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"Olho para a minha filha e não me arrependo de ter vindo para o Qatar"

Diogo Amado prepara-se para iniciar a terceira temporada ao serviço do Al-Gharafa, clube do Qatar. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o médio português de 29 anos faz o balanço da experiência no estrangeiro e revela o grande amor que sente pelo Estoril.

"Olho para a minha filha e não me arrependo de ter vindo para o Qatar"
Notícias ao Minuto

07:59 - 15/07/19 por Francisco Amaral Santos

Desporto Entrevista exclusiva

Diogo Amado é mais um jogador português que encontrou o sucesso e a felicidade fora do nosso país. O médio de 29 anos mudou-se há dois anos para o Qatar, para jogar no Al-Gharafa, numa decisão que foi tomada a pensar no desejo de estar mais perto da filha que vive em Macau. 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Diogo Amado revela como teve de se adaptar a um país como o Qatar, não esconde o amor que tem pelo Estoril e defende que poderia ter dado o salto em Portugal. 

O jogador nascido em Lagos, e que passou grande parte da formação no Sporting, lamenta ainda que grande parte dos jogadores portugueses tenham de sair para o estrangeiro para provar o seu valor. 

Os dias maus é que nos mostram o sabor da vitória.

Que balanço faz destes dois anos no Qatar?

Foi a minha primeira experiência fora de Portugal, apesar de ter tido uma curta passagem por Inglaterra. Tenho retirado ilações muito positivas desta experiência. Foram dois anos em que, em termos desportivos, correu tudo muito bem e que, em termos pessoais, também assim foi. Claro que tive que adaptar-me a algumas mudanças, impostas pelas diferenças culturais, mas não foi nada por ali além. Estou bastante feliz pela decisão que tomei há dois anos em vir para o Qatar.

Como correu o processo de adaptação?

Como é óbvio, pesquisei muito sobre o Qatar antes de aceitar a proposta. Pensei que seria um choque muito grande em termos culturais, mas acabou por ser bastante fácil, pois não senti grandes diferenças. Obviamente que há coisas mínimas que têm de ser alteradas, mas nada que seja assim tão estranho. Acho que a minha adaptação foi bastante boa e sinto-me muito integrado.

Quer dar um exemplo prático?

São religiões completamente distintas, mas não senti nada de especial… Claro que se quiser beber um copo com um amigo não posso fazê-lo na rua. Tem de ser num hotel ou em casa. Mas não é algo que nos faça confusão. Também não podemos andar sem t-shirt na rua, mas isso também não é algo que se faça no dia-a-dia.

Notícias ao MinutoDiogo Amado prepara-se para iniciar a terceira temporada no Qatar. © DR

Como surgiu o convite de ir para o Qatar?

Na altura fui contactado diretamente pelo diretor que estava cá, que era um rapaz brasileiro. A partir daí, foram as negociações habituais, já com os empresários por dentro do assunto.

Qual foi o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça nessa altura?

O meu primeiro pensamento foi… ponderação. Tendo a família longe, uma vez que a minha filha está a viver em Macau, ponderei bastante sobre isso. Fui ver a distância entre Qatar e Macau e percebi que é uma distância completamente diferente... e foi a primeira coisa que me fez aceitar o desafio. Em termos desportivos, sei que que qualquer jogador prefere estar na elite da Europa, mas pesou mais a proximidade com a minha filha e assim o fiz.

Como se gere essa distância?

Felizmente, as tecnologias estão muito evoluídas e as redes sociais ajudam, mas claro que custa sempre. Por exemplo, após uma derrota ou um treino mal conseguido, posso ir-me mais abaixo, mas sinto logo o apoio de todos. Além disso, não são só os dias bons que nos fazem crescer. Os dias maus é que nos mostram o sabor da vitória.

Foi mais fácil adaptar-me ao Qatar do que a Inglaterra

Falando do futebol jogado. Que diferenças encontrou?

O Qatar ganhou outra visibilidade depois de terem ganho a Taça da Ásia. Eu vinha com a ideia de que era um futebol com menor qualidade, mas deparei-me com o oposto. Não só por parte dos jogadores estrangeiros, mas também dos locais. Penso que, às vezes, falta um bocadinho de motivação aos jogadores locais, porque sabem que terão sempre lugar – seja no clube A, B ou C. A qualidade existe, mas em termos de competitividade não é tão forte como a Liga portuguesa. 

E sente-se bem neste tipo de futebol? Sente que acrescenta valor?

Sim. Em dois anos fiz os jogos praticamente todos. Se não me engano, falhei dois ou três. Tenho jogado fora da minha posição, como defesa central, mas acho que tenho mostrado trabalho. Nesse aspeto, não me podem apontar o dedo. Claro que é normal ter um ou outro jogo menos conseguido, mas isso faz parte. Tenho-me sentido bem e acho que eles têm gostado do meu trabalho

Durante estes dois anos, nunca se sentiu arrependido por ter tomado esta decisão?

Há momentos em que paro para pensar. O sonho de qualquer jogador é estar num grande da Europa e que todos tenham os olhos postos em nós. Mas, por outro lado, chega uma altura da nossa vida em que temos de ponderar outros aspetos. No meu caso, olhei para a minha família e olhei para a minha filha, que é o mais importante que tenho na vida, e não me arrependo nada desta decisão. Perdi num aspeto, mas ganhei imenso em termos familiares.

Notícias ao MinutoDiogo Amado contabiliza 52 jogos e seis golos ao serviço do Al-Gharafa. © DR

De que forma é que a experiência menos conseguida em Inglaterra o ajudou nesta aventura pelo Qatar?

Quando vim para cá, e tal como aconteceu em Inglaterra, sabia que ia ser um choque porque, de um momento para outro, deixa de ser a mesma língua, deixa de haver aquela rotina com os meus colegas. Vim mais preparado nesse aspeto. Foi uma adaptação mais fácil por estar mais maduro e por ter um clima mais semelhante ao português. Foi mais fácil adaptar-me aqui do que a Inglaterra.

Neste tempo, surgiu algum convite para regressar a Portugal?

Não, até agora, nada. Também não sei se pelo facto de ter contrato e obviamente todos sabem disso. Mas não surgiu nada.

O futuro a curto prazo passa então pelo Qatar?

Sim, sinto-me bem e realizado. Tenho mais um ano de contrato e muita coisa pode acontecer. Os mercados aqui são muito agitados porque há sempre a limitação dos jogadores estrangeiros. Mas tenho contrato, sinto-me seguro e sou feliz.

Em relação à língua, é o inglês que ajuda a quebrar essa barreira?

Precisamente. Todos falam inglês, uns melhor e outros pior, mas claro que é uma grande ajuda. Vou também tentado dar uns toques no árabe, mas é complicado (risos).

Notícias ao MinutoDiogo Amado realizou 178 jogos ao serviço do Estoril. Aqui está em plena ação num duelo contra o Sporting perante a oposição de João Mário. © Global Imagens

Falando um bocadinho sobre o seu percurso no futebol português, que recordações guarda da passagem pelo Estoril?

O Estoril não é um clube qualquer. O Estoril foi o clube que fez com que me afirmasse na I Liga e que me deu muitas alegrias. Sinto que é parte da minha família. Sempre que tenho oportunidade de ir a Portugal, faço questão de ir rever aquela malta…

Não sei se têm noção, mas têm quase 200 jogos pelo Estoril….

Não sabia que eram tantos! (risos). Basicamente, é um clube em que sei que faço parte da família. As pessoas que lá passaram e as que lá continuam têm um carinho pelo clube que será sempre verdadeiro. Será sempre o clube do meu coração. O Estoril é o meu clube.

Apesar de ter feito a formação no Sporting...

Em termos de crescimento e de ambição como jogador, acho que o Sporting teve um papel fundamental na minha formação. Fizeram-me crescer como jogador e como homem. Eu era uma criança, a verdade é essa. Mas depois, na parte de voltar a acreditar nos meus objetivos e de voltar a sentir uma paixão pela vitória, acho que devo isso ao Estoril. Deram-me tudo isto. O que vivi no Estoril foi algo inesquecível.

Ou seja, são dois clubes que fazem parte da sua vida.

Claro que sim. São os dois clubes do meu coração, sem dúvida nenhuma.

Para trás, ficam ainda passagens por União de Leiria e Inglaterra…

Eu estava no Sporting quando surgiu a oportunidade de ir para o União de Leiria, numa altura em que as relações entre os clubes estavam complicadas devido à situação do André Santos. Para ir para a União, tinha de desvincular-me do Sporting ou então não havia possibilidade de ser emprestado. Optei por avançar para a desvinculação e abracei o projeto. O primeiro ano até foi bem conseguido. Com 19/20 anos fazer metade dos jogos era bastante positivo. Depois fui emprestado ao Estoril, em que somos campeões da II Liga, e só depois vou para Inglaterra.

Em Inglaterra tive uma experiência… Não diria má, mas de aprendizagem. Tive dois ou três meses lá e volto para o Estoril que me recebeu de braços abertos. Foram seis anos fantásticos no Estoril, com presenças na Liga Europa e com um futebol muito bom.

Gostava de terminar a minha carreira em Portugal, mais propriamente no Estoril.

Era aí que queria chegar. Fez parte da melhor fase da carreira no Estoril, mas nunca deu o salto para um patamar superior. O que acha que faltou para isso acontecer?

Muitas vezes penso nisso. Chegou a uma altura em que eu olhava ao meu redor e via os meus colegas a serem contratados por Sp. Braga, FC Porto, Sporting, Benfica…. E eu a pensar: ‘Espero que chegue a minha vez, porque estou a trabalhar para isso’. Mas, por outro lado, cada um tem o seu caminho e encontrei uma motivação nesse sentido. Ajudei os meus colegas a conseguirem dar o salto na carreira deles. Às vezes, olharmos só para nós não é benéfico e por isso arranjei outra forma de ver as coisas. Estou feliz e orgulhoso pelo que tenho feito. Talvez pudesse ter estado ao mais alto nível, mas estou orgulhoso no percurso que tenho feito.

Também sofreu algumas lesões pelo meio. Acha que isso também teve influência?

Pode ter tido alguma influência, mas acho que não foi o ponto fulcral para não ter dado o salto. Há momentos em que as lesões, de facto, travam um maior fulgor, mas acho que isso não explica o porquê de não ter dado o salto.

Teve vários treinadores ao longo da carreira e foi com Marco Silva com quem jogou mais. Qual deles foi o mais importante?

É sempre complicado referir apenas um nome. Todos eles têm um papel importante no meu desenvolvimento. Ainda há uns dias, falei com um treinador que me orientou nos sub-15 do Sporting e que teve muita influência na forma como eu leio o jogo. Ele começou a colocar-me a central de forma a que eu não saísse da minha zona de ação. Naquela altura, não via isso com bons olhos, mas hoje sinto a importância que ele teve na minha formação. Como ele, que é o Luís Gonçalves Dias, eu vejo Marco Silva, Fabiano, Pedro Emanuel… Todos eles tiveram um papel fundamental naquilo que foi o meu crescimento enquanto jogador.

Notícias ao MinutoDiogo Amado e Marco Silva no Estoril. O treinador utilizou o médio em 83 ocasiões. © Global Imagens

A última temporada confirmou a qualidade do jogador português pelo mundo fora. É uma prova de que o jogador formado em Portugal, para além da qualidade que tem, possui também uma grande capacidade de adaptação?

Creio que sim. O jogador português tem muita qualidade. Nós somos um país tão pequenino que tem desenvolvido talentos que se mostram pelo mundo fora. O que me deixa triste é o pouco aproveitamento que temos do nosso jogador. Há inúmeros casos em que vemos que o jogador não teve oportunidades em Portugal e, a partir do momento que sai do nosso país, torna-se numa estrela. Posso dar o exemplo do Bernardo Silva. Pouco jogou no Benfica [na equipa principal], mas depois fez um percurso brilhante. Temos todas as condições para aproveitar o nosso talento e tem de ser no estrangeiro que o jogador tem de se afirmar.

Ainda assim, acha que se aposta mais nos jovens agora do que se apostava na sua altura?

Eu acho que sim, porque, muitas vezes, os clubes são obrigados. As dificuldades económicas também obrigam a uma aposta nos jovens da formação. O facto de a seleção nacional também estar em processo de renovação ajuda. Temos que aproveitar melhor os nossos talentos. Neste momento, o jogador que cresce em Portugal é um jogador evoluído técnica e taticamente e muitas vezes o seu lugar é ocupado por algum jogador estrangeiro cujo rendimento não é superior.

Neste momento está em fase de pré-epoca com temperaturas muito elevadas. Como está a lidar com isso?

Está a ser muito complicado. Vamos ficar aqui nos próximos 15 dias e até irmos para estágio será bastante complicado lidar com o calor. Há dois dias, a temperatura estava nos 52/53 graus. É uma questão de hábito e ter o cuidado de ingerir mais líquidos.

Quais os desejos para esta terceira época no Qatar?

Em dois anos, ganhámos a Taça da Liga. Fiquei bastante feliz por ter conseguido dois títulos em dois anos e gostava de repetir este ano e de fazer o máximo número de jogos possível. É esse o meu objetivo, para depois surgir algo que me possa garantir um bom contrato para os próximos dois/três anos e ir preparando o futuro, porque a carreira de jogador é curta e pensar só no presente não é assim tão saudável.

E no meio desse futuro, está em aberto a possibilidade de voltar ao futebol português?

Eu gostava de terminar a minha carreira em Portugal, mais propriamente no Estoril. Gostava muito de voltar ao Estoril. É uma casa pela qual tenho muito carinho, mas não sei o dia de amanhã. Espero voltar, mas se não voltar, certamente irei ser mais um adepto do clube.

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