Meteorologia

  • 29 MARçO 2024
Tempo
11º
MIN 8º MÁX 15º

Kika, a promessa lusa que pôs arroz de cabidela nas telas americanas

Kika Magalhães foi o nome português que se destacou no festival de Sundance do ano passado. Com 'The Eyes of My Mother' quase a chegar a Portugal, a atriz natural de Famalicão falou sobre o filme com o Notícias ao Minuto, a partir de Los Angeles.

Kika, a promessa lusa que pôs arroz de cabidela nas telas americanas
Notícias ao Minuto

08:00 - 29/01/17 por Anabela de Sousa Dantas

Cultura Cinema

Está quase a chegar a Portugal o filme ‘The Eyes of My Mother’ (‘Os Olhos de Minha Mãe’, em português). Com estreia marcada para dia 23 de fevereiro, pela mão da Alambique Filmes, esta longa-metragem tem algo de especial. E não é só a história – recheada de elementos da cultura portuguesa –, é também a protagonista, Kika Magalhães.

Comecemos pelo filme: ‘The Eyes of My Mother’, realizado por Nicolas Pesce, estreou nos Estados Unidos a 22 de janeiro de 2016, durante o festival de cinema de Sundance (21 a 31 de janeiro), um evento que embora possa reunir grandes nomes da sétima arte, é dedicado ao cinema independente de novos autores.

A longa-metragem que assinala a estreia de Nicolas Pesce trata a história de uma jovem mulher assolada pelos fantasmas de um passado incrivelmente traumático. É um filme de terror a preto e branco que foi muito bem recebido pela crítica norte-americana, onde também foi destacada a interpretação de Kika.

"É Kika Magalhães que carrega o filme todo nos seus magros ombros"

“Este é um filme sobre uma rapariga exposta a uma tragédia inimaginável, e a lidar com isso de formas inimagináveis”, escreveu a The Verge, indicando que esta “estreia prometedora” de Pesce é “mais do que capaz de isolar toda a gente do público, arrastando-o, com ou sem vontade, para o seu mundo perturbador”.

“A estreia impressionante e doentia como tudo de Nicolas Pesce estabelece-se muito rapidamente como um ponto alto da forragem do horror moderno e fantasmal”, escreveu a Rolling Stone. A mesma revista já tinha, em janeiro, tecido largos elogios a Kika Magalhães.

E é Kika Magalhães que carrega o filme todo nos seus magros ombros, com a descomprometida atriz portuguesa a negar à sua personagem, com teimosia, qualquer empatia ou explicações simples para a crueldade abismal que se vê no ecrã”, escreveu a revista, sublinhando que “a única coisa mais assustadora do que esta performance é, talvez, a ideia de não vermos Magalhães noutro projeto muito em breve”.

Notícias ao Minuto

"Quando recebi a proposta para fazer o filme estava mesmo mal"

E quem é Kika Magalhães? Uma mulher natural de Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga, que cedo percebeu que queria ser atriz. Estudou Ciências da Comunicação com especialização em Cinema na Universidade Independente, em Lisboa. “Estava a estudar para estar atrás das câmaras mas eu queria era estar à frente das câmaras”, explicou ao Notícias ao Minuto.

Depois de acabar o curso – e com o sonho de ser atriz sempre presente – mudou-se para Londres, depois para Espanha e, por fim, para Nova Iorque, para estudar interpretação. Agora, está há cerca de sete meses em Los Angeles, com ideia de ficar mais tempo. Tudo graças à oportunidade dada por ‘The Eyes of My Mother’.

Quando recebi a proposta para fazer o filme estava mesmo mal, numa altura em que estava muito triste e muito isolada, achava mesmo que ia desistir. (…) Sabe aqueles momentos em que parece que tudo desaba em cima de nós? Partiram-me o coração, não estava com a minha família, os meus amigos que tinha conhecido na escola de representação tinham-se ido embora, estava completamente sozinha, estava com problemas com o visto que não me permitia trabalhar...”, recordou.

A chegada do argumento de Pesce, com quem Kika já tinha trabalhado num videoclipe musical, aconteceu na melhor altura. “Senti mesmo uma ligação incrível com a personagem, porque estava sofrer muito. Parece que o universo me estava a preparar para fazer aquilo”, sublinhou.

Fado e arroz de cabidela num filme americano onde se fala português

O filme está impregnado de referências portuguesas por causa, precisamente, da atriz principal. “Eu consegui este papel porque trabalhei com ele num videoclipe. No final [desse trabalho] ele disse que ia escrever alguma coisa para trabalharmos outra vez mas eu na altura não liguei nenhuma, achei que nunca mais o ia ver”, explicou.

Mas Nick Pesce prometeu e cumpriu. E já que o argumento tinha elementos portugueses, como a mãe da personagem principal, Kika decidiu aprofundar essa imersão na nossa cultura.

“Como a personagem era portuguesa eu disse: ‘Então, ‘bora lá pôr mais elementos no filme’. E foi aí que lhe mostrei a Amália Rodrigues e ele adorou. Há uma cena em que talvez não se perceba muito bem mas eu estou a comer arroz de cabidela - e ela no filme tem um ingrediente secreto [risos]”, adiantou, acrescentando que o filme “é falado em português e em inglês”.

Notícias ao Minuto

Kika não espera uma receção tão positiva à sua interpretação. “Não estava nada à espera que isso fosse acontecer. Pensei que ninguém ia ligar à minha personagem, é um papel com poucas falas. Quando vi o filme pela primeira vez até fiquei um bocado desiludida comigo própria e pensei que ninguém ia ligar nenhuma àquilo”. As críticas positivas foram “uma bênção enorme”, referiu.

"Ai Meu Deus, está ali o Danny DeVito"

A experiência no festival de Sundance foi transformadora. Um sinal definitivo de que as coisas estavam a mudar, conforme explicou. “Aquilo foi espetacular, eram 50 mil coisas a acontecer ao mesmo tempo”, recordou.

Num dos festivais com mais projeção a nível internacional, Kika teve oportunidade de estar taco a taco com grandes estrelas da sétima arte. Instada a descrever um momento marcante, a portuguesa recordou o momento em que viu Danny DeVito.

“Nos dois primeiros dias estávamos a dar entrevistas e a falar sobre o filme. E numa dessas entrevistas, estávamos na fila à espera para entrar numa sala e o Danny DeVito estava mesmo ali à espera ao nosso lado. Comecei logo, ‘Ai Meu Deus, está ali o Danny DeVito’. Ele é assim todo tímido e pequenino, e até estava ali meio escondido e fui mesmo ao lado dele e perguntei-lhe se podia tirar uma fotografia com ele. Foi muito simpático, foi mesmo fixe”, contou.

Ainda a adaptar-se a Los Angeles e já com ‘green card’, Kika refere que neste momento está com vários projetos em mãos. “Tenho um projeto para filmar lá para maio, está em pré-produção agora. Estou a trabalhar no meu próprio guião. Estou muito confiante que a partir de agora vão acontecer coisas boas”, indicou, mas lembrando que ainda só tem um filme com mais notoriedade e que há muito trabalho a fazer.

A atriz ainda não sabe se marcará presença na estreia do filme em Portugal, desconhecendo, portanto, a data da sua próxima visita ao país natal. No entanto, não descarta a possibilidade de trabalhar por cá. “Adorava trabalhar em Portugal, há imensos realizadores com quem gostava de trabalhar, como o Miguel Gomes”, afiançou.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório