O júri, que decidiu por unanimidade, reconheceu em Amin Maalouf "uma das vozes mais importantes do nosso tempo".
Na sua declaração, o júri afirma que a obra do autor de 'As Cruzadas Vistas pelos Árabes' ocupa "um lugar essencial na literatura contemporânea, pois explora com grande lucidez as fraturas e fusões do mundo moderno", demonstrando como "a esperança reside no reconhecimento das nossas heranças partilhadas".
O júri da edição deste ano do Prémio FIL de Literatura foi composto pelos escritores, professores, investigadores e ensaístas Alain Mabanckou, da República do Congo, Carmen Alemany, de Espanha, Francisco Noa, de Moçambique, Jerónimo Pizarro, da Colômbia, Lucía Melgar, do México, Massimo Rizzante, de Itália, e Xavi Ayén, de Espanha.
Durante a leitura da ata do júri, Carmen Alemany, professora de Literatura da Universidade de Alicante, disse que os romances e ensaios do escritor franco-libanês "exploram a memória e o exílio, rejeitando o isolamento nacionalista ou religioso".
"Maalouf dá voz aos desenraizados e viajantes de diferentes épocas e mostra que as nossas múltiplas identidades são feitas de camadas, intersecções e passagens, e não de muros. O seu pensamento humanista, crítico e generoso ilumina a nossa era, dilacerada por conflitos entre culturas e memórias, e recorda-nos que a esperança reside no reconhecimento das nossas heranças partilhadas", sublinhou o júri.
Amin Maalouf, membro da Academia Francesa desde 2011, é reconhecido como um dos mais importantes escritores da literatura francesa da atualidade, de acordo com a FIL de Guadalajara, que destaca a sua defesa do diálogo intercultural, no comunicado hoje divulgado.
Vencedor do Prémio Gulbenkian em 2019, o escritor e ensaísta manifestou na altura, em entrevista à agência Lusa, profunda inquietação pela situação mundial, pela ausência de "credibilidade moral" de dirigentes e instituições, e assinalou a urgente necessidade de repensar a questão da identidade.
"Temos necessidade de mudar a atitude que consiste em resumir a identidade de uma pessoa a um aspeto, seja religioso, nacional ou outro, e é necessário ajudar as pessoas a assumir o conjunto da sua identidade, o conjunto da sua pertença. Quando algumas pessoas têm uma pátria de origem e uma pátria de acolhimento, é necessário que possam assumir plenamente a sua pertença às duas", assinalou então o autor de 'Leão, o Africano'.
Radicado em Paris desde 1976, Amin Maalouf nasceu em Beirute em 1949. Tem publicadas obras como 'As Identidades Assassinas', 'Os Jardins de Luz', 'Samarcanda', 'O Século Primeiro depois de Beatriz', 'Escalas do Levante', 'O Périplo de Baldassare' e 'O Mundo sem Regras', no qual, na viragem para 2010, uma década antes de 'O Naufrágio das Civilizações', já fazia um diagnóstico muito negativo do estado das sociedades, refletindo o desregramento intelectual, económico, geopolítico e ético, um pouco por todo o mundo.
O escritor, com formação em Sociologia e doutor honoris causa por diferentes instituições, entre as quais a Universidade de Évora, venceu o Prix des Maisons de la Presse, o Prémio Goncourt e o Prémio Príncipe das Astúrias, entre outras distinções. Foi grande repórter durante 12 anos, com trabalho em mais de 60 países. Foi também chefe de redação, e depois editor, do jornal Jeune Afrique.
Entre as suas obras mais recentes conta-se 'O Labirinto dos Perdidos - O Ocidente e Os Seus Adversários'.
"Já ninguém possui uma verdadeira credibilidade moral. Nem pessoas, nem instituições, nem referências morais. Estamos numa época em que tudo é posto em causa, tudo parece em vias de perder a sua capacidade de exercer uma autoridade moral. Vai da Casa Branca ao Vaticano, por todo o lado as instituições estão em profunda crise e a sua credibilidade foi abalada", disse o escritor e ensaísta à agência Lusa, em 2019.
Amin Maalouf receberá o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas no próximo dia 29 de novembro, na cerimónia de abertura da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, a decorrer de 29 de novembro a 08 de dezembro, este ano dedicada a Barcelona.
O Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas tem o valor de 150 mil dólares (perto de 128 mil euros) e reconhece o conjunto de uma obra de qualquer género literário.
A edição deste ano, segundo a organização da FIL de Guadalajara, recebeu 63 nomeações, num total de 48 escritores de seis línguas e 18 países: Espanha, El Salvador, Colômbia, México, Argentina, Nicarágua, Cuba, Chile, Japão, Líbano, França, Senegal, Marrocos, Guiné, Itália, Cabo Verde, Brasil e Portugal.
Em 2024, o vencedor foi o escritor moçambicano Mia Couto.
Os escritores portugueses António Lobo Antunes e Lídia Jorge foram distinguidos com o prémio nas edições de 2008 e de 2020, respetivamente.
[Notícia atualizada às 22h21]
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