Um ator da companhia de teatro A Barraca foi agredido na noite de terça-feira por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para o espetáculo com entrada livre "Amor é fogo que arde sem se ver", de homenagem a Camões, disse a diretora da companhia, Maria do Céu Guerra.
O Teatro D. Maria II, "enquanto instituição artística, e perante o recrudescimento de ameaças à liberdade de expressão, [...] condena todas as formas de violência e tentativas de condicionamento dos direitos culturais de todas as pessoas e continuará a trabalhar comprometidamente na defesa da liberdade de criação e participação cultural como valor fundamental de uma sociedade democrática", lê-se na página oficial do teatro nacional.
A ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve também reagiu, expressando "solidariedade para com A Barraca Teatro, em particular com o ator Adérito Lopes, brutalmente agredido num ato cobarde de violência de cariz neonazi".
"É urgente travar a propagação do ódio e pôr fim às narrativas extremistas que ameaçam a liberdade, a arte e a dignidade humana", apela A Companhia de Teatro do Algarve.
De igual modo, a Federação Portuguesa de Teatro condenou "o ato de violência de que foram alvo os atores de A Barraca Teatro", expressando solidariedade.
A escola profissional Instituto para o Desenvolvimento Social (IDS), a cujo corpo docente pertence o ator Adérito Lopes, coordenador do curso de Ator/Atriz, publicou na rede social Instagram que "repudia a vil agressão cometida sobre o seu professor".
"O nosso docente, vítima de um grupo de criminosos motivados pelo ódio e pela violência, partilha os valores universais que o levaram, há quase uma década, a juntar-se ao IDS, por saber que, nesta Casa, a defesa dos valores humanistas, como a educação, a liberdade, a paz, a justiça, o respeito pelo outro, é parte integrante da nossa missão como Escola."
Em declarações à Lusa, a atriz Maria do Céu Guerra contou que a agressão ocorreu na terça-feira, por volta das 20:00, quando os atores estavam a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos.
Junto à porta, cruzaram-se "com um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
"Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara", afirmou a também encenadora, de 82 anos, que disse que o ator em causa teve de receber tratamento hospitalar.
A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, também repudiou hoje a agressão classificando-a de "atentado contra a liberdade de expressão, contra o direito à criação, contra os valores democráticos".
"A Cultura é um lugar de liberdade, nunca de medo. Repudio a agressão cobarde de que foram alvo os atores da companhia A Barraca", começou por escrever a ministra, sobre a agressão, na noite de terça-feira, em Lisboa, que levou a que um ator de A Barraca fosse hospitalizado com ferimentos no rosto.
Margarida Balseiro Lopes sublinhou: "Este ataque é um atentado contra a liberdade de expressão, contra o direito à criação, contra os valores democráticos que nos definem enquanto país. A Cultura não se intimida. Não recua. E não aceita ódio travestido de discurso político".
"Temos de garantir que artistas, técnicos e público podem participar plenamente na vida cultural, com segurança, respeito e dignidade", reforçou a governante, que dirigiu ao ator agredido e a toda a equipa da companhia a sua solidariedade, em particular à diretora artística Maria do Céu Guerra, "cujo papel na cultura portuguesa é inestimável".
Fonte da PSP disse à Lusa que, com as características do eventual suspeito fornecidas pelo ofendido e por um seu amigo, foram feitas várias diligências nas ruas adjacentes ao Largo de Santos, tendo sido possível localizar um homem com 20 anos, suspeito de ser o autor da agressão.
[Notícia atualizada às 16h47]
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