Quatro anos depois do início do conflito, em março de 2011, as Nações Unidas lançaram a campanha #WhatDoesItTakes (O que será preciso), com a música 'A Sad Morning Every Morning' (Uma manhã triste todas as manhãs).
Foi a primeira peça que Azmeh conseguiu escrever após anos de bloqueio criativo devido ao choque causado por uma guerra que deixou mais de 6,8 milhões de pessoas deslocadas internamente.
"A Síria que eu conhecia talvez já não exista. As pessoas são diferentes, o que não é normal mesmo em tempos normais. É certamente de esperar num país que passou pelas atrocidades por que passou", disse o clarinetista em Hong Kong.
O programa dos dois concertos que Azmeh deu na região semiautónoma chinesa incluiu a música 'The Fence, the Rooftop and the Distant Sea' (A cerca, o telhado e o mar longínquo), escrita em Beirute, capital do Líbano.
"Se olhasse um pouco para norte, podia imaginar ver a costa síria. Por isso a Síria parecia muito próxima geograficamente, mas estava muito longe porque há cinco anos que não podia voltar a casa", recordou o compositor.
Mas Azemh sublinhou que esta música "não é só sobre saudades de casa, é sobre como as memórias coletivas podem manter um lugar vivo, mesmo que esse lugar já não exista".
Antes da guerra civil, a Síria era conhecida como um santuário para minorias religiosas e étnicas e Damasco como uma cidade "de certa forma cosmopolita, com música siríaca antiga, árabe, curda, arménia", disse o clarinetista.
"A música que estou a tentar fazer é o meu micro contributo para a cultura", referiu Azmeh.
Algo que levou também o compositor a escrever 'Songs for Days to Come' (Músicas para os dias por vir), uma ópera em árabe com obras de 15 poetas contemporâneos sírios, que estreou em 2022.
"Havia poemas que discutiam religião, política, sexualidade e tudo o mais. Temas que durante muito tempo não foram discutidos na esfera pública do país", sublinhou Azmeh.
"A ideia por trás da ópera era recriar a Síria através da lente dos seus poetas, (...) uma documentação do que aconteceu, mas também uma espécie de antevisão do que poderá ser o futuro", disse o clarinetista.
Com a guerra civil praticamente congelada desde 2019, Azmeh, radicado nos Estados Unidos há 23 anos e que, entretanto, se tornou um cidadão norte-americano, conseguiu finalmente regressar a Damasco.
O músico não perdeu a esperança de um dia voltar a viver na Síria, mas sublinhou que "muitas coisas precisam de acontecer antes que isso seja possível".
"Antes de eu ir para lá, isso tem de ser possível para todos. Para mim, isto é importante", disse Azmeh, numa referência aos cerca de cinco milhões de sírios que fugiram do país, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
O clarinetista permanece positivo, ainda que admita que "vivemos um momento complicado para ser otimista. Quer dizer, há um verdadeiro genocídio a acontecer", numa referência à ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, que já terá causado mais de 44 mil mortos.
"Mas as pessoas que se podem dar ao luxo de ser otimistas delirantes precisam de se agarrar a isso. Se o otimismo me faz trabalhar mais para mudar a realidade, então sou um otimista", disse Azmeh.
O conflito na Síria recrudesceu nos últimos dias, com forças rebeldes jihadistas a recuperarem o controlo de parte da cidade de Aleppo, de onde tinham sido expulsos em 2016 pelas tropas leais ao regime do Presidente, Bashar al-Assad.
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