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Livro de historiador propõe nova visão sobre o papado de Pio XII

O historiador Mark Riebling afirma, num ensaio sobre o papa Pio XII, que o seu silêncio quanto às atrocidades nazis, nomeadamente contra os judeus, é o "principal enigma" da sua biografia e "da história da Igreja moderna".

Livro de historiador propõe nova visão sobre o papado de Pio XII
Notícias ao Minuto

09:45 - 17/10/16 por Lusa

Cultura Mark Riebling

Mark Riebling faz esta afirmação num livro a publicar na próxima quarta-feira, 'Os espiões do papa. A guerra secreta de Pio XII contra Hitler', para o qual consultou documentos recentemente abertos pelos Arquivos do Vaticano e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico.

O historiador norte-americano apresenta, segundo a Editorial Presença, que chancela a obra, uma "versão que ao longo de décadas foi encoberta, abrindo as portas do Vaticano para revelar factos surpreendentes na história do pontificado" de Pio XII.

Pio XII, foi o nome escolhido pelo cardeal romano Eugénio Pacelli, eleito papa a 2 de março de 1939, num conclave que, "pela primeira vez desde que havia memória, atraiu uma multidão de correspondentes da imprensa estrangeira, cujas teleobjetivas, no dizer de uma testemunha, faziam lembrar 'canhões antitanque'".

Segundo o historiador norte-americano, "conforme afirmou um oficial das SS [organização paramilitar nazi], 'seria absurdo acusar Pacelli de ser pró-nazi'" e, por outro lado, "as declarações públicas de Pacelli incomodavam Berlim".

Segundo o oficial Hartl, das SS, "Pacelli 'intimava o mundo inteiro a lutar contra o Reich'".

O papa Pio XI, que precedeu Pacelli na cadeira de S. Pedro, tinha publicado a encíclica de 1937 "Mit brennender sorge" ("Com ardente preocupação"), na qual "acusava o Estado alemão de planear a aniquilação da Igreja", acrescente Mark Riebling.

Cerca de dez meses depois de ser eleito, Pio XII publicou a encíclica 'Summi Pontificatus', na qual denunciou "os ataques ao judaísmo", escreve Riebling, afirmando que, nela, o pontífice escreveu que "ainda que à custa de 'tormentos e martírio', há que 'confrontar essa perversidade dizendo: Non licet; não é permitido!'".

No mesmo texto o papa consagrou "a unidade do género humano", sublinhou "que essa unidade negava o racismo" e rematou declarando: "Não há gentio nem judeu".

Todavia, segundo Riebling, foi "uma promessa tão corajosa como vã [e] só em 1945 o papa voltaria a utilizar publicamente a palavra 'judeu'".

Porém, durante a II Grande Guerra (1939-19445), "as agências noticiosas aliadas e judaicas continuaram a aclamá-lo como antinazi".

Diferentes historiadores têm apelidado Pio XII como "o papa de Hitler", apontando-o como conivente com a política e ideologia nazis, tanto mais que o pontífice nunca escondeu simpatia pela cultura alemã. Pio XII falava fluentemente o alemão e tinha sido núncio apostólico em Munique e em Berlim.

"Quando os nazis tomaram o poder, em 1933, Pio XII elogiou o anticomunismo de Hitler e aceitou a proposta deste para formalizar os direitos dos católicos. Pacelli negociou uma concordata garantindo o financiamento da Igreja com 500 milhões de marcos de receitas fiscais anuais", escreve Riebling.

Todavia, e segundo a investigação de Mark Riebling, "mais do que manter-se distanciado ou cúmplice dos acontecimentos ocorridos num dos períodos da história mais negros, o Papa teve um papel fundamental nos eventos que levaram à derrota nazi".

"Os espiões do papa. A guerra secreta de Pio XII contra Hitler", segundo a editorial Presença, "lê-se como um romance policial baseado na figura do espião alemão Josef Müller, embora seja um relato histórico rigoroso, um livro que vem contribuir para uma nova visão dos acontecimentos" naquela época e do papel da Igreja Católica e do seu líder máximo.

Este é o segundo livro de Mark Riebling, diretor do Manhattan Institute for Policy Research, cofundador do Center for Tactical Counter-terrorism e investigador no Center for Policing Terrorism/National Counter-terrorism Academy.

Mark Riebling escreve regularmente para os jornais The New York Times e para o Wall Street Journal sobre temas de segurança nacional.

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