o dia todo e já estava mais em casa. Já parecia mais Lisboa [risos].

Teve a companhia do André Horta no Los Angeles FC. É sempre mais fácil a adaptação a um clube quando se tem alguém da mesma nacionalidade?

Claro que sim. Éramos os dois portugueses em Los Angeles e fiz ali um amigo para a vida. Ele é um grande jogador, e espero que continue a mostrar tudo o que mostrou até agora. Não preciso de estar a caracterizá-lo porque vocês [jornalistas] conhecem-no muito bem.

Notícias ao Minuto João Moutinho estreou-se na MLS ao serviço do Los Angeles FC© Getty Images  

O André Horta, a par do Nani, foi um dos últimos portugueses a rumarem aos Estados Unidos para jogar na MLS, onde já estava o Pedro Santos. Acredita que os atletas nacionais deviam experimentar mais esta mudança?

Sim, a MLS é uma Liga cada vez mais em crescimento e apelativa para os jogadores. É normal que existam cada vez mais futebolistas a quererem vir jogar para cá. Quantos mais portugueses houver por cá, melhor será para nós porque o campeonato será mais falado em Portugal.

Depois de um ano em Los Angeles rumou a Orlando, do outro lado dos EUA. Sente-se feliz com essa mudança?

Sim, muito. Temos um plantel muito bom, a equipa técnica é muito boa também e o clube é organizado. No ano passado fizemos um ano muito bom e apenas perdemos na final. Este ano, e com a equipa que temos, tenho a certeza de que temos tudo para chegar longe outra vez.

De uma assentada chegam ao clube dois portugueses, primeiro o João e depois o Nani. A equipa tem também muitos sul-americanos. Foi fácil essa conexão entre vocês?

Claro que sim. Nesse aspeto somos uma equipa muito unida. Há muito sangue latino, com colombianos, brasileiros, argentinos, uruguaios, e temos uma equipa muito coesa.

Falemos da sua relação com o Nani, ele que até foi campeão da Europa em 2016. Sempre existiu uma boa conexão entre vocês?

Ele dispensa apresentações [risos]. É um jogador fora do comum. É um craque, ajuda-me muito tê-lo aqui. Jogamos os dois do lado esquerdo e temos essa conexão mais especial. É um jogador com muita experiência, que me tem ensinado muito e em quem também me apoio.

Notícias ao Minuto Moutinho e Nani formam a ala esquerda do Orlando City© Getty Images  

Existe algum tipo de competição saudável entre vocês por ser os portugueses da equipa?

Não, porque também nos complementamos muito um ao outro. Eu sei que quando eu jogo eu o torno melhor, e quando ele joga também me torna a mim melhor. Nesse aspeto estamos muito apoiados um no outro. Tenho a certeza de que este ano vamos dar seguimento ao que fizemos no ano passado.

Se esta ala esquerda fosse replicada no Sporting como era?

Não sei como é que era [risos]. Pode ser que ainda venha a acontecer um dia. Claro que para mim era um prazer representar o Sporting e para ele também.

Para além do João, o Orlando conta ainda com o Nani e o Oriol Rosell como jogadores com um passado ligado ao Sporting. Como viram o título de campeão nacional conquistado pelos leões?

Ficámos muito entusiasmados. Foi um momento muito emotivo para mim, sem dúvida. Foi a primeira vez que me lembro de ter visto o Sporting campeão. Foi pena não poder estar em Lisboa nessa altura, estávamos a meio da época nos EUA. Mas fiz as minhas celebrações em casa. Não fizemos a festa no próprio dia porque íamos ter um treino bem cedo no dia seguinte, mas depois juntámo-nos e revimos o jogo outra vez.

Acredita que esse título do Sporting pode ser alcançado outra vez? O regresso dos adeptos pode fazer alguma diferença?

Não acredito que o regresso dos adeptos vá influenciar muito. Quanto à reconquista do título, temos uma equipa muito boa. No ano passado isso ficou demonstrado dentro de campo, e este ano têm tudo para serem campeões outra vez. E espero que assim o seja. A pressão já não está tanto do lado deles porque foram campeões no ano passado. Vamos ver.

Não escondemos de ninguém que queremos ser campeões este anoNo ano passado o Orlando City chega até à final, onde acaba por perder. Foi como morrer na praia?

A época no seu todo continua a ser muito positiva. Ficámos a 90 minutos do nosso objetivo, e infelizmente não conseguimos ganhar na final. Tirámos ilações desse jogo, e este ano esperamos chegar lá outra vez, desta vez ganhá-la e levar o título para casa.

E este ano quais são os vossos objetivos?

Sem dúvida que podemos repetir a chegada à final. Não escondemos isso de ninguém. Desde o início da época que dizemos que o nosso objetivo é sermos campeões. Somos uma equipa muito competitiva e com muita ambição.

Nos Estados Unidos tem tido oportunidade de defrontar alguns nomes consagrados do futebol europeu, como o Higuaín, ou Ibrahimovic, agora no AC Milan. Como é poder defrontar grandes nomes como eles?

É muito bom. É contra esse tipo de jogadores que todos nós [jogadores] queremos jogar. Contra o Ibrahimovic até foi no primeiro jogo entre o Los Angeles FC e o Los Angeles Galaxy, que marcou o início da rivalidade entre os dois clubes. Foi o meu quarto ou quinto jogo como profissional e foi muito especial para mim.

Notícias ao Minuto Moutinho disputa a bola com Ibrahimovic num dérbi entre o Los Angeles FC e o LA Galaxy© Getty Images  

Como tem lidado com a questão da pandemia de Covid-19 e a ausência de adeptos nas bancadas?

Aqui na Flórida já temos uma vida quase normalizada. Aliás, até já temos o estádio cheio. Nesse aspeto estamos muito à frente em relação a Portugal. Foi estranho ao início pararmos três ou quatro meses. Depois voltámos a jogar sem adeptos. Ao início foi um bocado estranho, mas depois do jogo começar estamos ali tão focados que se calhar nem notamos tanto. Mas, sim, agora é muito bom voltarmos a ter o nosso estádio cheio e termos os nossos adeptos a apoiar-nos durante o jogo todo.

Essa presença dos adeptos nas bancadas, em contraste com que aconteceu no ano passado, deixa-o mais motivado para o jogo?

Claro que sim. Chegamos ao estádio e começamos logo a ouvir o barulho dos adeptos, e quando entramos para o relvado ali no túnel já estão todos a cantar. É sempre diferente. O futebol é um desporto para os adeptos, e sem eles não tem nada a ver. O ambiente e o jogo são diferentes.

Futuro? Para já sinto-me muito feliz no OrlandoQuanto ao futuro, pensa em mudar de equipa nos EUA? Ou um regresso à Europa está em cima da mesa?

Não sei. Para já sinto-me muito bem aqui em Orlando. Temos uma equipa muito boa e competitiva com a qual podemos ganhar títulos. Primeiro tenho de terminar esta época, na qual espero que cheguemos bem longe e que possamos levantar a Taça no final do ano, e depois logo se vê. Por enquanto estou feliz e concretizado no Orlando.

E se amanhã chegasse uma chamada do Sporting?

[Risos] Claro que o Sporting me ia deixar sempre a pensar no assunto porque é um clube que apoiei desde sempre. É o clube do meu coração. Mas como já disse tenho um compromisso com o Orlando até ao final da época e é nisso que estou focado.

Apesar de estar num campeonato mais periférico, ambiciona ser chamado às seleções de Portugal?

Claro que sim, como qualquer jogador. Qualquer jogador tem essa ambição de jogar pelo seu país. Vamos ver no futuro o que pode acontecer.

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