Eduarda Nogueira é uma atriz portuguesa radicada há dez anos na Escócia, que dirige a recém-criada companhia de teatro Voices Collective Company e que estreará "The Three Marias: Women of Word" no Festival Fringe, um dos mais relevantes festivais internacionais de artes de palco.
"Gostava de representar estas mulheres. Como portuguesa orgulhou-me muito. Decidi que seria uma boa história para ser contada e celebrada", afirmou Eduarda Nogueira em entrevista à agência Lusa.
"The Three Marias: Women of Word" ("As Três Marias: Mulheres de Palavra", em tradução livre) combina teatro documental, poesia e performance contemporânea e versa sobre a amizade entre as escritoras Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, e sobre o livro "Novas Cartas Portuguesas" (1972).
Com encenação de Wendy McEwan, a peça será interpretada por Eduarda Nogueira, Maria Barros e Isabella Dellazari Velarde.
Para Eduarda Nogueira, "Novas Cartas Portuguesas" é "um livro ultra feminista, combativo contra o regime" ditatorial e de costumes na sociedade portuguesa, mas que, meio século depois de ter sido publicado, ainda é pertinente nas questões que levanta.
"Hoje, mais do que nunca, os temas de género e de igualdade e o papel da mulher na sociedade... Claro que o livro foi escrito há 50 anos, mas eu acho que ainda hoje as perguntas que fazemos são as mesmas: Qual é o papel da mulher na sociedade? O que é isto de ser mulher? O livro não dá uma resposta exata. Os tempos estão a mudar, mas a pergunta ainda está lá", afirmou.
Sobre a estreia da peça no Fringe, Eduarda Nogueira diz que é a concretização de um sonho: "Sempre quis fazer uma peça no Fringe. Representar um pouco da cultura portuguesa com esta história extraordinária que, eu acho, une muito as pessoas. Eu acho que é um sonho", disse.
"The Three Marias: Women of Word" é também a primeira produção da Voices Collective Company, "uma companhia independente e multicultural sediada no Reino Unido, dedicada a dar palco a vozes femininas e a histórias que cruzam fronteiras linguísticas, culturais e políticas".
Eduarda Nogueira tem 40 anos e é natural de Vila Nova de Gaia. Emigrou há uma década para a Escócia, no Reino Unido, onde começou por trabalhar em hotelaria e restauração.
"Antes de vir para a Escócia já fazia teatro amador, sempre fiz algo, mas não fazia isto como profissão. Quando vim para cá não foi com esse intuito. Entretanto surgiu a oportunidade de estudar teatro, candidatei-me, fiquei e a partir daí acho que comecei a crescer mais e a achar que era possível", recordou Eduarda Nogueira.
Para a peça "The Three Marias: Women of Word", Eduarda Nogueira pesquisou e leu sobre a vida das três escritoras, procurou outras produções que já tenham sido feitas, mas acabou por decidir ela própria assinar a dramaturgia.
"Quando fiquei a saber mais [sobre o livro e a vida das autoras] perguntei-me como é que isto não se sabe mais, não se estuda nas escolas. Então foi essa a vontade de contar essa história e de honrar as escritoras", reforçou.
"The Three Marias: Women of Word" fará a estreia no Fringe, que está previsto de 01 a 25 de agosto, e depois a companhia teatral tenciona fazer circular o espetáculo.
Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, que ficaram conhecidas como "as três Marias", começaram a escrever as "Novas Cartas Portuguesas" em maio de 1971, inspiradas nas cartas de amor dirigidas a um oficial francês por Mariana Alcoforado, no século XVII.
A obra, que desafiou a ditadura e as convenções sociais vigentes na altura, afirmando o feminismo, contou ainda com a ajuda da escritora Natália Correia, a única editora que aceitou correr o risco de publicar o livro, e de Simone de Beauvoir, responsável pela sua divulgação internacional.
Nesse livro, que era um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril, as autoras denunciavam a guerra colonial, as opressões a que as mulheres eram sujeitas, um sistema judicial persecutório, a emigração e a violência fascista da ditadura.
Leia Também: "É um assunto que me é caro, é importante a legalização da eutanásia"