A cerimónia decorrerá no Ca'Giustinian, sede da Bienal de Veneza, onde serão divulgados os galardões para o certame internacional dedicado à arquitetura contemporânea, patente até 23 de novembro de 2025, nos Giardini, Arsenale e Forte Marghera, com mais de 750 participantes e 280 projetos, muitos deles com envolvimento multigeracional e interdisciplinar.
O Pavilhão de Portugal, instalado no edifício Fondaco Marcello, que teve uma pré-inauguração na quarta-feira, com uma performance do artista Jorge Queijo, apresenta oficialmente a concurso o projeto 'Paraíso. Hoje', composto por um Atlas com 700 imagens do território e uma instalação digital sensível aos movimentos dos visitantes.
O projeto é da autoria dos arquitetos Paula Melâneo, Pedro Bandeira e Luca Martinucci, e dos curadores-adjuntos Catarina Raposo e Nuno Cera, que responderam ao desafio lançado pelo tema proposto pelo curador-geral, Carlo Ratti - "Intelligens. Natural. Artificial. Collective" -, a pensar nas alterações climáticas e no seu impacto na vida das populações.
Ratti defende que existe uma "necessidade urgente" de se passar da fase de mitigação para a de adaptação às alterações climáticas e crescente população mundial, através soluções multidisciplinares e inclusivas.
Em resposta, os curadores do projeto da representação oficial portuguesa -- escolhidos no âmbito de um concurso aberto a todos os interessados -- criaram 'Paraíso. Hoje', com o objetivo de chamar a atenção para o potencial regenerativo da natureza e a mobilização da inteligência coletiva para encontrar soluções positivas.
No edifício da representação portuguesa, o projeto vai apresentar-se em dois eixos principais: o Atlas com as 700 imagens analógicas, que será transformado em livro, e uma instalação digital também composta por imagens que funcionam "como um jogo de espelhos e reagem aos movimentos dos visitantes, num simulacro do que pode ser o Paraíso, em constante mudança", indicaram os curadores numa apresentação em Lisboa, em abril.
No âmbito do processo de criação do projeto, os curadores lançaram um apelo nacional para o envio de propostas sobre o tema e receberam mais de 100 contributos, 36 deles selecionados para publicação no livro.
Para a recolha de imagens contribuíram também cerca de 30 fotógrafos, alguns por convite, incluindo, além do curador-adjunto Nuno Cera, também Paulo Catrica, Francisco Ascensão, Tiago Casanova e Duarte Belo, que tem vindo a retratar o território português nos últimos 40 anos.
No Pavilhão de Portugal está previsto decorrer hoje um debate em inglês, a partir das 09h30 (10h30 em Lisboa), sob o título 'Paradise, today?', com a participação de Catarina Raposo, Giovanna Borasi, Manon Mollard, Nuno da Luz, e moderação de Julia Albani.
Nesta bienal, a presença portuguesa também será marcada pelo envolvimento do arquiteto João Branco (do escritório Branco del Rio, em Coimbra), no Pavilhão de Espanha, que tem como tema 'Internalidades - Arquiteturas para o Equilíbrio Territorial'.
O pavilhão espanhol leva igualmente a marca da empresa portuguesa ArtWorks em dois dos seus projetos: uma estrutura em madeira de Carles Oliver + David Mayol, pensada para reduzir a pegada de carbono, e uma instalação visual dos curadores Manuel Bouzas e Roi Salgueiro Barrio, que explora o equilíbrio territorial com balanças, molduras e luzes LedNeon.
A ArtWorks, empresa sediada na Póvoa de Varzim, também participou no projeto Eco Folie, protótipo dos arquitetos chilenos Pedro Alonso e Pamela Prado, concebido para o deserto do Atacama, no Chile.
A 19.ª Bienal de Veneza de Arquitetura terá 66 participações nacionais em exposições nos pavilhões históricos dos Giardini (26), no Arsenale (22) e no centro da cidade (15), com quatro estreias: República do Azerbaijão, Sultanato de Omã, Qatar e Togo.
O Pavilhão do Vaticano na bienal tem como comissário o cardeal português Tolentino de Mendonça, com o tema 'Obra Aberta', descrito pelo próprio como "um convite à ação e à abertura para o mundo, focado na importância da construção de experiências sociais e culturais".
Os curadores são Marina Otero Verzier e Giovanna Zabotti, com projeto da arquiteta Tatiana Bilbao, e colaboração do coletivo catalão MAIO Architects.
Por seu turno, o Pavilhão do Brasil, localizado nos Giardini, intitula-se "Re(Invenção)". Tem como comissária Andrea Pinheiro, da Fundação Bienal de São Paulo, e como curadores Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco (Plano Coletivo), propondo uma reflexão sobre as conexões entre natureza e cidade, a importância das infraestruturas ancestrais e as suas possíveis ressignificações no Brasil contemporâneo.
Entre os mais de 280 projetos está também o brasileiro 'Terra Preta', com um grupo que reúne Nixiwaka Yawanawa, André Corrêa do Lago, Marcelo Rosenbaum, Fernando Serapião e Guilherme Wisnik, sobre a cooperação entre o conhecimento indígena e a investigação científica para criar soluções sustentáveis de habitação na Amazónia.
No programa fora de competição Bienal College Architettura 2024-2025, lançado no ano passado, e dirigido a estudantes e criadores emergentes com menos de 30 anos, foram selecionados oito projetos, entre eles um de Portugal, liderado por Rita Espinha Abreu Morais que, tal como os outros sete selecionados, recebeu uma bolsa de 20 mil euros para a realização do trabalho final.
Depois de ser apresentado em Veneza, o projeto 'Paraíso. Hoje' deverá ser exibido em Portugal, na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e em Matosinhos, na Casa da Arquitetura, em datas ainda a anunciar.
Leia Também: Dalila Rodrigues inaugura Pavilhão de Portugal em Veneza