A peça 'Ninguém', que levaria o ator António Capelo a Monção, no distrito de Viana do Castelo, foi cancelada, por "motivos alheios ao Cine Teatro João Verde", onde a peça estava prevista acontecer no início de setembro.
O cancelamento foi partilhado na página de Facebook do Cine Teatro, mas, esta segunda-feira, o Observador avançou com a notícia, tendo tentado entrar em contacto com o ator, que não quis responder quanto aos motivos que levaram ao cancelamento da peça-
O Observador também contactou Pedro Aparício, diretor do Teatro do Bolhão, que produz este monólogo, mas sem sucesso.
Note-se que o cancelamento acontece numa altura em que António Capelo, de 69 anos, está sob os holofotes, depois de ter sido alvo de acusações de assédio sexual por parte de vários ex-alunos. O caso levou a que a Inspeção-Geral da Educação e Ciência abrisse um "processo de averiguações" à Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE), no Porto, onde Capelo dava aulas quando os casos de assédio se terão passado. Também terá sido aqui que muitos destes casos se terão passado.
A direção da ACE, da qual fazia parte Pedro Aparício, acabou por se demitir a 11 de setembro, apontando que "esta decisão resulta da convicção de que o presente momento exige serenidade, estabilidade e a proteção da missão dos valores que ACE Escola de Artes representa".
Numa nota, partilhada no Instagram, a direção considerava "que a escola deve permanecer acima de qualquer controvérsia" e que "a criação de um ambiente tranquilo é fundamental para garantir o bom funcionamento do ano letivo que acabou de iniciar", assim como "a continuidade do trabalho em prol da comunidade que servimos".
Capelo foi diretor artístico e deu aulas na instituição, que é tutelada pelo Ministério da Educação, até 2022. As denúncias surgiram, sobretudo, nas redes sociais com a exposição de várias mensagens alegadamente enviadas por António Capelo a jovens.
Ao Notícias ao Minuto, um jovem mostrou mensagens que remontam a 2017, quando tinha 20 e poucos anos. "Podes vir almoçar a Paço de Arcos, eu convido", terá escrito pouco depois de o abordar através do Facebook.
Perante este convite, que considerou impróprio, o jovem não respondeu mais, mas as mensagens continuaram.
A peça agora cancelada era anunciada em agosto - antes de as denúncias surgirem - como o regresso de Capelo, descrito como uma "figura de referência do teatro, cinema e televisão em Portugal". A peça, que tinha percorrido "palcos de norte a sul do país, conquistando público e crítica", articulava "trajetória artística de António Capelo com vozes autobiográficas de atores dos últimos dois séculos, refletindo sobre inquietações, estereótipos e a essência da profissão".
Leia Também: Inspeção-Geral da Educação abre processo à ACE após denúncias de assédio