"Creio que um mau escritor nunca escreverá um bom romance com o recurso à inteligência artificial" mas, "talvez um bom escritor consiga escrever um romance melhor a partir do momento em que saiba usar esse instrumento", disse hoje José Eduardo Agualusa no Fólio - Festival Literário Internacional de Óbidos.
Numa mesa de autores em que garantiu que a inteligência artificial não o assusta, o escritor angolano considerou que este instrumento "ainda é usado de forma trivial" por muitas pessoas, mas que quando "se souber utilizar bem, provavelmente irão descobrir-se potencialidades maiores".
Ainda assim considera não haver perigo de "os escritores serem substituídos", porque a inteligência artificial "mimetiza, reproduz o estilo do escritor" mas "a imitação do estilo, normalmente, é ridícula".
Já noutros capítulos "aquele instrumento é muito útil", disse, dando como exemplo a crónica angolana nos jornais, que "melhorou muito, porque aquilo corrige muito bem".
"No caso de Angola é muito claro, de repente os cronistas começaram a escrever melhor, qualquer emergência a gente pede e sai a coluna semanal". Porém, na narrativa longa, no romance, "a IA tem ainda um grande desafio" e, mesmo que um dia consiga escrever "um romance medíocre" terá que ter "alguém atrás, com criatividade".
José Eduardo Agualusa falava na 12.ª mesa do Fólio, numa conversa com a escritora brasileira Giovana Madalosso, onde ambos defenderam que a literatura não está em perigo, apesar dos movimentos de censura e cancelamento de escritores em países como o Brasil.
Até porque "cada vez há mais gente a ler. Cada vez há mais gente a ler melhor", disse Agualusa.
O Fólio, que decorre em Óbidos até domingo assinala os dez anos do festival com mais de 460 iniciativas, incluindo mais de uma centena de conversas entre autores e o público, 15 mesas de autor, tertúlias, seminários, lançamento de livros, concertos e entregas de prémios.
Organizado pelo município de Óbidos, em parceria com a empresa municipal Óbidos Criativa, a Ler Devagar e a Fundação Inatel, o Fólio realiza-se desde 2015 na vila classificada como Cidade Criativa da Literatura pela UNESCO.
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