O espetáculo "tenta mostrar às crianças, através também do olhar delas, o que acontece na vida dos pais quando as crianças não os veem", disse à agência Lusa André Amálio.
"Quando os pais deixam as crianças na escola, o que é que acontece nesse período todo até irem buscar as crianças à escola outra vez. Ou seja, o que é que as crianças imaginam que acontece", acrescentou.
Muitas crianças não sabem o que "os pais fazem ou não fazem", nem os pais sabem o que passa pela cabeça dos filhos sobre as suas profissões. "Se o trabalho dos pais "é mesmo ir para um escritório ou se na verdade vão para o parque comer gelados, ou vão andar de bicicleta", exemplificou.
"O que é que os meus pais fazem quando não estão comigo?" fala também sobre "esse grande momento" que ocorre na vida de pais e filhos: "O momento da separação, a primeira vez que [os filhos] são deixados [...] para ir para a pré-escola, ou para o primeiro ano do primeiro ciclo".
"Esse enorme medo que muitas crianças vivem, ficam nervosas, não sabem bem o que esperar, o que vai acontecer ali" ao irem para um sítio "onde a maior parte delas não conhece ninguém", e onde têm de permanecer por um "longo período", frisou.
André Amálio acrescentou que o espetáculo fala daquilo que tanto ele como Tereza Havlícková, cocriadora e intérprete do espetáculo, sentem enquanto pais. Porque os filhos lhes faziam imensas perguntas sobre aqueles temas e eles, muitas vezes, tinham dificuldades em responder, observou.
"Por que é que eu tenho de ir para a escola? Mas por que é que tu não vens comigo para a escola? Por que é que tu não estás na escola? Por que é que o teu trabalho não é estar comigo? O que é o teu trabalho? O que significa trabalhar?" são algumas das questões com que os filhos confrontam aos pais e às quais, "muitas vezes", estes não conseguem responder da melhor forma.
A peça tem também o objetivo de ir além disso: "Será que as crianças imaginam que os pais fazem outra coisa que não seja trabalhar enquanto estão com eles? Será que também têm momentos de prazer, de lazer, momentos para os próprios pais terem momentos para si, até se for preciso para irem namorar?", enfatizou.
"O que é que os meus pais fazem quando não estão comigo?" gira em torno deste imaginário e "faz uma viagem mirabolante, como se as crianças imaginassem que os pais conseguiam ir até à lua, explorar a lua e depois voltar outra vez para o planeta terra e apanhá-las antes delas saírem da escola", descreveu.
Ao criarem esta peça, que mostra como as "vidas de hoje são difíceis e 'super-atarefadas'", com todos "quase sempre a correr de um lado para outro", André Amálio e Tereza Havlícková esperam "ajudar" as crianças a "compreenderem o mundo dos pais", e os pais a compreenderem "o que está a passar-se dentro da cabeça dos filhos, ajudando-os através do diálogo e da explicação", disse à Lusa Tereza Havlícková.
Além das perguntas lançadas pelos filhos do casal, os artistas estiveram também durante cinco meses a trabalhar com duas turmas da Escola Básica José Cardoso Pires, na Costa de Caparica, frequentada pelos filhos, para se inteirarem sobre o que pensavam as outras crianças, acrescentou.
"Por que é que muitas vezes temos de trabalhar tanto? Por que é que a nossa sociedade nos obriga a passar tão pouco tempo com os nossos filhos? Por que é que isso acontece? Por que é que tomamos isso como garantido?" são outras das questões, acrescentou André Amálio.
O espetáculo questiona também que benefícios teria "a nossa sociedade se as famílias estivessem mais tempo juntas e fossem todos mais felizes". Esta, aliás, foi uma das primeiras perguntas que os criadores quiseram fazer quando iniciaram o processo criativo da peça, disse André Amálio.
"É de tudo isto que se cose o espetáculo", resumiu André Amálio.
Já Tereza Havlícková sublinhou tratar-se de um espetáculo "muito lúdico" e "multidisciplinar, onde não falta música, coreografia, movimento, projeções e cenografia".
Com dramaturgia de André Amálio e movimento de Tereza Havlíck?ová, autores e intérpretes, "O que é que os meus pais fazem quando não estão comigo?" tem, nos figurinos, Ana Paula Rocha, e na direção técnica e de luz, Carlos Arroja, numa produção conjunta da companhia Hotel Europa e do Teatro Luís de Camões.
No LU.CA, o espetáculo é representado para escolas nos dias 24 e 28, às 10:30, e nos dias 29 e 30, às 10:30 e às 14:30.
As sessões para famílias acontecem nos dias 25 e 26 de outubro, às 11:30 e 16:30.
Nos dias 31 de outubro e 01 de novembro, a peça, direcionada para maiores de seis anos, subirá ao palco do Coliseu Porto Ageas, no âmbito da programação da 6.ª edição de O Meu Primeiro FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica.
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