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Morreu o escritor, ensaísta e tradutor alemão Hans Magnus Enzensberger

O escritor e tradutor alemão Hans Magnus Enzensberger, vencedor do Prémio Príncipe das Astúrias 2002 de Comunicação e Humanidades, que revelou Fernando Pessoa no seu país, morreu na quinta-feira, em Munique, aos 93 anos, anunciou hoje a editora Suhrkamp.

Morreu o escritor, ensaísta e tradutor alemão Hans Magnus Enzensberger
Notícias ao Minuto

15:51 - 25/11/22 por Lusa

Cultura Óbito

"Como poeta, ensaísta, biógrafo, editor e tradutor, foi um dos intelectuais mais influentes e mundialmente conhecidos da Alemanha", disse a editora.

Responsável pela primeira antologia a incluir Fernando Pessoa, publicada na Alemanha, na década de 1960, Enzensberger manteve uma ligação com Portugal que remonta a 1975, e que traduziu em diversos textos, como o ensaio "O prazer de ser triste", incluído no volume "Europa, Europa" (1987).

Ao longo da vida, Enzensberger foi várias vezes distinguido, nomeadamente com o Prémio Hugo Jacobi, em 1956, o Prémio da Crítica, em 1962, o Prémio Georg Büchner, em 1963, o Prémio Etna Taormina, em 1967, o Prémio Pasolini, em 1982, e o Prémio Heinrich Boll, em 1985.

Nascido a 11 de novembro de 1929, na Baviera, Enzensberger serviu no exército alemão entre 1944 e 1945, tendo trabalhado depois como tradutor e 'barman'.

Estudou literatura, línguas e filosofia em Friburgo e Paris.

Em 1955 recebeu o doutoramento com uma tese sobre a teoria poética do escritor romântico Clemens Brentano e, em 1957, publicou o seu primeiro livro, uma coleção de poemas intitulada "Verteidigung der Wölfe" ("Defendendo os Lobos", em tradução livre).

É autor de várias dezenas de obras, entre as quais "Perspetivas da Guerra Civil", "O diabo dos números", "Mausoléu", "O homem do terror" e "66 poemas", editadas em Portugal.

A sua primeira antologia poética em português surgiu em 1975, por iniciativa do escritor Almeida Faria, que recolheu o essencial da poesia do escritor alemão, na época, sob o título "Poemas Políticos", para as Publicações Dom Quixote.

A edição deste volume trouxe Enzensberger a Portugal, que participou na altura em diversos encontros e sessões de dinamização. Regressaria em 1988, quando um concerto dedicado a Gustav Mahler daria origem, dois anos mais tarde, ao poema "4.ª Sinfonia, Coliseu dos Recreios, Lisboa", no livro "Zukunftsmusik" ("Música do futuro", em tradução literal), onde as imagens da obra orquestral, se cruzam com as de 'vaudeville', cervejarias, cabarets e bingos, da Rua das Portas de Santo Antão. Em 1996, Enzensberger voltou a Lisboa para novos encontros com escritores e público.

Em 2019, o escritor Alberto Pimenta regressou ao universo de Enzensberger recolhendo "66 Poemas", com a chancela das Edições do Saguão.

Entre as traduções de Almeida Faria e de Alberto Pimenta, Portugal teve a possibilidade de aceder a uma das mais importantes e referenciadas obras de Enzensberger, "Mausoléu - A história do progresso em 37 baladas", com tradução de João Barrento (Livros Cotovia).

Foram ainda publicados em Portugal outros títulos como "Vinte e três poemas", traduzidos por Vasco Graça Moura (Oiro do Dia), "Perspectivas da guerra civil" (seguido de "A grande migração", na Relógio d'Água), "O homem do terror" (Salamandra), "O diabo dos números: um livro de cabeceira para todos os que têm medo da matemática" e "Por onde tens andado, Roberto?" (Asa).

Antes, mesmo em tempo de ditadura, a Moraes Editores avançara já o pensamento de Enzensberger com "Anatomia social do crime" (1968).

O escritor alemão surge igualmente no prefácio de "Brevíssima relação da destruição das Índias", de Bartolomé de Las Casas (Antígona).

Os ensaios, poemas e romances de Hans Magnus Enzensberger constituem uma forte crítica à burguesia alemã, ao imperialismo americano e ao capitalismo como sistema autofágico.

Para o escritor, a noção de Europa, na diversidade, na multiplicidade cultural, além de tratados, comunidades e mercados comuns, constituía uma ideia de uma possibilidade, um derradeiro reduto.

Membro do "Grupo 47", que reunia autores como Paul Celan (primeiro tradutor de Pessoa em alemão, em 1956) e Gunter Grass, que arriscavam ir além da visão dominante na Alemanha do pós-guerra, editou a revista literária Kursbuch, de 1965 a 1975. Entre 1980 e 1982, editou a revista mensal Transatlantik.

Em fevereiro de 1989, foi um dos 22 jornalistas da Alemanha Ocidental que apelou ao governo de Bona para exercer pressão económica sobre o Irão, no sentido de retirar as ameaças de morte contra Salman Rushdie, autor do romance "Versículos Satânicos".

Em 2003, relançou também o testemunho anónimo "Uma Mulher em Berlim", que descreve as numerosas violações cometidas por soldados soviéticos, durante a sua tomada da capital alemã, no final da II Guerra Mundial. Esquecido após a sua primeira publicação, em 1954, e recebido de forma glacial na Alemanha, este poderoso testemunho tornou-se um 'bestseller' após a sua republicação.

Em maio de 2002, recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias para a Comunicação e as Humanidades.

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