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"Finalmente atrevo-me a escrever canções em português e adoro"

IAN regressa aos palcos nesta quarta-feira, bem como na próxima semana, com novo trabalho em mãos.

"Finalmente atrevo-me a escrever canções em português e adoro"
Notícias ao Minuto

10:00 - 08/03/23 por José Miguel Pires

Cultura IAN

Os palcos do Novo Ático (Coliseu do Porto), no Porto, e do Lux Frágil, em Lisboa, vão receber dois concertos de IAN, a artista de música eletrónica russa que adotou Portugal como seu lar há 20 anos, e que traz novo trabalho de estúdio em mãos.

O concerto do Porto é já nesta quarta-feira, rumando depois a violinista de profissão para Lisboa a 16 de março. O motivo? A apresentação do álbum 'I AM' ao público, três anos após a edição de 'RaiVera', o trabalho que lançou a violinista Ianina Khmelik, mais conhecida como IAN, a solo no Pop Eletrónico em Portugal.

Ao Notícias ao Minuto, IAN fala sobre as dicotomias entre Lisboa e o Porto, com os olhos (e ouvidos) de quem pensa em duas línguas diferentes. "Apenas a distância" separa as duas cidades na mente desta artista, garante. "Claro que o Porto tornou-se a 'minha' cidade, dado que vivo cá e trabalho na Casa da Música, mas tanto no Porto como em Lisboa tenho oportunidade de me apresentar em grandes salas", diz, vaticinando: "Adoro o Porto, mas também adoro Lisboa e não tenho dúvidas de que os concertos serão bem recebidos em ambas as cidades."

Se é certo que IAN adotou Portugal como seu lar há 20 anos, prestando serviço assíduo como violinista na Orquestra Sinfónica da Casa da Música, a Rússia é a sua pátria-mãe, e essa influência cultural - misturada com as influências em português - torna-se clara no seu trabalho musical, tanto a solo como em conjunto. "O conhecimento dos estilos musicais como fado ou música brasileira foi mais recente, já música eletrónica, música contemporânea, clássica, já por não falar em música russa do século XX que tanto aprendi na escola, vem desde muito cedo", afirma.

Para IAN, aliás, esta é uma influência que "se reflete na maneira de compor e construir canções". "Ainda há poucos dias refletia sobre o facto de as minhas canções serem muito cinematográficas. O facto de ter crescido com inverno muito mais rigoroso, com as questões sociopolíticas completamente distintas faz toda a diferença...", conta.

Portugal ensinou-lhe não só o fado, mas também uma nova ferramenta: a língua. "Aprendi uma língua rica e bonita. O português. É difícil e traiçoeiro! Ao fim de 20 anos, finalmente, atrevo-me a escrever canções em português e adoro", confessa.

'I AM', por entre palcos, um pós-pandemia e uma guerra a leste

Os concertos que se avizinham no calendário de IAN servem para apresentar aos públicos o seu novo trabalho de estúdio, 'I AM'. Na sua promoção, tanto em entrevistas como em comunicados e anúncios, uma palavra se repete: 'Esperança'.

"Um ser humano é uma máquina muito complexa... por vezes sentimos fúria, euforia, tristeza, alegria, mas um dos sentimentos mais valiosos para mim é o da esperança. Essa está sempre presente em mim. Esperança e vontade de fazer melhor, acreditar e não desistir. Tenho esperança no bom senso, esperança na paz...", acena IAN, que desenhou este álbum ainda durante o período pandémico.

"A fase da pandemia foi muito estranha e desafiante para todos nós... de repente, alterar todos os costumes foi no mínimo constrangedor", admite IAN que, no entanto, reconhece: "Para mim, tirando os meus entes queridos claro, tinha o violino, o piano, o computador, tinha tudo em casa para continuar feliz... portanto continuei a trabalhar, a tocar."

Aos primeiros sinais de melhoria, IAN saltou para canções feitas a pensar na dança, na libertação e em "como iria ser feliz ao voltar a tocar para as pessoas e viver todas as emoções de uma vida fora de portas e das redes sociais".

Depois da pandemia, no entanto, não veio a bonança, mas sim uma guerra no leste da Europa espoletada pela invasão russa da Ucrânia. Uma realidade da qual tanto cidadãos ucranianos como russos têm dificuldade em fugir, e que muito afeta as suas vidas. "A alegria do pós-Covid durou pouco, a guerra na Ucrânia trouxe para mim o sentimento da revolta e de dor mesmo... antes da pandemia, eu tinha assinado com uma 'label' russa, obviamente ficou tudo cancelado pela minha parte e também por parte dos donos da 'label', porque tiveram de sair do país", conta a artista.

IAN faz questão de afirmar a sua posição relativamente ao conflito: "Há muitos que como nós não se conformavam com a política da repressão presente neste momento. A guerra não só fechou as portas ao possível futuro, como também a um passado. Fechou as portas à minha infância, a algumas boas memórias e vivências que ainda lá tinha."

Do violino à Pop Eletrónica

IAN é, em si, um ponto de encontro musical. Por um lado, temos a violinista clássica, membro de orquestra, e por outro uma artista eclética, forte na música eletrónica, feita, à falta de melhor expressão, 'para abanar o esqueleto'. As duas faces são, no entanto, "conciliadas perfeitamente".

"Em palco é essa uma das pedras basilares do meu espetáculo... claro que a sonoridade do violino não é a mesma de uma guitarra elétrica ou a maneira de tocar e incluir piano no espetáculo é diferente", defende, aproveitando para convidar o público a "conhecer e ouvir essas diferenças".

O palco, promete IAN, seja o do Novo Ático, nesta quarta-feira, ou o do Lux Frágil, a 16 de março, "será uma amálgama harmoniosa de violino, piano, eletrónica, vídeo e bateria que usarei pela primeira vez a acompanhar-me".

Leia Também: IAN e Luca Argel apresentam novos discos em março no Coliseu Porto Ageas

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