A artista plástica Joana Vasconcelos inaugura no próximo sábado, no Museu de Artes Decorativas Portuguesas, em Lisboa, uma exposição inspirada na talha dourada do Barroco português.
A mostra 'Drag Race - A Transgressão do Barroco' estará patente no museu da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (FRESS), ao largo das Portas do Sol, em Lisboa, até ao próximo dia 30 de novembro.
A exposição centra-se na reinvenção de um carro desportivo, um Porsche Carrera, transfigurado com base na exuberância da talha dourada e dos coches setecentistas, numa abordagem de "liberdade e subversão".
"A FRESS propõe-se a mostrar a fabulosa viagem 'de trás para a frente' da criação da obra de arte de Joana Vasconcelos, partindo do resultado desconstruindo-o até à ideia inicial", afirma a Fundação em comunicado.
Joana Vasconcelos, além da talha dourada, inspirou-se igualmente "nos motivos marinhos do Mosteiro de Tibães [Braga], bem como na magnificência do Coche dos Oceanos, da coleção do Museu Nacional dos Coches".
Nesta obra de Vasconcelos, "o esplendor barroco das carruagens de D. João V, símbolo de um luxo teatral, entrelaça-se com a irreverência das plumas vermelhas, ícone de liberdade e subversão".
"O resultado é a reinvenção do Porsche 911 Targa Carrera, que renasce não apenas como objeto, mas como manifesto: a celebração da exuberância, da fantasia e a desconstrução do aparato institucional."
Para a concretização da obra, a artista plástica recorreu aos artífices da FRESS, entre outras artes da talha, da cinzelagem e do douramento, refere a fundação, na apresentação da mostra, realçando que esta é uma "afirmação das técnicas tradicionais portuguesas e da sua preservação, reunindo na mesma obra a tradição e a contemporaneidade."
Nas suas obras, Joana Vasconcelos tem recorrido a técnicas decorativas tradicionais portuguesas, desde as tapeçarias de Portalegre à azulejaria, às rendas da ilha do Pico e aos bordados de Nisa, à filigrana de Viana do Castelo e às faianças de Bordalo Pinheiro, entre outras.
Joana Vasconcelos, nascida em 1971, conta com uma carreira de mais de três décadas, que se caracteriza pela descontextualização de objetos do quotidiano e pela apropriação do artesanato tradicional, que adapta ao século XXI para questionar temas como o papel da mulher, a sociedade de consumo e a identidade cultural.
Vasconcelos representou oficialmente Portugal na Bienal de Arte de Veneza, em 2013, levando um cacilheiro transformado pela azulejaria ao recinto principal da mostra internacional contemporânea.
Foi a primeira artista mulher e a criadora mais jovem a apresentar o seu trabalho no Palácio de Versalhes, numa mostra individual que bateu recordes de visitantes, e tem levado a sua produção a instituições como o Museu Guggenheim Bilbao (Espanha), o Palácio Pitti e as Galerias Uffizi (Florença, Itália), entre outras.
Este ano inaugurou as exposições "Flamboyant", em Madrid, Espanha, "Flowers of my desire", em Ascona, Suíça, "Pavillon de Vin", em Brasília. No ano passado, entre outros projetos, levou "O Castelo das Valquírias" à Alemanha, "Valkyrie Liberty" ao The Armory Show em Nova Iorque, e "O Jardim do Éden" ao Museu do Côa, em Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda.
No Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, Joana Vasconcelos bateu novos recordes de visitantes com a exposição "Plug-In", somando perto de 300 mil entradas, entre 2023 e 2024.
Joana Vasconcelos, primeira artista a vencer o Prémio Novos Artistas Fundação EDP, em 2000, começou a expor na década de 1990, tendo o seu trabalho sido projetado internacionalmente em 2005, quando participou na Bienal de Veneza com a peça "A Noiva", um lustre monumental composto por tampões de higiene íntima feminina.
Em 2010, apresentou a exposição antológica "Sem Rede", no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, seguida da retrospetiva no Palácio Nacional da Ajuda, em 2013.
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