Livro revela descendentes de português da corte de Czar

A história de um português que ascendeu à aristocracia russa do século XVIII é retratada agora em livro, que aborda também as suas origens judaicas e o percurso dos seus descendentes.

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© Reuters

Lusa
15/04/2015 17:20 ‧ 15/04/2015 por Lusa

Cultura

Rússia

"António de Vieira é um judeu português cuja família fugiu à Inquisição, e encontrou com o czar Pedro I na Holanda ou na Inglaterra, que o levou para a Rússia onde fez uma excelente carreira: esteve envolvido na construção da cidade de S. Petersburgo, organizou os serviços de bombeiros e de defesa civil e chegou a conde, título que usou até morrer", resumiu, em declarações à Lusa, o historiador e jornalista José Milhazes.

O livro "O Favorito Português de Pedro o Grande" conta a "extraordinária" vida de António Manuel Luís de Vieira, nascido "provavelmente" no Minho e que morreu em S. Petersburgo em 1745, tendo ascendido à aristocracia da Rússia, um processo que foi marcado também por vários problemas com as autoridades.

"Depois da morte de Pedro o Grande, meteu-se em lutas palacianas e foi parar à Sibéria durante 15 anos a mando de Catarina I", explica o historiador sublinhando que a condenação sob condições climatéricas adversas acabou por agravar o estado de saúde do português, que tinha sido figura influente da corte.

O livro que cita documentos da época -- registos, cartas diplomáticas e estudos geneológicos -- recorda a construção da capital fundada pelo czar Pedro I, após a Grande Guerra do Norte (1703) no delta do rio Neva e o papel que António de Vieira desempenhou na construção de S. Petersburgo.

O livro não se limita à investigação sobre o português do século XVIII na corte de Pedro o Grande porque o autor acaba por descobrir e estudar os descendentes de António de Vieira até aos dias de hoje.

"A parte mais gratificante deste livro, como historiador, foi ter descoberto os descendentes de quem não se sabia praticamente nada e que acabei por encontrar na Rússia, na Bielorrússia e no Chipre", diz José Milhazes referindo que ainda em vida o conde "afrancesou o apelido" para "Deviere", tendo o nome sido mantido por várias gerações.

Pintores, jornalistas, poetas e heróis militares das guerras napoleónicas, dos vários ramos da família, fazem parte de conhecidas figuras da história contemporânea russa que o historiador descobriu "com surpresa" porque inicialmente supunha que iria "encontrar" familiares até à revolução comunista de 1917 e à guerra civil que se seguiu.

Entre os descendentes destacam-se, entre outros, os realizadores de cinema Andrei e Nikita Mikhalkov, filhos de uma descendente direta de António de Vieira.

Segundo José Milhazes muitas das pessoas que encontrou com o apelido "Deviere" conheciam a proveniência portuguesa do nome e a origem judaica.

"A História da Inquisição demonstra que Portuga (1536-1821) perdeu pessoas de grande valor mas com a lei que foi aprovada recentemente [permitindo o acesso à cidadania portuguesa a descendentes de sefarditas] pode-se, pelo menos, recuperar alguns destes descendentes", afirma o autor da investigação.

Segundo o autor, graças a esta investigação, uma descendente direta do conde Vieira, uma médica dentista russa residente no Chipre, vai pedir a nacionalidade portuguesa.

José Milhazes, historiador e jornalista residente em Moscovo desde 1977 é autor de vários livros de História contemporânea.

O livro "O Favorito Português de Pedro o Grande" (Editora Livros D'Hoje/D. Quixote, 190 páginas) inclui fotografias e reproduções de retratos da época, foi lançado na terça-feira e pode vir a ser traduzido para russo ainda este ano.

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