Já devem ser poucas as crianças que ainda brincam ao ‘Sirumba’ – um jogo que obriga os polícias a impedirem os ladrões de chegar ao outro lado do campo para gritar ‘Sirumba!’, o sinónimo de vitória. Essa é uma das memórias que o André, o Hélio, a Cláudia, o Pedro e o Sérgio guardam das respetivas infâncias.
O último álbum dos Linda Martini é isso mesmo: “uma memória que nos une em certa altura das nossas vidas, apesar de não a termos feito juntos”, como explica a baixista na entrevista concedida ao Notícias ao Minuto.
‘Sirumba’, o quarto álbum da banda, é o fruto “de uma contínua vontade em querer fazer algo diferente, mas que não deixe de soar a Linda Martini”. Nas nove faixas do novo trabalho, há finalmente espaço “para perceber aquilo que cada um faz”, visto que a distorção, uma das ‘imagens de marca’ da banda, já não tem a mesma importância do que anteriormente, autorizando a que as três linhas melódicas consigam respirar e coabitar em sintonia.
Houve vários fatores que tornaram este ponto de viragem possível, sendo o primeiro a sala HAUS, o novo habitat da banda, situado em Santa Apolónia. Até hoje, conta Cláudia, “andámos a saltitar de estúdio em estúdio”, algo que não deixava a criatividade crescer num só espaço. À nova casa acresce a dedicação a tempo inteiro, porque “o André [vocalista] deixou o emprego a full-time para se conseguir dedicar inteiramente à música”.
Os resultados estão à vista, “as pessoas têm gostado muito” e o concerto que a banda deu no passado fim de semana provou-o. “As pessoas já sabiam a letra de muitas músicas quando o álbum só tinha sido editado no dia anterior [1 de abril]”, como descreve a baixista com a voz a deixar transpirar orgulho.
Os Linda Martini orgulham-se de pertencer a “um novo ciclo”, uma era onde o estigma da música portuguesa cantada em português "felizmente" já deixou de soar a estranho e passou a ter igual destaque à música em inglês passada nos circuitos da divulgação. Mas não é apenas mérito próprio.
“É culpa [num bom sentido] de todos os lados. Por um lado há mais bandas, por outro as rádios e os festivais dão-lhes mais importância e o público também, fazendo mais sentido que os festivais as vão buscar. É uma coisa boa que está a acontecer”, explica a baixista, ciente de que a banda “apareceu numa altura em que a internet começou a ter veículos virados especificamente para a música” e isso tornou mais fácil alargar a abrangência daquilo que se lança cá para fora.
A música portuguesa está a gostar cada vez mais de si própria e os Linda Martini cada vez mais do que fazem.
Ouça aqui o novo trabalho da banda.