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'A.N.T.Í.G.O.N.A' estreia-se no Porto com olhar sobre texto de Sófocles

A peça "A.N.T.Í.G.O.N.A", de Gonçalo Amorim, estreia-se na quarta-feira no Teatro Carlos Alberto, no Porto, e lança um novo olhar sobre o texto de Sófocles, contando a história de um "coletivo de ativistas multidisciplinar" que conseguiu acabar com o capitalismo.

'A.N.T.Í.G.O.N.A' estreia-se no Porto com olhar sobre texto de Sófocles
Notícias ao Minuto

20:25 - 14/09/20 por Lusa

Cultura Teatro

Numa altura em que se eleva uma nova vaga feminista e a democracia, cidadania, justiça e direitos humanos geram manifestações por todo o mundo, procurando vencer poderes enraizados e patriarcais, evocar "Antígona" - tragédia grega de Sófocles composta por volta de 442 antes de Cristo - é transportar o público para uma história de resistência, disse hoje à Lusa o encenador Gonçalo Amorim, na sequência de um ensaio de imprensa.

"Mulher tem sempre coisas para estender. Estender a roupa ou estender a massa para os rissóis, mas estender as pernas só quando já tem varizes", ouvia-se em palco, numa condenação à ideia de que as mulheres é que devem fazer as tarefas domésticas.

Logo depois, reforça-se a mensagem de que "toda a mulher sonha com o esvaziar de funções".

Através de um novo olhar e com um "cunho polissémico", o espetáculo, complementado com um espaço expositivo no 'foyer' do teatro por registos de 'sound art', 'perfinst', imagem-movimento e instalação, explora estes temas que ressurgem, "urgentes", na ordem do dia, afirmou Gonçalo Amorim.

"É um regresso à história, muito por força do que sentimos e vivemos atualmente", frisou.

E sobre os tempos atuais, nomeadamente a pandemia da covid-19, Gonçalo Amorim adiantou que esta "clarificou" algumas ideias da peça, especialmente as questões da ética, moral, respeito pelo outro ou justiça.

Outra das dimensões que a pandemia deixou "mais latente", e que é abordada na peça, é o valor do corpo morto, designadamente o valor que cada cultura dá ao ato de enterrar os seus mortos.

Desde o confinamento, em março, que os funerais em Portugal sofreram alterações, nomeadamente no número de participantes e nos moldes destas cerimónias.

Gonçalo Amorim referiu que a "A.N.T.Í.G.O.N.A" é uma "resgaturgia e transdeleitura", ou seja, o "resgate" de vários materiais textuais em torno de "Antígona" (reescritas, ensaios, aproximações), sobretudo os de George Steiner, Judith Butler, Slavoj iek e María Zambrano, mas também os de Sara Uribe, Eduarda Dionísio, Júlio Dantas, Jean Anouilh ou António Pedro.

E, à volta de todas estas matérias, construiu-se uma ficção que gira à volta de um grupo de artistas, ativistas com multifunções e multitarefas, que ocupam o Teatro Carlos Alberto e o usam para vender obras de arte a pessoas "muito ricas", dinheiro que depois usam nas suas ações revolucionárias, explicou o encenador.

Em cena até sábado, "A.N.T.Í.G.O.N.A", que resulta de uma coprodução do Teatro Experimental do Porto e Teatro Nacional São João, será complementada com uma conversa informal, na sexta-feira, numa atividade orientada por Jorge Louraço Figueira.

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