Na base desta obra está o trabalho da As Vozes do Silêncio, uma plataforma de reafirmação da ação coletiva através da arte que faz parte do Núcleo de Planeamento e Intervenção em Sem Abrigo do Porto (NPISA).
O livro, que junta dezenas de autores, alguns deles com experiência de rua, a viver processos de inclusão, e outros completamente integrados e com reconhecido mérito nas suas áreas de expressão, é apresentado quarta-feira pelas 18:30, no Museu da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
"Este livro é absolutamente pertinente. É o resultado de um trabalho de quatro anos que é extraordinário. Pareceu-nos que este percurso tinha de ser visível e palpável. A ideia é ter material criativo de pessoas com experiência de rua ao lado, e sem qualquer espécie de distinção, de grandes nomes da literatura e da fotografia", descreveu à agência Lusa Rui Spranger da APURO - Associação Filantrópica e Cultura, entidade que edita a obra.
Os quatro anos aos quais o responsável se refere começaram em abril de 2013, quando os sem-abrigo do Porto "ainda nem pensavam em ter um discurso público sobre os assuntos que lhes dizem respeito", lê-se na informação sobre o livro.
O projeto desenvolveu-se até maio deste ano, altura em que os membros da plataforma já tinham dado origem a duas organizações, participado no debate público sobre a nova Estratégia Nacional de Integração de Sem Abrigo e recebido o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na cidade.
O livro, enquanto narrativa documental, inclui reportagens e crónicas publicadas no jornal Público pela jornalista Ana Cristina Pereira com fotos de Paulo Pimenta, Adriano Miranda, Nelson Garrido, Manuel Roberto e Fernando Veludo.
Somam-se contos e poesia, ficção e textos dramáticos, inéditos ou já editados noutros sítios, bem como imagens quer sejam fotografias ou desenhos, da autoria de pessoas que foram ou são sem-abrigo e de artistas, alguns bem conhecidos do grande público.
As páginas do "Vozes do Silêncio - um grupo de sem-abrigo à conquista de cidadania" incluem ainda crónicas de Luís Fernandes, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
"Alguns nomes são muito conhecidos e outros menos, mas não sei se alguém vai conseguir destrinçar quem é quem. Esta é uma edição com muita dignidade, é um livro muito bonito do ponto de vista gráfico, conteúdos e papel, exatamente para dar a ideia de que há dignidade e que toda a gente que participa no livro tem muita dignidade", relatou Rui Spranger.
Além de editada pela APURO, a obra conta com o apoio da Santa Casa da Misericórdia do Porto e do jornal Público, da DO AF Conta e Eric Marais.
A receita das vendas reverte para um fundo destinado a completar custos associados às necessidades decorrentes do processo de reinserção, como tratamentos dentários, próteses dentárias, óculos, cauções para acesso a aluguer de casa e equipamento doméstico.