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"Não quis acabar com os adeptos a perguntar o que ando a fazer em campo"

Cris decidiu terminar a carreira aos 37 anos e depois de muitos anos de ligação ao Feirense. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o agora antigo jogador explica as razões para a decisão e admite continuar ligado ao futebol no futuro. Pelo meio, recorda também uma passagem feliz pela Académica, clube no qual conheceu o treinador que mais o marcou: André Villas-Boas.

"Não quis acabar com os adeptos a perguntar o que ando a fazer em campo"
Notícias ao Minuto

07:56 - 12/07/21 por Francisco Amaral Santos

Desporto Exclusivo

Cris colocou um ponto final na carreira aos 37 anos e depois de uma longa ligação ao Feirense. O antigo médio entendeu ser o melhor momento para pendurar as chuteiras, numa decisão pensada e analisada já durante o decorrer da última época. 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Cris recorda o percurso que fez no Feirense, clube no qual é visto como um símbolo pelos adeptos fogaceiros, e explica as razões pelas quais decidiu terminar a carreira de jogador. 

O agora antigo atleta também não esquece os momentos felizes que viveu na Académica, onde conheceu o treinador que o mais marcou: André Villas Boas. Também as experiências fora de Portugal foram motivo de conversa. 

O ciclo tinha que acabar e a vida tem que continuar

Como têm sido estes primeiros dias na condição de agora antigo jogador? 

Claro que isto está a custar um bocadinho. Custa-me não ter aquela rotina, aquelas brincadeiras no balneário, não ver aquelas pessoas com quem tenho uma amizade há vários anos. Tudo isto custa, mas durante a última época já me tinha mentalizado que iria retirar-me. Já sabia a 99,9% que aquela seria a minha última época. Por aí, as coisas ficaram um bocadinho mais fáceis. Se acabasse com a sensação de que iria jogar mais uma época e depois não aparecesse nenhum clube e tivesse que acabar... Aí, sim, iria custar mais. Este processo de preparação para terminar a carreira ajudou-me. Custa-me, mas sabia o que iria acontecer. O ciclo tinha que acabar e a vida tem que continuar. É mesmo assim. Temos que ter a capacidade de nos readaptarmos a um novo estilo de jogo e a novas coisas que possam aparecer no futuro. É isso que eu espero. 

O que o levou a tomar a decisão de terminar a carreira? Sentia, por exemplo, que já não estava no auge das suas capacidades? 

Nos últimos dois anos joguei muito pouco e tive algumas lesões. Não foram graves, mas é sempre complicado depois para recuperar o ritmo e não jogando, ainda custa mais. Sempre tive em mente que não queria ser aquele jogador que ia ao limite das suas capacidades. Ou seja, só parar quando estivesse todo rebentado. Não. Eu queria parar bem fisicamente. Aliás, as pessoas na cidade, em Santa Maria da Feira, dizem-me que me podia ter feito mais uma época. E eu respondo sempre a mesma coisa: Mais vale acabar assim, com uma imagem boa, do que acabar com as pessoas a perguntarem o que é que eu ando a fazer dentro de campo. Não quis terminar dessa maneira. Quis terminar numa altura em que me sentisse bem e com condições físicas. Foi por aqui que tomei a minha decisão. 

O meu objetivo foi sempre terminar a carreira no Feirense

É considerado um dos grandes símbolos do Feirense. O que significa isto para si? 

É um orgulho enorme! O Feirense deu-me a oportunidade de ir para as camadas jovens com apenas nove anos. Depois fiquei lá até aos 23, que foi a primeira vez em que saí. Acabei por voltar anos mais tarde. Para mim, ter começado no Feirense, ter assinado o meu primeiro contrato profissional no Feirense e ter terminado no Feirense é um orgulho. O meu objetivo foi sempre terminar a carreira no Feirense. Seria perfeito e felizmente consegui. E outro dos meus objetivos era jogar na I Liga pelo Feirense e, felizmente, também consegui. Terminar a carreira no Feirense tem um significado enorme. É o meu clube. 

Espera ser visto como um modelo e um exemplo para os miúdos que estão agora na formação do Feirense? 

Exemplo não digo... Eu quero é que os miúdos olhem para mim e que digam que o Cris foi um jogador do Feirense mas que é uma pessoa de quem gostam. Que digam que foi alguém que conseguiu ser jogador profissional no Feirense e um dia também talvez possamos ter essa oportunidade. O meu filho joga nas camadas jovens do Feirense e às vezes vou lá ver os treinos e uma das maiores alegrias é os miúdos virem falar comigo. Isso é que é importante. Sentir que os miúdos gostam de mim pelo jogador e pela pessoa. Eu sou mais um e eles também, um dia, podem ter sucesso e serem profissionais no Feirense. Claro que é difícil, mas pode acontecer. 

Notícias ao Minuto Cris, em pleno duelo com Sérgio Oliveira, do FC Porto, representou o Feirense na passagem pela I Liga. © Getty Images  

Também esteve três anos na Académica e tem duas passagens no estrangeiro: Chipre e Grécia. Que memórias lhe ficam? 

A Académica foi um clube fantástico. Adorei lá estar. Adorei a cidade e as pessoas. Fui muito bem tratado na Académica. Foi um clube onde fiz a minha estreia na I Liga e que deu muito à minha carreira. Adorei mesmo lá estar. Três dos melhores anos da minha carreira foram com a camisola da Académica. Depois, fui para a Grécia, naquela que foi a minha primeira experiência no estrangeiro. Em termos desportivos até não correu muito mal, mas tive algumas dificuldades de adaptação. Estava na cidade pequena. Eu e a minha esposa estávamos praticamente sozinhos. Tinha assinado um contrato de três anos, mas ao fim do primeiro pedi para sair porque não me sentia adaptado. Por outro lado, no Chipre em termos desportivos estava a correr bem, jogava praticamente sempre, mas existiam muitos problemas financeiros e o clube não pagava. Em janeiro, o meu filho ia nascer e eu decidi rescindir o contrato e vir embora. Fiquei parado até ao final da época e depois regressei ao Feirense, onde fiquei até agora. 

Conta com algumas subidas de divisão, mas não ganhou nenhum título. Sente alguma mágoa? 

Sim. O meu grande sonho, tanto na Académica como no Feirense, era ter disputado uma final da Taça de Portugal. Esse foi um sonho que não consegui realizar. Gostava muito. Aliás, no ano em que deixei a Académica para ir para a Grécia eles ganharam a Taça de Portugal frente ao Sporting. Fui ver essa final ao Jamor e a Académica ganhou. Gostava de ter jogado a final e de ter conquistado a Taça. É um sonho que ficou por realizar.

O Villas-Boas marcou-me muito na Académica

Ao longo da sua carreira cruzou-se com vários treinadores. Algum deles o marcou de forma especial? 

Sim, houve um que me marcou particularmente. Antes de mais, quero dizer que aprendi com todos os treinadores com quem me cruzei. Uns ensinaram-me mais na parte técnica, outros na parte tática e outros na liderança e gestão de grupo. Felizmente, tive sempre bom relacionamento e gostei de trabalhar com todos. Claro que há uns com ideias mais semelhantes às minhas, mas temos de respeitar sempre o treinador. Gostando mais ou menos, temos de o respeitar. É assim que eu vejo as coisas. Mas, sim, o André Villas-Boas marcou-me muito na Académica. Foi o primeiro ano dele como treinador e teve um impacto fantástico. 

Sentiu que André Villas-Boas foi uma lufada de ar fresco no futebol português naquela altura? 

Naquela altura sentimos que o discurso era diferente. Era um discurso mais descontraído, curto, mas muito incisivo e eficaz. Fora de campo era quase um de nós. Não tinha aquela coisa de treinador e jogador. Tinha uma gestão de grupo fantástica. Os que jogavam e os que não jogavam estavam satisfeitos. Era diferente do que tinha visto até aquele momento. 

Já falamos do presente e do passado. Em relação ao futuro, o que podemos esperar do Cris? Vai continuar ligado ao futebol? 

Talvez... Algumas pessoas têm falado comigo para continuar a carreira noutras áreas do futebol. Estou num período de reflexão. Quero pensar com calma no que vou fazer a seguir. Logo irei tomar uma decisão. Mas, sim, se tiver a oportunidade, vou continuar ligado ao futebol. É esse o meu desejo.

Não se vê a trabalhar noutra área? 

Neste momento não, mas o futuro a Deus pertence. Se tiver que ser, será. Mas, claro que apenas me vejo no mundo do futebol. É isso que quero para mim. 

Se tivesse de descrever a sua carreira numa frase como a descreveria? 

Foi uma carreira humilde e muito séria. 

Que mensagem deixa ao Feirense neste momento em que terminam uma longa ligação, pelo menos na condição de jogador? 

Quero dizer que o Feirense tem de estar no máximo patamar do futebol português e o regresso à I Liga seria uma enorme satisfação para mim. Tem tudo para estar lá. Nas últimas duas épocas estivemos quase. Ficou um amargo de boca, mas tenho confiança total que o Feirense vai voltar à I Liga. É lá que deve estar. 

Notícias ao Minuto Cris entrou no Feirense com nove anos, saiu aos 23, regressou e terminou a carreira aos 37. © Getty Images  

Leia Também: Capitão do Feirense anuncia fim da carreira de futebolista

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