Um "grande humanista" que foi "feliz como um Deus em França"

Manoel de Oliveira tinha em França um público fiel e ajudas financeiras para os seus filmes, tendo "provavelmente sido feliz como um Deus em França", disse à Lusa o especialista Jacques Lemière, sociólogo especialista em cinema português.

Notícia

© Global Imagens

Lusa
02/04/2015 21:50 ‧ 02/04/2015 por Lusa

Cultura

Manoel de Oliveira

"Manoel de Oliveira falava sempre no reconhecimento que tinha pela França, não só pelo público que conquistou mas também pelas ajudas financeiras. Por exemplo, o filme 'Le soulier de Satin - O Sapato de Cetim' [1985] foi uma obra diretamente ajudada pelo ministério francês da Cultura", explicou o professor na Universidade de Lille 1 à agência Lusa.

O investigador lembrou ainda o quanto ficou "fascinado" pelo número de entradas nos cinemas do filme "Je Rentre À La Maison - Vou Para Casa" (2001), "uma obra rodada em Paris com o ator Michel Picolli".

Para o francês, "Amor de Perdição" (1978) foi "o momento-chave" em que Manoel de Oliveira deixou de ter apenas "um pequeno círculo de seguidores, que eram os críticos de cinema", para passar a ter um público mais largo, porque coincidiu com a altura em que "França virou os olhos para Portugal", devido à "Revolução dos Cravos, que apaixonou os franceses".

"A França tem uma história cultural com o cinema e a cinefilia e é um país que sempre tentou reconhecer os grandes criadores. Era obrigatório o encontro com Manoel de Oliveira", continuou o investigador que esteve pela última vez com o cineasta português quando fez a apresentação, no Porto, do terceiro volume do catálogo Manoel de Oliveira, num encontro promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves.

O professor do Instituto de Sociologia e Antropologia da Universidade de Lille declarou, também, que "o cinema mundial perde um dos seus grandes realizadores e, sobretudo, um dos grandes pensadores sobre o sistema da representação cinematográfica".

"Era um cineasta do cinema das origens e do cinema moderno. Ele foi obrigado a pensar a questão da representação, devido aos impedimentos que teve com o regime salazarista. Por outro lado, Portugal perdeu um realizador que transportou no seu trabalho toda a reflexão sobre Portugal", continuou, em declarações à Lusa.

Jacques Lemière precisou que Manoel de Oliveira "questionou a melancolia portuguesa" quando "se interessou pela figura romântica de Camilo Castelo Branco" e "confrontou-se diretamente com a questão da história do seu país", a partir de "Non Ou A Vã Glória De Mandar" (1990), seguindo até à última obra, "O Velho do Restelo" (2014).

Estreado em 1990, "Non Ou A Vã Glória De Mandar" parte da memória de um soldado, que atravessa o mato, nos últimos dias da guerra colonial portuguesa, para falar da guerra, do homem em combate e das derrotas militares.

"Quando se segue o fio condutor das obras, percebe-se que há uma série de filmes que questionam a história de Portugal através de um olhar universal e humanista, e nunca de estreitamento nacional. Ele era, sem dúvida, um grande humanista", concluiu.

O realizador português Manoel de Oliveira morreu hoje aos 106 anos, na sua casa, no Porto, cidade onde nasceu, a 11 de dezembro de 1908.

Manoel Cândido Pinto de Oliveira era o mais velho realizador do mundo em atividade.

O último filme do cineasta foi a curta-metragem "O velho do Restelo", "uma reflexão sobre a Humanidade", estreada em dezembro passado, por ocasião do seu 106.º aniversário.

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas