Jojo Moyes, a autora britânica de 'Viver Depois de Ti', acaba de lançar o livro 'O Amor Mora Aqui', um romance que fala de morte e divórcio mas também de amor e perdão, que tem drama, mas também humor, tal como a escritora já nos habituou.
Recentemente, Jojo Moyes esteve em Portugal, mais precisamente na Feira do Livro de Lisboa, para apresentar a sua nova obra, publicada no nosso país pela Porto Editora.
O Notícias ao Minuto, aproveitou para conversar um pouco com ela. Durante a entrevista, feita por e-mail, a escritora falou não só de 'O Amor Mora Aqui', como dos desafios pessoais (e profissionais) pelos quais passou. De burnout, divórcio, luto e terapia.
Houve ainda tempo para revelar a sua paixão por Portugal, um dos seus países preferidos e onde vem, pelo menos, três vezes por ano.
Mas voltemos um pouco no tempo. Pauline Sara Jo Moyes 'transformou-se' em Jojo Moyes, em 2002, quando trocou uma carreira de 10 anos como jornalista pela vida de escritora.
Em duas décadas, vendeu mais de 50 milhões de livros em todo o mundo, traduzidos para 44 idiomas, inclusive português.
'Viver Depois de Ti' é uma das suas obras mais famosas (e mais vendidas). O sucesso foi tanto que, em 2016, deu azo a um filme com o mesmo título.
Desta vez, Jojo Moyes apresenta-nos um livro que já descreveu como uma "comédia". 'Viver Depois de Ti' fala-nos de algo muito comum hoje em dia: uma família "disfuncional e confusa", que está a lidar com vários traumas. Pelo meio, além de umas boas gargalhadas, sente-se também o poder do amor.
Os meus livros não são baseados em históricas verídicas, mas inspiro-me no que se passa à minha volta
Acaba de lançar 'O Amor Mora Aqui', um livro sobre uma família imperfeita e o poder do amor. Em que se inspirou para escrever esta história?
Os meus livros não são baseados em históricas verídicas, mas inspiro-me no que se passa à minha volta. Há muito tempo que queria escrever uma história sobre uma família disfuncional e explorar a questão de como transmitimos - ou não - os nossos problemas de geração em geração.
É um livro que junta amor, divórcio, morte, traumas, perdão...E sempre com humor. Como é que consegue fazer isso?
Acho que, para os britânicos, a tragédia costuma estar associada à comédia. Encontramos humor nos momentos mais sombrios da vida, nos mais significativos. Será que não sabemos lidar com as emoções? Talvez. Além disso, também sou uma pessoa bem humorada. Tento sempre ver algo engraçado em tudo o que acontece. É a melhor forma de encarar a vida.
Desde 2002 que publica livros e quase anualmente. Sempre com sucesso. Onde vai buscar tanta inspiração?
Acho que basta ser uma observadora atenta. Fui jornalista durante 10 anos e isso deu-me a habilidade de ver histórias onde outras pessoas não veem. Os seres humanos são infinitamente interessantes. Como eles se atrapalham, como sabotam a própria felicidade. E isso inspira-me.
Trabalhou vários anos como jornalista mas, entretanto, decidiu dedicar-se integralmente à carreira de escritora. É essa a sua grande paixão? Sente saudades do jornalismo?
Senti muita falta do jornalismo quando saí da profissão. Identificava-me tanto com o meu trabalho que já não sabia quem era quando o deixei. Aliás, até precisei de fazer terapia para separar a minha personalidade da carreira. Porém, escrever ficção sempre foi a minha verdadeira paixão e, agora, acho que já não conseguia ser jornalista. Sinto que sou uma sortuda por fazer o que gosto.
Como é ser uma autora bestseller? Sente algum tipo de pressão?
Bem… eu não fui uma autora bestseller nos primeiros 10 anos da minha carreira literária, por isso, posso dizer que é muito melhor ser bestseller! [risos]. Mas não, não sinto pressão em termos de vendas, preocupo-me sim em não dececionar os meus leitores. Esforço-me muito para escrever um livro bom o suficiente para eles se sentirem satisfeitos ao terminá-lo.
Já teve algum bloqueio criativo? Recentemente falou de burnout numa entrevista...
Acho que nunca tive um bloqueio criativo de verdade. Nunca me aconteceu não conseguir escrever nada. Mas, em 2020, tive dificuldade em fazê-lo. O meu casamento tinha acabado de se desmoronar, a minha mãe estava a morrer, vivíamos uma pandemia. Essas coisas afetaram, como é normal, a minha imaginação. Foi a Lou Clark, a minha personagem de 'Viver Depois de Ti', que me ajudou a ultrapassar essa fase. Escrevi um conto sobre como ela lidou com o confinamento e isso fez-me voltar ao que era.
Também já falou em várias entrevistas da importância da terapia, não só a nível pessoal como para os seus livros. De que forma é que a terapia a ajuda a criar?
Acredito muito na importância da terapia. Quando uma pessoa é escritora, normalmente, interessa-se pela natureza humana e por aquilo que o ser humano faz. A terapia ajudou-me não só a entender as minhas próprias emoções e comportamentos, como a criar personagens de uma forma mais eficaz e realista. Acho que sou uma pessoa mais feliz e gentil devido à terapia.
Que mudanças fez na sua vida desde que passou por este quase burnout?
Não trabalho tanto! Não percebi que estava sobrecarregada porque adoro o meu trabalho. Mas era normal trabalhar 12h por dia. E tinha digressões frequentemente. Agora tenho uma vida mais tranquila, faço coisas que também me fazem bem. Faço exercício, estou com amigos, ando a cavalo e passeio com os meus cães. Ironicamente, descobri que escrevi o meu último livro muito mais rápido do que os anteriores. Pergunto-me se as coisas não estarão relacionadas.
Recentemente esteve em Lisboa a apresentar 'O Amor Mora Aqui'. Já tinha estado em Portugal? Como foi essa experiência na Feira do Livro da capital?
Portugal é um dos meus países favoritos. Visito Portugal três vezes por ano para montar a cavalo, num centro do Alentejo, e tento sempre passar, pelo menos, uma noite em Lisboa porque adoro a cidade. Mas há 10 anos que não participava em nenhum evento literário no vosso país e foi muito bom marcar presença na Feira do Livro de Lisboa e reencontrar os meus leitores portugueses. Foi uma experiência maravilhosa. Pretendo passar mais tempo em Portugal e estou já a aprender português para conseguir comunicar melhor quando aí vou. Obrigada!
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