"Quando as Mães Saíram à Rua" é o título escolhido pelo autor, Fernando Calado, para "uma ficção" a partir de situações reais de "uma Bragança sombria dos anos de 1960" e a evolução até ao presente.
Homem das Letras que contabiliza vários títulos publicados, Fernando Calado acaba de lançar o segundo livro de uma trilogia em que a temática é a prostituição e em que, "ao fazer o retrato desta Bragança", inevitavelmente teve "de passar por 2003 com o célebre movimento das Mães de Bragança".
Outros casos houve ao longo do período abordado no livro e entende o autor que "As Mães de Bragança" teriam "passado despercebidas se não tem sido esse célebre movimento projetado pela Comunicação Social, sobretudo pela revista (americana) Time".
Em 2013, quatro mulheres lançaram um abaixo-assinado a pedir a intervenção das autoridades contra a alegada prostituição de mulheres brasileiras em casas de alterne, queixando-se de que lhes estavam a "roubar" os maridos e a destruir as vidas familiares.
O texto terminava com a expressão "Mães de Bragança" e assim ficou conhecido o movimento que levou a uma mega operação das autoridades, ao encerramento das casas de alterne e ao julgamento e condenação de vários empresários e colaboradores dos estabelecimentos.
Fernando Calado explicou à Lusa que teve de "fazer referência a esse movimento também para demonstrar que Bragança não é hostil, que foi um movimento ficcionado na altura, mas que teve a proporção que teve até porque também chegaram de um dia para o outro 150 pessoas (brasileiras) que eram estranhas à cidade".
Embora o romance não seja propriamente sobre este movimento, que é apanhado durante o período de tempo que se fala durante a ficção sobre a cidade de Bragança dos anos 60 até ao presente, o autor optou por chamá-lo ao título do livro "porque efetivamente se tornou universal".
"Um casal que eu também refiro no livro, na Turquia, ao visitar as ruínas de uma casa de prostituição um dia, disse: 'isto é uma casa antiga de Bragança', o que significa que o fenómeno da prostituição em Bragança tornou-se universal. Daí aproveitar para um título forte, porque o movimento em si não foi forte, mas a projeção foi", contou.
O romance "perpassa uma cidade extremamente conservadora, o Estado Novo que parecia muito diáfano, mas que tinha as suas mazelas, nomeadamente o que foi o Ballet Rose, a célebre discoteca de algumas figuras dominantes do regime".
Mostra, de forma ficcionada, "como jovens adolescente eram levadas de Bragança para esse espaço, como chegavam a Lisboa, qual era o seu destino, como a prostituição era tão marcante nessa altura como é hoje" e é "um fenómeno transversal a todas as épocas".
Fernando Calado salienta que, depois das "Mães de Bragança", a prostituição "deixou de grassar em Bragança e passou a grassar nas vilas próximas, portanto o problema continua".
O livro é o segundo de uma trilogia que aborda 100 anos de Bragança.
Depois de "O Milagre de Bragança" e "Quando as Mães saíram à Rua", Fernando Calado prepara-se para escrever sobre "o meio rural com os seus mitos, as suas crenças, os seus comeres, as suas atividades, que algumas estão a morrer em virtude da desertificação"